São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O gaúcho Mineiro é do Brasil

Gilberto e Roberto Carlos que se cuidem, pois, se a magia dos são-paulinos fizer efeito de novo, Júnior pode ir à Copa

ACHO QUE os são-paulinos dominam algum tipo de magia. Em alguma obscura sala nos subterrâneos do Morumbi, eles dão-se as mãos e emitem ondas eletromagnético-telepáticas que influem nos jogadores. Xico Sá diria que S.P.F.C. na verdade significa Secadores Poderosos para Fraturas e Contusões.
Primeiro, eles queriam que Rogério Ceni fosse convocado. E Marcos ficou meses sem conseguir se curar. Depois, desejaram que Mineiro tivesse seu lugar na seleção. E Edmílson foi cortado. Se eu fosse Gilberto ou Roberto Carlos, começaria a ficar preocupado, porque Júnior faz um bocado de sucesso entre os magos são-paulinos. Acho que eles poderiam até fazer com que o dólar caísse. Ou, vai ver, eles já estavam fazendo isso, e só por estarem distraídos com a Copa é que a moeda americana voltou a subir.
Ou, talvez, seja mesmo o valor do gaúcho Mineiro que o fez ser a primeira opção de Parreira para a posição. Seu trabalho de formiguinha é impressionante. E uma boa prova disso é o sentimento que os torcedores têm por ele. Os do São Paulo o adoram, pois sabem que ele vai derramar litros de suor pelo seu time, sabem que ele é onipresente e está em todos os lugares do campo ao mesmo tempo, sabem que ele defende como poucos e, de vez em quando, até surge no ataque para fazer um gol inesquecível.
Já os torcedores de outros times, como eu, adoram quando ele não joga, pois sabemos que nossos atacantes terão apenas suas próprias sombras a persegui-los. A irritação é tanta que certa vez, durante um Santos x São Paulo, ouvi um fã alvinegro dizer: "Esse Mineiro nunca cansa? Deve ter um motor na bunda!". O melhor é que agora todos torceremos por Mineiro. Gaúchos, mineiros, são-paulinos e não-são-paulinos estarão unidos. Agora ele é do Brasil.
Provavelmente ele apenas sentará no banco de reservas. Creio que Mineiro só entrará na seleção se alguém se machucar, se Zé Roberto for muito ao ataque e não der conta da defesa, ou se, toc-toc-toc, o quarteto não funcionar e precisarmos trocar um dos quatro por alguém mais defensivo. E isso não é impossível. Basta lembrar que, em 94, Parreira trocou Raí por Mazinho.
Falando em Parreira, talvez ele fosse mais coerente se chamasse Renato ou Júlio Baptista, que estiveram presentes em suas convocações. Mas o primeiro parece estar num mau momento (como Adriano, que foi convocado) e o segundo não joga nessa posição há algum tempo. De qualquer forma, é uma boa escolha. A seleção ganha um jogador valioso que nós, brasileiros, conhecemos bem. E Mineiro, que é gaúcho mas joga em São Paulo, tem mesmo cara de brasileiro. Com 30 anos e menos de 1,70 m, ele tem cara de gente que supera adversidades, que surpreende, que vence quando todos acham que vai perder. Ele, que já empurrou Ponte Preta e São Caetano, foi convocado pela primeira vez por Leão e teve seu momento de glória na final do Mundial de Clubes, quando fez gol e deu o título ao São Paulo. É claro que o Edmílson deve estar arrasado. Mas ele já esteve em uma Copa e, imagino, a alegria de Mineiro será maior que a tristeza do jogador do Barcelona.
Imagino que o volante do São Paulo deve estar explodindo por dentro, soltando rojões imaginários. Depois de já ter certeza de que ficaria de fora da Copa, receber a notícia de convocação é estar caindo de um prédio e ser salvo pelo mastro da bandeira, é como ser um condenado à cadeira elétrica e faltar luz na hora da execução, é como ficar diante de um pelotão de fuzilamento e receber o perdão quando o encarregado já falava "Preparar, apontar...".

@ - torero@uol.com.br


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