|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Simplesmente Murtosa
O ex-jogador de Pelotas fala da perda trágica do pai em seu 2º aniversário e do contato inicial nada amistoso com Scolari ainda inseguro
DE SÃO PAULO
Murtosa já "nasceu" Murtosa. Mas se apresenta diferente. "Prazer, Flávio Teixeira", responde à reportagem.
Para muitos, virou um sinônimo: auxiliar de Luiz Felipe Scolari, com quem voltou
ao Palmeiras no mês passado
para seguir a parceria de sucesso no futebol e fora dele.
Porém, a ideia da conversa
não é essa, mas justamente
desvincular as duas figuras
-por mais que isso tenha parecido impossível em diversos trechos do diálogo, que
ocorreu no CT do Palmeiras,
após o treino de quarta-feira.
"Murtosa era um lugarejo
em Portugal onde meu avô
materno [João] nasceu", explica o gaúcho de Pelotas.
A cidade, distante cerca de
250 km de Porto Alegre, representa o maior paradoxo
da vida do ex-ponta direita
que iniciou a carreira de jogador no Esporte Clube Pelotas.
Foi lá onde tudo começou
para ele no esporte, trajetória
de alegrias que é recordada
em riqueza de detalhes no
decorrer do bate-papo.
Porém, foi também o município onde Murtosa passou
sua infância o palco de uma
grande tragédia familiar, que
ele só foi descobrir tempos
depois em recortes de jornal.
No seu aniversário de dois
anos, a família festejava com
um churrasco às margens do
rio Pelotas. O pai, Nicolau
Laurentino, morreu afogado
quando tentava salvar um
dos filhos e um sobrinho, que
também faleceu.
"Eu não entendia por que
meu pai nunca estava presente. Me diziam que ele trabalhava fora. Com 10 anos,
fui descobrir por que no dia
de meu aniversário minha
mãe [Olga] sempre chorava."
Curioso que a lembrança
negativa das águas do rio
não tenha deixado sequelas.
Pescar é o hobby predileto de
Murtosa, que tentou até ser
fazendeiro na primeira vez
que se cansou do futebol.
No início da década de 90,
quando o trabalho com Scolari já completara oito anos,
ele foi morar em Gurupi-TO.
"Fiquei um ano e meio. Comecei a ver que não tinha nada a ver comigo. O Felipão ficava me ligando: "Você é burro, vem para o Grêmio!". Acabei indo", recorda Murtosa.
1ª IMPRESSÃO
À essa altura da vida, os
dois já eram grandes amigos,
mas dos primeiros encontros
entre os gaúchos saiu faísca.
Primeiro, como adversários no campo. Murtosa, ponta do Brasil de Pelotas, versus Felipão, zagueiro do Caxias. "Ele não era de aliviar,
tchê!", afirma, com as sobrancelhas arqueadas.
Depois, como funcionários do Brasil-RS. Murtosa,
preparador físico do clube,
versus Scolari, técnico recém-demitido do Juventude.
"Ele ficou meio distante
porque achou que eu fosse
capotar [sabotar] ele", diz
Murtosa, que já tinha trabalhado como treinador antes.
"Ficamos 15 dias nessa. Aí
um dia o Felipão me disse:
"Faz a tua que eu faço a minha". Depois, eu falei para o
diretor do clube: "Porra, que
belo parceiro tu me deste"."
Era 1983. Época em que Murtosa era apenas Murtosa.
(RENAN CACIOLI)
Texto Anterior: Equipe tem até 14 potenciais titulares Próximo Texto: "Ele é baixinho, careca e feio" Índice
|