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Rivalidade na infância direciona nadadores
Duelos fazem Cielo e Guido mudar de rumo nas piscinas
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A MACAU
Desde pequeno, César Cielo
já era competitivo. Nos torneios de natação pelo interior
de São Paulo, muitas vezes os
pais tinham de afastar o filho da
piscina para conter seus ataques de fúria após uma derrota.
Não à toa, um revés, ainda na
infância, traçou o caminho que
o levaria a ser o melhor velocista do país. O responsável foi o
então rival Guilherme Guido.
Aos 21 anos, hoje os dois dividem as raias da piscina do Centro Olímpico Aquático de Macau, onde a seleção se prepara
para os Jogos de Pequim. Na
Vila Olímpica, irão dividir o
mesmo quarto. A competição
na infância os transformou em
grandes amigos.
"Quando a gente tinha nove
anos, eu nem conhecia o Guido
ainda, e nós já competíamos.
Nos torneios da região de Campinas, eu ganhava no costas, o
Guido vencia no crawl. Os pódios eram quase sempre assim", rememora Cielo.
"Até que o Guido começou a
ter problemas com adversários
do crawl e começou a nadar
costas também. Ele ganhou de
mim, eu fiquei arrasado. Decidi
que não nadaria mais costas",
conta o atleta, natural de Santa
Bárbara d'Oeste. Guido nasceu
na também paulista Limeira.
Naquela época, em idas e vindas de competições, as famílias
ficaram amigas. Cielo e Guido
também conseguiram deixar a
rivalidade na piscina. Mas o velocista ainda queria dar o troco.
Aos 15 anos, ele foi participar
de uma série de treinamentos
na Flórida (EUA). Voltou preparado e disposto. Na primeira
disputa entre os dois nos 100 m
livre, deixou Guido para trás.
"Ele ficou meio bravo mesmo
com aquela derrota", relembra
Guido. "Chegou uma hora em
que era ele quem estava ganhando de mim, mas no crawl.
Aí decidi me firmar no costas."
Destinos traçados, os dois
nadadores receberam ao mesmo tempo proposta para treinar em São Paulo, aos 16 anos, e
foram morar juntos na capital.
Guido e Cielo também estavam lado a lado na primeira incursão pelos EUA, à procura de
universidade para treinar e estudar. Cielo ficou em Auburn,
tornando-se o maior velocista
do campeonato universitário
dos EUA. Guido não gostou das
opções e voltou para o Brasil.
"A gente se dá muito bem.
Por coincidência, estamos no
mesmo quarto na Vila Olímpica. Isso é ótimo, eu me sinto à
vontade com ele", diz Guido.
A divisão de quartos foi feita
pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Como a entidade não recebeu camas suficientes para que
todos os atletas fiquem em Pequim até o fim dos Jogos, eles
foram alocados de forma que
terminem a participação olímpica juntos, para vagarem os
quartos aos poucos.
Guido, inscrito nos 100 m
costas, e Cielo, nos 50 m e 100
m livre, nadam até o último dia
da competição olímpica -ambos fazem parte do 4 x 100 m
medley. Não poderão ver outros esportes, mas terão a chance de torcer um pelo outro.
"Costumo dizer que a melhor
coisa que o Guido fez para nós
dois foi ganhar de mim no costas. Acho que hoje eu não estaria no nível dele [no costas] e
talvez ele não estivesse tão bem
no crawl quanto eu", diz Cielo.
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