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FUTEBOL
Carta aberta ao torcedor
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Prezados leitores desse prestigioso jornal, quero aproveitar o espaço gentilmente cedido pelo cronista titular desta coluna
para fazer duas coisas: Antes, um
exame de minha atuação frente à
CBF; depois, uma revelação.
Comecemos pelo exame:
Todos sabem que não cheguei à
presidência da Confederação
Brasileira de Futebol graças à
aclamação da crítica ou à imposição da torcida. Na verdade, meu
mérito era ser parente daquele
que, por décadas, comandou o futebol no país e no mundo, o egrégio senhor João Havelange. Este início nepotista e os fatos seguintes confirmam o velho ditado popular: "Pau que nasce torto morre torto".
Nesse período, como é do conhecimento geral, estive no comando
do futebol e da seleção do país. Os puxa-sacos aqui da CBF (eles estão em toda parte) gostam de lembrar que foi na minha gestão
que a seleção ganhou duas Copas
do Mundo. Eu rio com o canto da
boca, fingindo que concordo, mas
no fundo sei que quem ganha ou
deixa de ganhar as Copas são os
jogadores. Nós, os cartolas, quando muito não atrapalhamos.
Foi um erro, eu sei, a maneira
como evitei a investigação dos
funcionários da alfândega quando da volta da seleção em 1994. Os
jogadores tinham conquistado
um título importante e colaborado para resgatar a auto-estima do
povo, mas isso não fazia deles (e
nem de mim) cidadãos acima das
leis. Na época, me senti esperto e
poderoso, hoje me sinto um pouco
envergonhado.
Meu mandato, porém, não se limitou à seleção, ele estendeu seus
tentáculos sobre os clubes e federações estaduais, e é aí, creio, que
o meu remorso se torna mais contundente.
Nesses anos, tivemos torneios
inchados, tabelas estapafúrdias,
regulamentos estúpidos, sobreposição de datas, desprezo absoluto
pelas regras de descenso e os mais
variados tipos de virada de mesa.
Temo que esse legado de desorganização custará a ser superado.
Poderia ainda citar casos de favorecimento, como empréstimos
mal explicados em bancos do exterior e aquele meu amigo que foi
pago regiamente apenas para redigir um contrato, mas o espaço é
curto e preciso fazer logo a revelação anunciada acima: Leitores,
isto é uma carta de demissão.
Sim, uma carta de demissão em
caráter definitivo e irrevogável. Já
fiquei tempo demais na cadeira
de presidente da CBF e, todos sabemos, a permanência excessiva
de um mesmo homem, ou grupo,
no poder traz muitos vícios e
aprofunda os erros de origem.
É chegada a hora de o futebol
brasileiro ser administrado de
maneira profissional, com metas
de racionalidade, obediência aos
contratos e novas formas de vigilância da sociedade. Só assim teremos, além de conquistas, também a consciência de que estamos
fazendo as coisas de maneira
mais correta e eficiente.
Desejando mais sorte ao meu
sucessor, aqui me despeço, Ricardo Teixeira.
PS: Aos leitores que piamente
acreditaram nas palavras acima,
lembro que hoje é o dia 1º de abril.
Oeste
E o valente Oeste, de Itápolis, é
o lídimo campeão da A-2 do
Paulista. Agora os grandes da
capital terão de viajar 360 km e
aguentar a pressão da torcida
no estádio Picardão. Trocadilhos à parte, não vai ser mole!
Preces
Nem tudo está perdido para o
Atlético Sorocaba, vice da A-2,
que jogará uma repescagem
contra o Botafogo. O time do
reverendo Moon só espera que
esse fogo que vem pela frente
não seja o fogo do inferno.
Faixas
As faixas que as torcidas organizadas do Santos espalham
pelos alambrados da Vila Belmiro atrapalham, e muito, a visão dos outros torcedores. É estranho tamanho desrespeito
com irmãos de fé.
E-mail torero@uol.com.br
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