São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Mães deixam, e softbol mostra cara

Idéia inspirada no calendário em que atletas australianos posaram nus às vésperas de Olimpíada desafia falta de verbas

Confederação aproveita Pan e, com fotografias sensuais, promove atletas, todas de origem japonesa, a relações-públicas da modalidade

Otavio Dias
Integrantes da seleção brasileira de softbol que disputará os Jogos Pan-Americanos do Rio, neste mês, posam em São Paulo

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Meu "ditian" reclamava quando eu saía à rua com um vestido mais curto", lembra a jovem Simone ""Ninja" Suetsugo, 18.
A reação do "ditian", ou melhor, do avô de Simone reforça o estereótipo de reservado da comunidade japonesa. Clichê que, com fotos sensuais, as atletas da seleção nacional de softbol, como ela, querem afastar para popularizar o esporte.
Quem as vê em campo, em seus largos uniformes, luvas e apetrechos de softbol, que escondem suas curvas, não irá reconhecê-las no catálogo de fotos produzidas em estúdio, com cabelos esvoaçantes, pouca roupa, salto alto e com direito até a ""making of" em DVD.
Inspirado no provocativo álbum que registrou atletas australianos nus antes de Sydney-00, o kit é visto pela Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol como o passo inicial para popularizar a modalidade.
""Nunca fiz algo assim. É complicado. Sorrir na hora certa, as poses. Você não sabe se está legal. Mas adorei", disse Simone Sayuri Miyahira, 23 anos, 1,68 m e 64 kg, após o ensaio, que inicialmente seria publicado em álbum de 16 x 24 cm.
A idéia foi comprada por um só patrocinador e, por razões financeiras, virou um catálogo e um guia para a imprensa.
O kit, cujo lançamento acontece na quarta-feira, em SP, será distribuído à mídia e utilizado em ações institucionais.
A entidade quer aproveitar a visibilidade oferecida pelo Pan, já que se trata da estréia da seleção nacional -totalmente integrada por descendentes de japoneses- na competição, para apresentar a modalidade e a ""cara" do esporte ao público.
A jornalista Annike Limborço, 27, contratada pela confederação para coordenar o trabalho, tinha dúvidas sobre a reação das atletas à idéia, já que ""tradicionalmente a comunidade japonesa é reservada".
O conceito do projeto australiano, apesar de aventado, foi descartado. Mesmo ao ouvir que ""os australianos tiraram tudo, mas mostraram nada", alguns pais torceram o nariz.
Esse foi o caso de Alice Sugino, 52, mãe de Patrícia, atleta que participou do ensaio.
Dias antes das fotos, ao ser questionada pela Folha sobre o que achava de a filha posar seminua, perguntou, preocupada: ""Espera aí. De que fotos você está falando?".
A reportagem foi orientada a não usar o termo ""seminuas" ao falar com os pais. Alice, que acompanhou a filha Patrícia no ensaio, reprovou a iniciativa australiana. ""Podem ter feito isso lá [na Austrália]. Mas não casa, acho que não casa."
Pais zelosos e namorados mais ciumentos convencidos, a idéia do ensaio acabou sendo aceita. Descontraídas, em reunião que antecedeu o projeto, jogadoras comentaram, em tom de brincadeira, que ""pelo bem do softbol tiraria a roupa" ou ""a "Playboy" fará convite".
As brincadeiras foram mais convincentes do que se imaginava. O fotógrafo do projeto, Otávio Dias de Oliveira, achava que as fotos seriam de nus até duas semanas antes da sessão.
""Nos inspiramos nos australianos, mas a comunidade [japonesa] é recatada, conservadora. Seria difícil vender a idéia da nudez. Mas fizemos fotos ousadas", disse Jorge Otsuka, 60, presidente da federação.
""O ensaio está bonito. Serve para mostrar que elas são meninas comuns, bonitas, como quaisquer outras", avaliou Alice, em um segundo momento.
Segundo Annike, esse é um dos objetivos do ensaio, ""desmistificar certos dogmas".
Para selecionar quem participaria do ensaio, além de critérios estéticos, foram consideradas as respostas a um questionário dado pela produção.
""Queremos que essas meninas sejam uma espécie de relações-públicas do esporte para com a mídia, o público. Chamará a atenção, mas o projeto tem objetivos de longo prazo. Por isso foi importante observar como se expressam, o compromisso que têm com o esporte", analisou a jornalista.


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