São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Treinador da França põe pressão sobre o juiz

Sem ser questionado, Domenech fala sobre espanhol, que falhou nas oitavas

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Depois das reclamações de Gana de que o Brasil foi favorecido pela arbitragem nas oitavas-de-final por ser uma potência do futebol, uma nova pressão paira sobre a Fifa e sobre o mediador do jogo da seleção.
Numa provocação travestida de apoio, o técnico da França, Raymond Domenech, afirmou ontem que o juiz espanhol Luis Medina Cantalejo atuará hoje à sombra do erro cometido no jogo Itália 1 x 0 Austrália, na fase de oitavas-de-final.
Uma falha do árbitro nos acréscimos deu a vitória à tradicional Itália sobre os azarões australianos. O jogo estava 0 a 0 aos 50min do segundo tempo, quando o lateral italiano Grosso tropeçou no zagueiro Neill e caiu na área. Cantalejo marcou o pênalti, a Itália converteu e se classificou às quartas-de-final. Se o jogo fosse para a prorrogação, a Austrália teria vantagem, por ter um homem a mais.
A estratégia de Domenech para pressionar o espanhol foi curiosa. Ao final da entrevista coletiva de ontem, enquanto os jornalistas se levantavam para ir embora, ele falou: "Vocês não me perguntaram nada sobre o árbitro... Não duvido da honestidade dele e faço questão de dizer que não lhe demos presente algum, mas colocá-lo numa situação assim, dizendo que qualquer decisão dele será manchada pelo jogo anterior, não me parece bom. Acho que colocaram uma pressão desmedida sobre ele".
Disse, levantou e foi embora.
No jogo contra Gana, além de um erro a favor do Brasil (Adriano marcou o segundo gol impedido), o árbitro eslovaco Lubos Michel irritou os ganenses porque pediu a camisa de Ronaldo ao final da jogo.
O sarcasmo de Domenech em relação à arbitragem difere do tom respeitoso com que jogadores do time trataram do tema. "Eles são a garantia da justiça dentro do campo, então temos de respeitá-los", declarou o zagueiro Thuram.
Já o atacante Henry, questionado pela Folha se a França temia a arbitragem, observou: "Desistimos de nos preocupar [com a arbitragem] depois do primeiro jogo. Não adianta reclamar, e sabemos que não é fácil a vida de juiz".
E defendeu o juiz que pediu a camisa do artilheiro brasileiro. "Talvez tenha sido a única vez na vida que ele tenha tido chance de pedir a camisa do Ronaldo. Não vejo nada demais", afirmou.
Os pênaltis têm sido sinônimo de erros nesta Copa. Mas os franceses disseram não ter treinado cobranças no treinamento de ontem (aberto para a imprensa somente nos primeiros 15 minutos).
"Depois de duas horas de jogo, com a pressão do público e pelo resultado, nem sempre os mais aptos têm condições de chutar", disse Domenech.
"Como é impossível tirar o estresse e o cansaço dos jogadores, será a experiência deles o que definirá o nome dos cobradores", completou ele.


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