São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2010

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Simplesmente Murtosa

O ex-jogador de Pelotas fala da perda trágica do pai em seu 2º aniversário e do contato inicial nada amistoso com Scolari ainda inseguro

DE SÃO PAULO

Murtosa já "nasceu" Murtosa. Mas se apresenta diferente. "Prazer, Flávio Teixeira", responde à reportagem.
Para muitos, virou um sinônimo: auxiliar de Luiz Felipe Scolari, com quem voltou ao Palmeiras no mês passado para seguir a parceria de sucesso no futebol e fora dele.
Porém, a ideia da conversa não é essa, mas justamente desvincular as duas figuras -por mais que isso tenha parecido impossível em diversos trechos do diálogo, que ocorreu no CT do Palmeiras, após o treino de quarta-feira.
"Murtosa era um lugarejo em Portugal onde meu avô materno [João] nasceu", explica o gaúcho de Pelotas.
A cidade, distante cerca de 250 km de Porto Alegre, representa o maior paradoxo da vida do ex-ponta direita que iniciou a carreira de jogador no Esporte Clube Pelotas.
Foi lá onde tudo começou para ele no esporte, trajetória de alegrias que é recordada em riqueza de detalhes no decorrer do bate-papo.
Porém, foi também o município onde Murtosa passou sua infância o palco de uma grande tragédia familiar, que ele só foi descobrir tempos depois em recortes de jornal.
No seu aniversário de dois anos, a família festejava com um churrasco às margens do rio Pelotas. O pai, Nicolau Laurentino, morreu afogado quando tentava salvar um dos filhos e um sobrinho, que também faleceu.
"Eu não entendia por que meu pai nunca estava presente. Me diziam que ele trabalhava fora. Com 10 anos, fui descobrir por que no dia de meu aniversário minha mãe [Olga] sempre chorava."
Curioso que a lembrança negativa das águas do rio não tenha deixado sequelas. Pescar é o hobby predileto de Murtosa, que tentou até ser fazendeiro na primeira vez que se cansou do futebol.
No início da década de 90, quando o trabalho com Scolari já completara oito anos, ele foi morar em Gurupi-TO. "Fiquei um ano e meio. Comecei a ver que não tinha nada a ver comigo. O Felipão ficava me ligando: "Você é burro, vem para o Grêmio!". Acabei indo", recorda Murtosa.

1ª IMPRESSÃO
À essa altura da vida, os dois já eram grandes amigos, mas dos primeiros encontros entre os gaúchos saiu faísca.
Primeiro, como adversários no campo. Murtosa, ponta do Brasil de Pelotas, versus Felipão, zagueiro do Caxias. "Ele não era de aliviar, tchê!", afirma, com as sobrancelhas arqueadas.
Depois, como funcionários do Brasil-RS. Murtosa, preparador físico do clube, versus Scolari, técnico recém-demitido do Juventude.
"Ele ficou meio distante porque achou que eu fosse capotar [sabotar] ele", diz Murtosa, que já tinha trabalhado como treinador antes.
"Ficamos 15 dias nessa. Aí um dia o Felipão me disse: "Faz a tua que eu faço a minha". Depois, eu falei para o diretor do clube: "Porra, que belo parceiro tu me deste"." Era 1983. Época em que Murtosa era apenas Murtosa.
(RENAN CACIOLI)


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