São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

alvo

Na véspera da reeleição de Blatter, casos de corrupção na Fifa levam patrocinadores e políticos a elevarem pressão por uma reforma na entidade

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

Na véspera da eleição presidencial, a pressão sobre a Fifa por conta dos casos de corrupção cresceu a tal ponto que a sua própria festa vivenciou uma série de críticas e pedidos por reformas.
Federações filiadas, o COI (Comitê Olímpico Internacional), patrocinadores, deputados europeus e o governo suíço fizeram coro por mudanças na organização.
Isso após dez dos membros do Comitê-Executivo da Fifa estarem envolvidos em denúncias de compra e venda de votos, recebimento de propina ou de nada fazerem para lidar com as denúncias.
O escândalo culminou nas acusações de negociação de votos para a atual eleição.
A pressão levou a uma mudança de discurso do presidente Joseph Blatter: em vez de enfrentar críticas, admitiu anunciar medidas hoje, quando deverá ser reeleito.
Mas os ataques não foram suficientes para mudar as práticas da Fifa. A maioria dos cartolas se esquivou de dar explicações ontem durante o dia em Zurique.
O início da pressão começou com a Inglaterra. Sua federação pediu o adiamento da eleição de hoje.
Blatter é candidato único porque o qatariano Mohamed bin Hammam foi afastado acusado de comprar votos. A apelação do árabe só será analisada após o pleito. Assim, o suíço fica até 2015.
A reivindicação inglesa também tem pouca chance de se concretizar. É necessário o apoio de 156 delegados de um total de 208, mas só Escócia e Irlanda do Norte apoiaram oficialmente a iniciativa dos ingleses. Até asiáticos, que ameaçaram boicotar a eleição, vão participar.
A federação inglesa justifica sua medida com base nas "acusações contra o Comitê- -Executivo" e "na falta de transparência" na eleição.
O presidente da Uefa, Michel Platini não apoiou. "Não pediram na reunião [da Uefa]. Por enquanto, é blá-blá- -blá de jornalista."
Depois, Visa e Emirates Airlines, patrocinadores da Copa, fizeram discursos de repreensão pelos casos de corrupção -Coca-Cola e Adidas já haviam feito o mesmo.
A pressão cresceu ainda mais durante a festa de abertura do Congresso da Fifa.
De início, o próprio Blatter admitiu a necessidade de mudanças. "Pensei que vivíamos em um mundo de fair play. Infelizmente, não é o caso. Porque a famosa pirâmide da Fifa tem incertezas em sua base", analisou.
E prometeu falar sobre como combater "os perigos para o futebol" hoje, durante o congresso da entidade.
Mas os ataques não cessaram. O presidente do COI, Jacques Rogge, comparou a situação da Fifa à de sua entidade "há 13 anos", no escândalo de compra de votos de Salt Lake City para a Olimpíada de Inverno. É uma reforma como aquela sofrida pelo COI, por pressão do governo dos EUA, que os políticos europeus demandaram.
A presidente da Suíça, onde fica a sede da Fifa, também clamou por reformas. "Quando há críticas de acusações, é necessário tomar medidas para reformá-la (...). O tempo não é "catenaccio" [sistema defensivo da Itália]. O tempo é de grande ofensiva na busca pela transparência e tolerância", disse a presidente Micheline Calmy-Rey.
Houve ainda declarações similares de deputados europeus e da União Europeia, que se juntam a pressões do governo britânico.
Esse clima gerou uma comemoração da Fifa de poucos aplausos e alguns lugares vazios. "Eu achei que isso era uma festa?", disse a cantora jamaicana Grace Jones. Ninguém riu da pergunta.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Portugal defende limite para mandatos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.