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"Falta apoio às seleções na África"
Idolatria aos europeus ajuda a explicar fiasco regional na Copa, diz Abedi Pelé, ídolo de Gana
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Um dos maiores ídolos do
futebol africano, o ganense
Abedi Pelé, 45, diz que o fracasso de quase todas as equipes do continente na Copa
tem relação com a falta de
torcida local. "Você tem mais
apoio ao Manchester United
e Chelsea na África do que às
seleções", disse à Folha.
A exceção no fiasco africano é Gana, que conta com seu
filho Ayew, meia que, suspenso, não pega o Uruguai
amanhã. "Ele não está jogando onde deveria. Deveria estar mais à esquerda", reclama Abedi, que ganhou o apelido pelo estilo que lembrava
o do maior jogador brasileiro.
Membro da Fifa, diz que
passou a defender o uso de
tecnologia em campo após o
erro contra a Inglaterra.
Folha - Dá para derrotar a seleção do Uruguai?
Abedi Pelé - Temos todas
as chances. Estamos jogando na
África, o que ajuda Gana. O estádio todo estará conosco. Me
preocupam algumas ausências
por contusão ou suspensão.
E a defesa, com Forlán e Suárez do outro lado?
Não mais. Tomamos poucos gols até aqui. A disciplina
dos jogadores de defesa está
fazendo diferença.
Por que os africanos decepcionaram na Copa?
Estamos tentando entender. Tem relação com os jogadores, o ambiente, a maneira
de escolher a seleção, a constante mudança de técnicos.
Me preocupa a questão das
ligas locais na África. Não há
estrutura, não há competitividade necessária para desenvolver a base. Hoje, as
pessoas não vão aos estádios. Na TV, você pode ver futebol espanhol, inglês, quase
todo dia. Você tem mais
apoio ao Manchester United
e Chelsea na África do que à
seleção. É um problema que
teremos que enfrentar logo.
Os africanos estão reclamando do preço dos ingressos. O
sr. concorda?
Se o ingresso tivesse sido
mais barato, mais pessoas teriam participado da Copa.
Mas os estádios estão em geral cheios, mais até que na
Alemanha [em 2006].
O que o sr. acha de seleções
africanas serem treinadas
por estrangeiros?
Não é um problema grande, mas seria melhor termos
nossos próprios técnicos. Japão e Coreia do Sul tiveram
estrangeiros muito tempo,
mas agora seus técnicos locais os levaram à segunda fase da Copa. É progresso.
Está satisfeito com a forma
como seu filho está jogando?
Ele tem sido um dos destaque da Copa, então não posso reclamar. Mas não joga
onde deveria. Deveria estar
no meio mais à esquerda, onde pode pegar a bola da defesa e passar ao ataque. Nessa
posição, é bem melhor.
O sr. avisou o técnico?
Não e não pretendo. O técnico deve ter liberdade.
Gana pode bater o Brasil?
Conheço bem o futebol
brasileiro. Quando eu tinha
17 anos, meu técnico no Qatar era Pepe. Ele era meio como pai. Sou muito amigo do
Pelé também. Jantamos juntos sempre após reuniões da
Fifa [ambos integram um comitê da entidade]. Os dois Pelés [risos]. Acho impossível
parar Kaká ou Robinho, mas
futebol é imprevisível.
Como o sr. vê o uso da tecnologia nos campos?
Eu era uma das pessoas
em reuniões da Fifa que discordavam da tecnologia.
Mas, depois do que vimos no
jogo da Inglaterra, concordo
que tecnologia é necessária,
mas apenas para gols, não
para impedimentos ou faltas.
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