São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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FUTEBOL

Sensação do torneio, time mostra evolução e pode assumir a liderança

Boom venezuelano almeja a ponta das eliminatórias

ALEXANDRE PETILLO
ODERSIDES ALMEIDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O clichê é batido, mas fundamental no momento: no futebol de hoje, não existe mais adversário fraco. A Venezuela, que por mais de três décadas foi esmagada em todas as competições, sendo alvo de chacotas, apresenta evolução surpreendente. O time ocupa a quarta colocação nas eliminatórias, tem o mesmo número de pontos que o Brasil e pode assumir a liderança hoje -basta vencer o Chile em casa e torcer para o Paraguai não bater a Bolívia fora.
O último que subestimou a força venezuelana foi o Uruguai. Perdeu por 3 a 0, em pleno estádio Centenário, em Montevidéu. No dia anterior, uma emissora de TV uruguaia fez anúncio provocador mostrando uma mesa de pebolim com só um time. No canto, lia-se a inscrição: "Venezuela não existe".
"Aquilo mexeu conosco, com o nosso brio. Entramos em campo dispostos a devolver os 36 anos de humilhação que passamos", conta o técnico Richard Páez.
O que era utopia para o próprio treinador e seu elenco já passa a ser um objetivo não tão distante. A Venezuela vem de três vitórias consecutivas, duas fora (1 a 0 na Colômbia e 3 a 0 no Uruguai) e uma em casa (2 a 1 na Bolívia).
"Nosso sonho está cada vez mais real. Está mais palpável. Estamos conseguindo bons resultados e acredito que teremos mais", acredita Páez, que já colocou a Venezuela entre as 50 melhores seleções do mundo, segundo o ranking da Fifa -49ª posição.
Páez valoriza o bom conjunto do time, não citando um jogador como destaque. Mas o craque é o meia-atacante Juan Arango, 23, que joga no Puebla, do México. Ele é apontado como o melhor jogador que já defendeu a "Vinotinto" (o apelido da seleção venezuelana vem da cor roxa da camisa).
Páez utiliza um esquema tático bem defensivo, com apenas um atacante natural. O esquema varia entre um 4-2-3-1 e um 4-5-1 (como entrou contra o Uruguai).
Arango é o único meia com liberdade total para atacar, mas não está dispensado da marcação.
O meio-campo é o ponto forte do time, que tem dois marcadores donos de bons passes: Ricardo David Páez (filho do técnico) e Urdaneta. O único atacante também varia. Páez ainda não decidiu pelo titular absoluto e já testou Rondón, Noriega ou Morán.
A vitória sobre o Uruguai foi o incentivo que faltava. Pouca gente acreditava no triunfo. Na chegada ao país, os jogadores, acostumados com o anonimato, ficaram assustados com o número de torcedores. A federação local teve que contratar uma empresa de segurança para garantir o trânsito da delegação. O Uruguai nunca tinha perdido por três gols de diferença em casa em jogo oficial. A vitória foi chamada de "Centenariazo", alusão ao "Maracanazo", quando os uruguaios venceram a Copa de 1950 no Maracanã.
"O maior passo evolutivo do futebol venezuelano aconteceu com a contratação de Richard Páez. Ele é um homem que jogou na seleção e sofreu goleadas, foi humilhado. Ele sabe falar para os jogadores e fazê-los entender que, não importando qual seja o rival, a seleção pode sair e mostrar seu jogo. Ele também conta com um psicólogo, que ajudou o time a mentalizar que pode conseguir ganhar em campo", explica Jose de Bastos, colunista do site "A Ritmo de Gol" e autoproclamado "o mais fanático torcedor da Venezuela".
A evolução aconteceu devido ao investimento pesado de algumas empresas locais. A principal mantenedora da infra-estrutura do selecionado venezuelano é a Polar, maior empresa privada do país -comercializa as marcas da Pepsi e da cerveja Polar.
Em menor escala, também financiam o time a emissora de televisão RCTV (além de patrocinar, comprou a exclusividade das transmissões), as telefônicas CANTV e Movilnet e a fábrica de produtos nutricionais Metamax.
"Comodidades, como ter avião próprio e boas instalações para concentração, são normais em outros países, mas na Venezuela isso é novidade. A seleção, com as vitórias, virou uma máquina de fazer dinheiro. A cada jogo são vendidos inúmeros gorros, bandeiras e camisetas", diz Bastos.
O investimento também visa reforçar o interesse pelo campeonato nacional. Quatro dos sete últimos campeões fecharam as portas (Marítimo, Minerven, Atlético Zulia e Nacional Táchira). A média de público nos jogos não passa de mil pagantes. O futebol é o terceiro esporte na Venezuela, atrás do beisebol e do basquete.
Na Libertadores, o país cumpriu bom papel. O Deportivo Táchira chegou às quartas-de-final. A boa campanha do time e a inédita fase da seleção serviram de armas para o governo. O presidente Hugo Chávez usa vitórias para exaltar o "espírito guerreiro do povo venezuelano". Ele promete total apoio para a Copa América no país, em 2006.


NA TV - Venezuela x Chile, ao vivo, às 20h , na ESPN Brasil


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