São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

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"Falta apoio às seleções na África"

Idolatria aos europeus ajuda a explicar fiasco regional na Copa, diz Abedi Pelé, ídolo de Gana

FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO

Um dos maiores ídolos do futebol africano, o ganense Abedi Pelé, 45, diz que o fracasso de quase todas as equipes do continente na Copa tem relação com a falta de torcida local. "Você tem mais apoio ao Manchester United e Chelsea na África do que às seleções", disse à Folha. A exceção no fiasco africano é Gana, que conta com seu filho Ayew, meia que, suspenso, não pega o Uruguai amanhã. "Ele não está jogando onde deveria. Deveria estar mais à esquerda", reclama Abedi, que ganhou o apelido pelo estilo que lembrava o do maior jogador brasileiro. Membro da Fifa, diz que passou a defender o uso de tecnologia em campo após o erro contra a Inglaterra.

Folha - Dá para derrotar a seleção do Uruguai?
Abedi Pelé - Temos todas as chances. Estamos jogando na África, o que ajuda Gana. O estádio todo estará conosco. Me preocupam algumas ausências por contusão ou suspensão.

E a defesa, com Forlán e Suárez do outro lado?
Não mais. Tomamos poucos gols até aqui. A disciplina dos jogadores de defesa está fazendo diferença.

Por que os africanos decepcionaram na Copa?
Estamos tentando entender. Tem relação com os jogadores, o ambiente, a maneira de escolher a seleção, a constante mudança de técnicos. Me preocupa a questão das ligas locais na África. Não há estrutura, não há competitividade necessária para desenvolver a base. Hoje, as pessoas não vão aos estádios. Na TV, você pode ver futebol espanhol, inglês, quase todo dia. Você tem mais apoio ao Manchester United e Chelsea na África do que à seleção. É um problema que teremos que enfrentar logo.

Os africanos estão reclamando do preço dos ingressos. O sr. concorda?
Se o ingresso tivesse sido mais barato, mais pessoas teriam participado da Copa. Mas os estádios estão em geral cheios, mais até que na Alemanha [em 2006].

O que o sr. acha de seleções africanas serem treinadas por estrangeiros?
Não é um problema grande, mas seria melhor termos nossos próprios técnicos. Japão e Coreia do Sul tiveram estrangeiros muito tempo, mas agora seus técnicos locais os levaram à segunda fase da Copa. É progresso.

Está satisfeito com a forma como seu filho está jogando?
Ele tem sido um dos destaque da Copa, então não posso reclamar. Mas não joga onde deveria. Deveria estar no meio mais à esquerda, onde pode pegar a bola da defesa e passar ao ataque. Nessa posição, é bem melhor.

O sr. avisou o técnico?
Não e não pretendo. O técnico deve ter liberdade.

Gana pode bater o Brasil?
Conheço bem o futebol brasileiro. Quando eu tinha 17 anos, meu técnico no Qatar era Pepe. Ele era meio como pai. Sou muito amigo do Pelé também. Jantamos juntos sempre após reuniões da Fifa [ambos integram um comitê da entidade]. Os dois Pelés [risos]. Acho impossível parar Kaká ou Robinho, mas futebol é imprevisível.

Como o sr. vê o uso da tecnologia nos campos?
Eu era uma das pessoas em reuniões da Fifa que discordavam da tecnologia. Mas, depois do que vimos no jogo da Inglaterra, concordo que tecnologia é necessária, mas apenas para gols, não para impedimentos ou faltas.


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