São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Judô perde o medo da balança

Diferentemente de competições anteriores, atletas da seleção nacional estão todos dentro do peso

Com equipe sob orientação de nutricionista, maior cuidado é com o pesado Schlittler, que costuma emagrecer com facilidade


LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Tradicional inimiga nos dias anteriores às lutas, a balança nunca preocupou tão pouco uma equipe brasileira de judô às vésperas dos Jogos Olímpicos como nos dias que antecedem a competição de Pequim.
Com os 13 judocas da equipe rigorosamente dentro do limite de cada classe de peso, a maior preocupação agora é oposta à que sempre pautou a equipe nacional às vésperas das Olimpíadas passadas.
O atleta que tem demandado maiores cuidados por parte da nutricionista da equipe é justamente o único representante da categoria sem limite máximo de peso, João Gabriel Schlittler, bronze entre os pesados no último Mundial.
"Essa preocupação [com o peso] é muito grande. Eu tenho facilidade de perder peso, diferente da maioria dos caras. E, se eu chegar muito leve à competição, é uma desvantagem. Então tem que tentar sempre controlar com a balança. E suprir com suplementação o que eu não consigo ingerir aqui em relação a nutrientes, porque a alimentação japonesa é bem diferente da brasileira", diz o carioca, que passou por um programa de ganho de peso neste ano.
O fato de João Gabriel ser obrigado a comer bastante, porém, não tem incomodado os colegas de equipe.
"Até que não está nesse clima de dieta. O pessoal está bem no peso. A nutricionista vem acompanhando todo mundo com antecedência. E faz naturalmente a perda de peso de quem precisava vir", narra ele.
A rigor, o trabalho da nutricionista começou há tempos. Em abril, ela foi mandada ao Japão, para estudar os produtos disponíveis no país, com vistas à formatação do cardápio pré-olímpico. Tentou aliar os alimentos mais indicados para a situação de cada um às suas preferências individuais.
Nesta reta final, os cuidados incluíram até afastar os integrantes da equipe júnior -no Japão para atuar como sparrings do time olímpico e visando o Mundial da categoria, em outubro- dos olímpicos.
"Eles não ficaram em outro hotel por discriminação", diz Ney Wilson, coordenador do grupo. "Apesar de todos serem mais conscientes hoje, o atleta júnior, mais inexperiente, pode escorregar e eventualmente pegar uma Coca-Cola, um chocolate. Então as refeições acontecem separadamente."
O controle de peso virou quase uma paranóia na equipe nacional após os Jogos de Atenas, há quatro anos.
Desde então, já houve dois cortes de judocas de Campeonatos Mundiais por terem se apresentado à equipe com mais de 5% do peso acima dos limites de suas classes.
"Até os atletas que costumam apresentar mais dificuldade para lutar contra o peso, como Denílson Lourenço [60 kg], Érika Miranda [52 kg] e João Derly [66 kg], têm encerrado os treinamentos diariamente pesando um quilo a menos que os limites de suas categorias", conta Wilson.
Tanto o coordenador como os técnicos e os judocas apontam que isso ajuda no ambiente da seleção brasileira.
Na medida em que todos sentem que cumpriram a obrigação na luta contra o próprio peso, o clima nos treinamentos também tem ficado mais leve.


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