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São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2003

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FUTEBOL

Carta aberta ao torcedor

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Prezados leitores desse prestigioso jornal, quero aproveitar o espaço gentilmente cedido pelo cronista titular desta coluna para fazer duas coisas: Antes, um exame de minha atuação frente à CBF; depois, uma revelação.
Comecemos pelo exame:
Todos sabem que não cheguei à presidência da Confederação Brasileira de Futebol graças à aclamação da crítica ou à imposição da torcida. Na verdade, meu mérito era ser parente daquele que, por décadas, comandou o futebol no país e no mundo, o egrégio senhor João Havelange. Este início nepotista e os fatos seguintes confirmam o velho ditado popular: "Pau que nasce torto morre torto".
Nesse período, como é do conhecimento geral, estive no comando do futebol e da seleção do país. Os puxa-sacos aqui da CBF (eles estão em toda parte) gostam de lembrar que foi na minha gestão que a seleção ganhou duas Copas do Mundo. Eu rio com o canto da boca, fingindo que concordo, mas no fundo sei que quem ganha ou deixa de ganhar as Copas são os jogadores. Nós, os cartolas, quando muito não atrapalhamos.
Foi um erro, eu sei, a maneira como evitei a investigação dos funcionários da alfândega quando da volta da seleção em 1994. Os jogadores tinham conquistado um título importante e colaborado para resgatar a auto-estima do povo, mas isso não fazia deles (e nem de mim) cidadãos acima das leis. Na época, me senti esperto e poderoso, hoje me sinto um pouco envergonhado.
Meu mandato, porém, não se limitou à seleção, ele estendeu seus tentáculos sobre os clubes e federações estaduais, e é aí, creio, que o meu remorso se torna mais contundente.
Nesses anos, tivemos torneios inchados, tabelas estapafúrdias, regulamentos estúpidos, sobreposição de datas, desprezo absoluto pelas regras de descenso e os mais variados tipos de virada de mesa. Temo que esse legado de desorganização custará a ser superado.
Poderia ainda citar casos de favorecimento, como empréstimos mal explicados em bancos do exterior e aquele meu amigo que foi pago regiamente apenas para redigir um contrato, mas o espaço é curto e preciso fazer logo a revelação anunciada acima: Leitores, isto é uma carta de demissão.
Sim, uma carta de demissão em caráter definitivo e irrevogável. Já fiquei tempo demais na cadeira de presidente da CBF e, todos sabemos, a permanência excessiva de um mesmo homem, ou grupo, no poder traz muitos vícios e aprofunda os erros de origem.
É chegada a hora de o futebol brasileiro ser administrado de maneira profissional, com metas de racionalidade, obediência aos contratos e novas formas de vigilância da sociedade. Só assim teremos, além de conquistas, também a consciência de que estamos fazendo as coisas de maneira mais correta e eficiente.
Desejando mais sorte ao meu sucessor, aqui me despeço, Ricardo Teixeira.
PS: Aos leitores que piamente acreditaram nas palavras acima, lembro que hoje é o dia 1º de abril.

Oeste
E o valente Oeste, de Itápolis, é o lídimo campeão da A-2 do Paulista. Agora os grandes da capital terão de viajar 360 km e aguentar a pressão da torcida no estádio Picardão. Trocadilhos à parte, não vai ser mole!

Preces
Nem tudo está perdido para o Atlético Sorocaba, vice da A-2, que jogará uma repescagem contra o Botafogo. O time do reverendo Moon só espera que esse fogo que vem pela frente não seja o fogo do inferno.

Faixas
As faixas que as torcidas organizadas do Santos espalham pelos alambrados da Vila Belmiro atrapalham, e muito, a visão dos outros torcedores. É estranho tamanho desrespeito com irmãos de fé.

E-mail torero@uol.com.br


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