|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GP da Indy em SP reabre antiga ferida
Grave acidente, envolvendo uma francesa e um brasileiro, marcou última grande prova de rua na capital paulista, em 1936
GP Cidade de São Paulo,
que foi visto por 100 mil
espectadores, foi dominado
por italianos e terminou
com seis mortos e 34 feridos
ANDREI SPINASSÉ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quase 74 anos antes de a
Indy realizar uma corrida de
rua em São Paulo, uma prova
urbana mobilizou a capital
paulista e teve um fim trágico.
Foi disputado em 12 de julho de
1936 o GP Cidade de São Paulo,
a última grande competição
desse tipo com a participação
de famosos pilotos internacionais de que se tem registro.
Muito atrás nas disputas automobilísticas do Rio, que desde 1933 tinha o Circuito da Gávea, São Paulo não realizava
corridas havia algum tempo.
Foi por isso que a prefeitura
paulistana decidiu promover o
GP Cidade de São Paulo. A ideia
era que os pilotos que participavam do Circuito da Gávea
corressem no Jardim América.
Nos preparativos da prova
foram adquiridos 8.000 m de
cordas, para separar carros de
espectadores, e montadas arquibancadas para 7.000.
Seis pilotos que haviam corrido no Rio competiram: os italianos e ferraristas Carlo Pintacuda e Attilio Marinoni, a francesa Mariette Hélène Delangle,
a Hellé Nice, ex-dançarina e
acrobata, e três argentinos.
Entre os brasileiros estavam
Manoel de Teffé e Francisco
Landi, mas com carros inferiores aos dos estrangeiros.
Atual presidente da Federação de Automobilismo de São
Paulo, Rubens Carpinelli, 82, 8
à época, viveu intensamente
aqueles momentos. "Na escola
só se falava na corrida."
A pista montada no Jardim
América tinha 4.250 m, longas
retas seguidas de "cotovelos" e
60 voltas. Na avenida Brasil ficavam torre de cronometragem, tribuna e arquibancadas.
A organização limitou em 20
o número de pilotos e o grid foi
definido por sorteio. Por regulamento, os carros deveriam
ser pintados com as cores do
país de cada competidor.
Rubens Carpinelli, professor
de matemática de Emerson
Fittipaldi na escola, morava em
Pinheiros e foi a pé com seu pai.
"Os bondes que serviam aquela
região passavam lotados horas
antes. Todos temiam não achar
um bom lugar nas calçadas
-nenhum era marcado."
Os carros largaram às 9h30
para um público de 100 mil.
"Todos foram para ver uma novidade, algo que não imaginavam poder ver em São Paulo."
Como já era esperado, Pintacuda disparou na frente e teve
tempo de fumar cigarros durante paradas para reabastecimento e ajudar seu companheiro Marinoni, que havia rodado,
empurrando-o com seu próprio Alfa Romeo. Às 11h57, a
dobradinha foi confirmada.
Na reta final, Hellé Nice e
Teffé disputavam a terceira posição, e o brasileiro estava à
frente. A francesa tentava a todo custo a ultrapassagem, mas
foi surpreendida por um obstáculo e freou bruscamente. Há
duas versões: um fardo de alfafa
foi jogado à sua frente ou um
homem atravessou a pista.
Ela bateu num volume de alfafa, foi lançada ao ar e salva por
um soldado. "Ficou um clima
de desolação", falou Carpinelli.
Após o acidente, uma multidão invadiu a pista, e os outros
pilotos evitaram uma tragédia
de proporções ainda maiores.
Como saldo, seis pessoas morreram e 34 ficaram feridas.
Ainda houve, em 1949, uma
prova no Pacaembu, mas sem a
participação de estrangeiros.
Texto Anterior: Copa da Liga Inglesa: Rooney sai do banco para decidir final Próximo Texto: F-1: Hamilton coloca McLaren na ponta no último dia de treinos Índice
|