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Judô perde o medo da balança
Diferentemente de competições anteriores, atletas da seleção nacional estão todos dentro do peso
Com equipe sob orientação
de nutricionista, maior
cuidado é com o pesado
Schlittler, que costuma
emagrecer com facilidade
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Tradicional inimiga nos dias
anteriores às lutas, a balança
nunca preocupou tão pouco
uma equipe brasileira de judô
às vésperas dos Jogos Olímpicos como nos dias que antecedem a competição de Pequim.
Com os 13 judocas da equipe
rigorosamente dentro do limite
de cada classe de peso, a maior
preocupação agora é oposta à
que sempre pautou a equipe
nacional às vésperas das Olimpíadas passadas.
O atleta que tem demandado
maiores cuidados por parte da
nutricionista da equipe é justamente o único representante
da categoria sem limite máximo de peso, João Gabriel
Schlittler, bronze entre os pesados no último Mundial.
"Essa preocupação [com o
peso] é muito grande. Eu tenho
facilidade de perder peso, diferente da maioria dos caras. E, se
eu chegar muito leve à competição, é uma desvantagem. Então tem que tentar sempre controlar com a balança. E suprir
com suplementação o que eu
não consigo ingerir aqui em relação a nutrientes, porque a alimentação japonesa é bem diferente da brasileira", diz o carioca, que passou por um programa de ganho de peso neste ano.
O fato de João Gabriel ser
obrigado a comer bastante, porém, não tem incomodado os
colegas de equipe.
"Até que não está nesse clima
de dieta. O pessoal está bem no
peso. A nutricionista vem
acompanhando todo mundo
com antecedência. E faz naturalmente a perda de peso de
quem precisava vir", narra ele.
A rigor, o trabalho da nutricionista começou há tempos.
Em abril, ela foi mandada ao
Japão, para estudar os produtos disponíveis no país, com
vistas à formatação do cardápio
pré-olímpico. Tentou aliar os
alimentos mais indicados para
a situação de cada um às suas
preferências individuais.
Nesta reta final, os cuidados
incluíram até afastar os integrantes da equipe júnior -no
Japão para atuar como sparrings do time olímpico e visando o Mundial da categoria, em
outubro- dos olímpicos.
"Eles não ficaram em outro
hotel por discriminação", diz
Ney Wilson, coordenador do
grupo. "Apesar de todos serem
mais conscientes hoje, o atleta
júnior, mais inexperiente, pode
escorregar e eventualmente
pegar uma Coca-Cola, um chocolate. Então as refeições acontecem separadamente."
O controle de peso virou quase uma paranóia na equipe nacional após os Jogos de Atenas,
há quatro anos.
Desde então, já houve dois
cortes de judocas de Campeonatos Mundiais por terem se
apresentado à equipe com mais
de 5% do peso acima dos limites de suas classes.
"Até os atletas que costumam apresentar mais dificuldade para lutar contra o peso,
como Denílson Lourenço [60
kg], Érika Miranda [52 kg] e
João Derly [66 kg], têm encerrado os treinamentos diariamente pesando um quilo a menos que os limites de suas categorias", conta Wilson.
Tanto o coordenador como
os técnicos e os judocas apontam que isso ajuda no ambiente
da seleção brasileira.
Na medida em que todos sentem que cumpriram a obrigação na luta contra o próprio peso, o clima nos treinamentos
também tem ficado mais leve.
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