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FÁBIO SEIXAS
Restam três
Em dois atos, o chefe da McLaren enterrou o sonho do torcedor da F-1 por um duelo quádruplo na temporada
O
BAFAFÁ em torno da escolha
da McLaren em Mônaco não
começou no domingo no
principado. Começou duas semanas
antes, em Barcelona. Na largada.
Alonso forçou uma ultrapassagem. Não conseguiu. E, naquela manobra, pôs a equipe numa enrascada. Porque passou o intervalo entre
uma corrida e outra como vice-líder,
enquanto a imprensa inglesa batia
bumbo para o primeiro, seu novo bibelô, gênio e redentor, Hamilton.
Como até os velhos guard-rails de
Mônaco sabem, Alonso hoje é o
mais indicado para duelar com os
ferraristas. Tem estofo, já provou
ser imune à pressão. Bateu duas vezes um heptacampeão, quer mais?
O inglês pode até se converter no
fenômeno que a ilha espera, mas
ainda não o é. E, nestes momentos,
parece muito mais prudente apostar
no certo do que no quase certo.
O fato, porém, é que, naquelas
duas semanas, com a tabela do campeonato nas mãos, a influente comunidade britânica na F-1 -mídia,
dirigentes de todos os níveis e patrocinadores de todas as espécies- começou a querer fazer de Hamilton a
tal certeza. Descobriram o retrospecto impecável do novato no principado. E, para aumentar mais a onda, ele iniciou os treinos com brilho.
Já pensou no que aconteceria se a
F-1 deixasse Mônaco com Hamilton
líder e com o dobro da vantagem para o espanhol? A saia de Dennis ficaria ainda mais justa, porque uma hora, cedo ou tarde, ele teria de dar preferência para Alonso e seria instado
a dar explicações. O chefe da McLaren preferiu não correr esse risco.
Some esse cenário à hegemonia
momentânea e sabidamente efêmera em Mônaco. Dennis enxergou no
principado oportunidade única de
colocar o castelo em ordem. E pôs
seu plano em prática já no sábado.
Hamilton terminou o último bloco do treino oficial com 8,5 kg a mais
no tanque em relação a Alonso, o
que, seguindo cálculos conservadores, significa um acréscimo de 0s250
por volta. Ele ficou em segundo, sim,
mas a 0s179 do pole. Primeiro ato.
O pretexto, uma suposta estratégia diferenciada para o inglês, que
faria um só pit stop, contra dois de
Alonso. Pois bem, o que aconteceu?
O segundo ato. No GP, vendo que
Hamilton assumiria a ponta após os
pits, Dennis o chamou aos boxes três
voltas após o companheiro -para isso, não precisaria tê-lo mandado à
pista com 8,5 kg a mais; 5 kg bastariam, mas isso arriscaria o projeto.
Até aí, tudo bem, esse tipo de coisa
acontece toda hora. Acontece tanto
que o episódio passaria despercebido se Hamilton, talvez ingênuo, não
tivesse começado a reclamar. Mas o
inglês chiou, e a McLaren negou, e a
FIA abriu uma investigação pro forma, e tudo ficou por isso mesmo.
Este tipo de intervenção é uma pena? É. Mas é inerente à F-1, já deveríamos ter aprendido. O que fica é
que o Mundial já se tornou uma disputa entre três pilotos. Que devem
virar dois após a excursão à América.
O sonho do duelo a quatro já era.
fseixas@folhasp.com.br
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