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JOSÉ ROBERTO TORERO
O gaúcho Mineiro é do Brasil
Gilberto e Roberto Carlos que se cuidem, pois, se a magia dos são-paulinos fizer efeito de novo, Júnior pode ir à Copa
ACHO QUE os são-paulinos dominam algum tipo de magia.
Em alguma obscura sala nos
subterrâneos do Morumbi, eles dão-se as mãos e emitem ondas eletromagnético-telepáticas que influem
nos jogadores. Xico Sá diria que
S.P.F.C. na verdade significa Secadores Poderosos para Fraturas e
Contusões.
Primeiro, eles queriam que Rogério Ceni fosse convocado. E Marcos
ficou meses sem conseguir se curar.
Depois, desejaram que Mineiro tivesse seu lugar na seleção. E Edmílson foi cortado. Se eu fosse Gilberto
ou Roberto Carlos, começaria a ficar
preocupado, porque Júnior faz um
bocado de sucesso entre os magos
são-paulinos.
Acho que eles poderiam até fazer
com que o dólar caísse. Ou, vai ver,
eles já estavam fazendo isso, e só por
estarem distraídos com a Copa é que
a moeda americana voltou a subir.
Ou, talvez, seja mesmo o valor do
gaúcho Mineiro que o fez ser a primeira opção de Parreira para a posição.
Seu trabalho de formiguinha é impressionante. E uma boa prova disso
é o sentimento que os torcedores
têm por ele. Os do São Paulo o adoram, pois sabem que ele vai derramar litros de suor pelo seu time, sabem que ele é onipresente e está em
todos os lugares do campo ao mesmo tempo, sabem que ele defende
como poucos e, de vez em quando,
até surge no ataque para fazer um
gol inesquecível.
Já os torcedores de outros times,
como eu, adoram quando ele não joga, pois sabemos que nossos atacantes terão apenas suas próprias sombras a persegui-los. A irritação é tanta que certa vez, durante um Santos
x São Paulo, ouvi um fã alvinegro dizer: "Esse Mineiro nunca cansa? Deve ter um motor na bunda!".
O melhor é que agora todos torceremos por Mineiro. Gaúchos, mineiros, são-paulinos e não-são-paulinos estarão unidos. Agora ele é do
Brasil.
Provavelmente ele apenas sentará
no banco de reservas. Creio que Mineiro só entrará na seleção se alguém se machucar, se Zé Roberto
for muito ao ataque e não der conta
da defesa, ou se, toc-toc-toc, o quarteto não funcionar e precisarmos
trocar um dos quatro por alguém
mais defensivo. E isso não é impossível. Basta lembrar que, em 94, Parreira trocou Raí por Mazinho.
Falando em Parreira, talvez ele
fosse mais coerente se chamasse Renato ou Júlio Baptista, que estiveram presentes em suas convocações. Mas o primeiro parece estar
num mau momento (como Adriano,
que foi convocado) e o segundo não
joga nessa posição há algum tempo.
De qualquer forma, é uma boa escolha. A seleção ganha um jogador
valioso que nós, brasileiros, conhecemos bem. E Mineiro, que é gaúcho
mas joga em São Paulo, tem mesmo
cara de brasileiro. Com 30 anos e
menos de 1,70 m, ele tem cara de
gente que supera adversidades, que
surpreende, que vence quando todos acham que vai perder.
Ele, que já empurrou Ponte Preta
e São Caetano, foi convocado pela
primeira vez por Leão e teve seu momento de glória na final do Mundial
de Clubes, quando fez gol e deu o título ao São Paulo.
É claro que o Edmílson deve estar
arrasado. Mas ele já esteve em uma
Copa e, imagino, a alegria de Mineiro será maior que a tristeza do jogador do Barcelona.
Imagino que o volante do São Paulo deve estar explodindo por dentro,
soltando rojões imaginários. Depois
de já ter certeza de que ficaria de fora da Copa, receber a notícia de convocação é estar caindo de um prédio
e ser salvo pelo mastro da bandeira,
é como ser um condenado à cadeira
elétrica e faltar luz na hora da execução, é como ficar diante de um pelotão de fuzilamento e receber o perdão quando o encarregado já falava
"Preparar, apontar...".
@ - torero@uol.com.br
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