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Por amizade, chineses "entregaram" partidas
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesa-tenistas não gostam
quando seu esporte é chamado
de pingue-pongue. É a diferença que um praticante, um atleta, vê entre sua modalidade e
uma simples recreação.
Mas, a julgar pelos relatos
dos norte-americanos que jogaram na China em 1971, o termo "diplomacia pingue-pongue" fez justiça aos confrontos.
"Jogar pingue-pongue era
uma parte necessária da viagem. As partidas foram só partidas. Os chineses poderiam ter
nos massacrado", diz Tim Boggan, hoje historiador da federação de tênis de mesa dos EUA.
Ele é um dos que relatam que
os atletas chineses -oriundos
de equipes locais, não da seleção nacional- seguiram o lema
"amizade primeiro, competição depois" nos jogos realizados em Pequim e Xangai.
"Sabia que não estava lá só
para jogar, mas principalmente
para chegar ao que não se pode
chegar pelos canais diplomáticos regulares", declarou Zheng
Minzhi, uma das jogadoras chinesas, em um reencontro com
as adversárias em 1997.
A torcida também seguiu o
mesmo lema. Mas o ginásio lotado com 18 mil pessoas assustou os norte-americanos, que
nunca haviam se apresentado
diante de tamanha audiência.
Os jogadores não se lembram
do placar das partidas -arriscam dizer que os chineses venceram a maior parte delas. Mas
têm certeza de que os adversários levaram o lema da competição à risca quando empunharam suas raquetes.
"Eles eram os melhores do
mundo. Não chegávamos nem
perto do nível deles. Eles nos
deixaram ganhar alguns jogos",
afirma Connie Sweeris.
Apesar do caráter amigável,
Lee Dal-joon, sul-coreano de
origem, preferiu não ir à China.
Wendy Hicks manteve seus
planos e tirou férias no Havaí.
Eles eram parte da seleção
que defendeu os EUA no Campeonato Mundial de 1971, em
Nagóia. Foi o primeiro evento
internacional da modalidade
disputado por chineses após a
Revolução Cultural.
Boggan diz que a menção de
reaproximação da China com o
Ocidente ocorre na preparação
para o torneio no Japão.
A caminho de Nagóia, o presidente da federação internacional passara por Pequim, onde participara de uma reunião
com o então primeiro-ministro, Chou Enlai. Planejava retomar o Torneio de Pequim,
evento que acontecia antes do
movimento lançado em 1966.
Ingleses e canadenses tinham intenção de ir a Pequim
depois do Mundial. "Mas a China disse "não". Chuang Tse-tung
[mesa-tenista chinês] contou
que Mao mudou de idéia e aceitou os americanos apenas após
ver foto do Glenn Cowan [mesa-tenista dos EUA] trocando
presentes com ele após um jogo", declara Boggan.
O ex-atleta invoca um corriqueiro gesto de espírito esportivo. Troca que marcou a retomada do diálogo das duas potências que disputarão em
agosto, na China, o topo do quadro de medalhas.
(LF E ML)
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