São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÁBIO SEIXAS

Restam três

Em dois atos, o chefe da McLaren enterrou o sonho do torcedor da F-1 por um duelo quádruplo na temporada

O BAFAFÁ em torno da escolha da McLaren em Mônaco não começou no domingo no principado. Começou duas semanas antes, em Barcelona. Na largada.
Alonso forçou uma ultrapassagem. Não conseguiu. E, naquela manobra, pôs a equipe numa enrascada. Porque passou o intervalo entre uma corrida e outra como vice-líder, enquanto a imprensa inglesa batia bumbo para o primeiro, seu novo bibelô, gênio e redentor, Hamilton. Como até os velhos guard-rails de Mônaco sabem, Alonso hoje é o mais indicado para duelar com os ferraristas. Tem estofo, já provou ser imune à pressão. Bateu duas vezes um heptacampeão, quer mais?
O inglês pode até se converter no fenômeno que a ilha espera, mas ainda não o é. E, nestes momentos, parece muito mais prudente apostar no certo do que no quase certo. O fato, porém, é que, naquelas duas semanas, com a tabela do campeonato nas mãos, a influente comunidade britânica na F-1 -mídia, dirigentes de todos os níveis e patrocinadores de todas as espécies- começou a querer fazer de Hamilton a tal certeza. Descobriram o retrospecto impecável do novato no principado. E, para aumentar mais a onda, ele iniciou os treinos com brilho.
Já pensou no que aconteceria se a F-1 deixasse Mônaco com Hamilton líder e com o dobro da vantagem para o espanhol? A saia de Dennis ficaria ainda mais justa, porque uma hora, cedo ou tarde, ele teria de dar preferência para Alonso e seria instado a dar explicações. O chefe da McLaren preferiu não correr esse risco. Some esse cenário à hegemonia momentânea e sabidamente efêmera em Mônaco. Dennis enxergou no principado oportunidade única de colocar o castelo em ordem. E pôs seu plano em prática já no sábado.
Hamilton terminou o último bloco do treino oficial com 8,5 kg a mais no tanque em relação a Alonso, o que, seguindo cálculos conservadores, significa um acréscimo de 0s250 por volta. Ele ficou em segundo, sim, mas a 0s179 do pole. Primeiro ato. O pretexto, uma suposta estratégia diferenciada para o inglês, que faria um só pit stop, contra dois de Alonso. Pois bem, o que aconteceu?
O segundo ato. No GP, vendo que Hamilton assumiria a ponta após os pits, Dennis o chamou aos boxes três voltas após o companheiro -para isso, não precisaria tê-lo mandado à pista com 8,5 kg a mais; 5 kg bastariam, mas isso arriscaria o projeto.
Até aí, tudo bem, esse tipo de coisa acontece toda hora. Acontece tanto que o episódio passaria despercebido se Hamilton, talvez ingênuo, não tivesse começado a reclamar. Mas o inglês chiou, e a McLaren negou, e a FIA abriu uma investigação pro forma, e tudo ficou por isso mesmo. Este tipo de intervenção é uma pena? É. Mas é inerente à F-1, já deveríamos ter aprendido. O que fica é que o Mundial já se tornou uma disputa entre três pilotos. Que devem virar dois após a excursão à América. O sonho do duelo a quatro já era.

fseixas@folhasp.com.br


Texto Anterior: Basquete 2: Nacional dá a largada nos mata-matas
Próximo Texto: O que ver na TV
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.