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FUTEBOL
Sensação do torneio, time mostra evolução e pode assumir a liderança
Boom venezuelano almeja a ponta das eliminatórias
ALEXANDRE PETILLO
ODERSIDES ALMEIDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O clichê é batido, mas fundamental no momento: no futebol
de hoje, não existe mais adversário fraco. A Venezuela, que por
mais de três décadas foi esmagada
em todas as competições, sendo
alvo de chacotas, apresenta evolução surpreendente. O time ocupa
a quarta colocação nas eliminatórias, tem o mesmo número de
pontos que o Brasil e pode assumir a liderança hoje -basta vencer o Chile em casa e torcer para o
Paraguai não bater a Bolívia fora.
O último que subestimou a força venezuelana foi o Uruguai. Perdeu por 3 a 0, em pleno estádio
Centenário, em Montevidéu. No
dia anterior, uma emissora de TV
uruguaia fez anúncio provocador
mostrando uma mesa de pebolim
com só um time. No canto, lia-se a
inscrição: "Venezuela não existe".
"Aquilo mexeu conosco, com o
nosso brio. Entramos em campo
dispostos a devolver os 36 anos de
humilhação que passamos", conta o técnico Richard Páez.
O que era utopia para o próprio
treinador e seu elenco já passa a
ser um objetivo não tão distante.
A Venezuela vem de três vitórias
consecutivas, duas fora (1 a 0 na
Colômbia e 3 a 0 no Uruguai) e
uma em casa (2 a 1 na Bolívia).
"Nosso sonho está cada vez
mais real. Está mais palpável. Estamos conseguindo bons resultados e acredito que teremos mais",
acredita Páez, que já colocou a
Venezuela entre as 50 melhores
seleções do mundo, segundo o
ranking da Fifa -49ª posição.
Páez valoriza o bom conjunto
do time, não citando um jogador
como destaque. Mas o craque é o
meia-atacante Juan Arango, 23,
que joga no Puebla, do México.
Ele é apontado como o melhor jogador que já defendeu a "Vinotinto" (o apelido da seleção venezuelana vem da cor roxa da camisa).
Páez utiliza um esquema tático
bem defensivo, com apenas um
atacante natural. O esquema varia
entre um 4-2-3-1 e um 4-5-1 (como entrou contra o Uruguai).
Arango é o único meia com liberdade total para atacar, mas
não está dispensado da marcação.
O meio-campo é o ponto forte
do time, que tem dois marcadores
donos de bons passes: Ricardo
David Páez (filho do técnico) e
Urdaneta. O único atacante também varia. Páez ainda não decidiu
pelo titular absoluto e já testou
Rondón, Noriega ou Morán.
A vitória sobre o Uruguai foi o
incentivo que faltava. Pouca gente
acreditava no triunfo. Na chegada
ao país, os jogadores, acostumados com o anonimato, ficaram assustados com o número de torcedores. A federação local teve que
contratar uma empresa de segurança para garantir o trânsito da
delegação. O Uruguai nunca tinha
perdido por três gols de diferença
em casa em jogo oficial. A vitória
foi chamada de "Centenariazo",
alusão ao "Maracanazo", quando
os uruguaios venceram a Copa de
1950 no Maracanã.
"O maior passo evolutivo do futebol venezuelano aconteceu com
a contratação de Richard Páez. Ele
é um homem que jogou na seleção e sofreu goleadas, foi humilhado. Ele sabe falar para os jogadores e fazê-los entender que, não
importando qual seja o rival, a seleção pode sair e mostrar seu jogo.
Ele também conta com um psicólogo, que ajudou o time a mentalizar que pode conseguir ganhar
em campo", explica Jose de Bastos, colunista do site "A Ritmo de
Gol" e autoproclamado "o mais
fanático torcedor da Venezuela".
A evolução aconteceu devido ao
investimento pesado de algumas
empresas locais. A principal mantenedora da infra-estrutura do selecionado venezuelano é a Polar,
maior empresa privada do país
-comercializa as marcas da Pepsi e da cerveja Polar.
Em menor escala, também financiam o time a emissora de televisão RCTV (além de patrocinar, comprou a exclusividade das
transmissões), as telefônicas
CANTV e Movilnet e a fábrica de
produtos nutricionais Metamax.
"Comodidades, como ter avião
próprio e boas instalações para
concentração, são normais em
outros países, mas na Venezuela
isso é novidade. A seleção, com as
vitórias, virou uma máquina de
fazer dinheiro. A cada jogo são
vendidos inúmeros gorros, bandeiras e camisetas", diz Bastos.
O investimento também visa reforçar o interesse pelo campeonato nacional. Quatro dos sete últimos campeões fecharam as portas (Marítimo, Minerven, Atlético
Zulia e Nacional Táchira). A média de público nos jogos não passa
de mil pagantes. O futebol é o terceiro esporte na Venezuela, atrás
do beisebol e do basquete.
Na Libertadores, o país cumpriu bom papel. O Deportivo Táchira chegou às quartas-de-final.
A boa campanha do time e a inédita fase da seleção serviram de
armas para o governo. O presidente Hugo Chávez usa vitórias
para exaltar o "espírito guerreiro
do povo venezuelano". Ele promete total apoio para a Copa
América no país, em 2006.
NA TV - Venezuela x Chile, ao
vivo, às 20h , na ESPN Brasil
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