São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Por amizade, chineses "entregaram" partidas

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesa-tenistas não gostam quando seu esporte é chamado de pingue-pongue. É a diferença que um praticante, um atleta, vê entre sua modalidade e uma simples recreação.
Mas, a julgar pelos relatos dos norte-americanos que jogaram na China em 1971, o termo "diplomacia pingue-pongue" fez justiça aos confrontos.
"Jogar pingue-pongue era uma parte necessária da viagem. As partidas foram só partidas. Os chineses poderiam ter nos massacrado", diz Tim Boggan, hoje historiador da federação de tênis de mesa dos EUA.
Ele é um dos que relatam que os atletas chineses -oriundos de equipes locais, não da seleção nacional- seguiram o lema "amizade primeiro, competição depois" nos jogos realizados em Pequim e Xangai.
"Sabia que não estava lá só para jogar, mas principalmente para chegar ao que não se pode chegar pelos canais diplomáticos regulares", declarou Zheng Minzhi, uma das jogadoras chinesas, em um reencontro com as adversárias em 1997.
A torcida também seguiu o mesmo lema. Mas o ginásio lotado com 18 mil pessoas assustou os norte-americanos, que nunca haviam se apresentado diante de tamanha audiência.
Os jogadores não se lembram do placar das partidas -arriscam dizer que os chineses venceram a maior parte delas. Mas têm certeza de que os adversários levaram o lema da competição à risca quando empunharam suas raquetes.
"Eles eram os melhores do mundo. Não chegávamos nem perto do nível deles. Eles nos deixaram ganhar alguns jogos", afirma Connie Sweeris.
Apesar do caráter amigável, Lee Dal-joon, sul-coreano de origem, preferiu não ir à China. Wendy Hicks manteve seus planos e tirou férias no Havaí.
Eles eram parte da seleção que defendeu os EUA no Campeonato Mundial de 1971, em Nagóia. Foi o primeiro evento internacional da modalidade disputado por chineses após a Revolução Cultural.
Boggan diz que a menção de reaproximação da China com o Ocidente ocorre na preparação para o torneio no Japão.
A caminho de Nagóia, o presidente da federação internacional passara por Pequim, onde participara de uma reunião com o então primeiro-ministro, Chou Enlai. Planejava retomar o Torneio de Pequim, evento que acontecia antes do movimento lançado em 1966.
Ingleses e canadenses tinham intenção de ir a Pequim depois do Mundial. "Mas a China disse "não". Chuang Tse-tung [mesa-tenista chinês] contou que Mao mudou de idéia e aceitou os americanos apenas após ver foto do Glenn Cowan [mesa-tenista dos EUA] trocando presentes com ele após um jogo", declara Boggan.
O ex-atleta invoca um corriqueiro gesto de espírito esportivo. Troca que marcou a retomada do diálogo das duas potências que disputarão em agosto, na China, o topo do quadro de medalhas. (LF E ML)


Texto Anterior: Análise: O país de Ping, Pang e Pong e a abertura
Próximo Texto: Juca Kfouri: O clássico dos erros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.