|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Por justiça, essa final era nossa
AMÍLCAR CASADO
especial para a Folha
Durante alguns segundos,
quando acordei na manhã de
segunda, pensei que tudo não
havia passado de um pesadelo.
Pensei que não havíamos sido
esbulhados no Morumbi, que
não tinha havido pênalti e que
a Lusa, com toda justiça e merecimento, estava nas finais do
Campeonato Paulista.
Mas logo fui despertado por
uma terrível dor de cabeça,
consequência da noite maldormida. E veio aquela sensação de vazio -a mesma que
nos acomete quando perdemos
um ente querido. Não estamos
mais no campeonato. Neste
campeonato, nunca mais.
Aí, lembrei-me do choro explícito e/ou contido. Explícito
nos soluços do zagueiro César,
abraçado ao volante Alex;
contido nas caretas que Evair
fazia para não chorar. O experiente Evair! No olhar incrédulo dos companheiros que, ainda no vestiário, andavam para
lá e para cá, perdidos.
Havia revolta, havia sim.
Mas, mais do que revolta, havia estupefação. Como pôde
aquele juizinho de queixo erguido, como são todos os petulantes, ter nos tirado da final?
Um simples apito, o queixo
apontado para cima, o olhar
distante de quem não está nem
aí. Acabando com um sonho.
Não foi à toa que a Lusa chegou às semifinais. Há quatro
anos, nós estamos chegando. É
o resultado de um trabalho
meticuloso, sério, que envolve
pessoas sérias.
Não morremos na praia, como dizem. Morreram aqueles
que ficaram para trás da Lusa.
Nós morremos por obra e graça de um juiz ou incompetente
ou mal-intencionado.
Acionamos nosso departamento jurídico e corremos
atrás de nossos direitos.
Mas quais são os nossos direitos? A lei do futebol é dura e
concede ao juiz o poder supremo, colocando-o acima do
bem e do mal.
Ficou a lição de garra, de determinação, de amor à camisa
que nossos atletas mostraram.
Isso nos enche de orgulho
-diretores e torcedores. Poucas vezes se viu tamanha demonstração de amor, já que
muitos atletas acham que, para ser profissionais, precisam
ser frios, distantes.
E todos nós reconhecemos isso. Nosso patrocinador -a
distribuidora de combustível
Salemco- prometera 12 carros aos atletas caso conseguissem o título. Ela entregou os
carros porque entendeu que só
não chegamos ao título por
causa daquele juiz. A diretoria
também entendeu assim e premiou os jogadores como se tivessem se classificados à final.
O Brasil inteiro entendeu assim, pois os telefonemas e faxes
da Lusa não pararam de tocar.
Foi uma comoção nacional.
Com toda certeza, crescemos
mais nessa tragédia. Pode estar certo o nosso associado, o
nosso torcedor: a Lusa cresceu.
Seremos respeitados e tratados como grandes de agora para a frente. Afinal, nunca na
história do futebol brasileiro
houve um evento que unisse
todos os torcedores dos clubes,
como neste episódio.
Todos os torcedores, independentes do time de preferência, se solidarizaram conosco.
Crescemos, sim, e falo sem medo de errar: a Lusa é grande,
muito grande.
Quanto à final do Paulista,
entre São Paulo e Corinthians,
eu poderia dizer: que vença o
melhor. Mas não vou dizer,
não. O melhor não estará lá.
Amílcar Casado é presidente da Lusa
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|