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OPINIÃO
Estádio irá pagar uma dívida corintiana com a zona leste
WELLINGTON RAMALHOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Prevista desde os anos 70,
a construção do estádio do
Corinthians em Itaquera, na
zona leste de São Paulo, mexeu até mesmo com o planejamento do metrô na época.
Naquela década, a Companhia do Metropolitano decidiu que a linha Leste-Oeste
seria no leito das ferrovias
que cruzam a zona leste e
chegaria ao extremo da região, em Itaquera, então um
bairro rural conhecido pelo
cultivo de pêssegos por parte da comunidade japonesa.
Ali, seriam erguidos conjuntos habitacionais da Cohab e o estádio do clube mais
popular da cidade, com capacidade de 200 mil pessoas.
Prevendo o estádio, a empresa batizou a estação com
o nome do clube e definiu em
Itaquera a conexão do metrô
com as ferrovias que servem
os municípios vizinhos -e
não em Artur Alvim, como se projetara inicialmente.
Os conjuntos habitacionais ficaram prontos no fim
da década de 70 e nos anos
80 e transformaram a região
em um grande bolsão da periferia paulistana. Concluída
em 1988, a linha Leste-Oeste já nasceu sobrecarregada.
Crescimento populacional
e precariedade das ferrovias
fizeram dessa linha uma das mais lotadas do mundo.
O estádio corintiano tinha
virado lenda. No terreno de
Itaquera, o clube implantou
só um centro de treinamento,
que foi destinado às categorias de base. Nos últimos
anos, seus dirigentes e parceiros cogitaram construir
estádios em outras partes da
região metropolitana, longe
da zona leste, onde o clube se instalou há mais de 80 anos.
Ao retomar a ideia do estádio em Itaquera, o Corinthians paga dívida com a torcida e a cidade, em especial a
zona leste, região mais populosa da capital, imenso dormitório com quase 4 milhões
de habitantes, baixa oferta de empregos e de lazer.
Com a nova praça esportiva e a Copa de 2014, a recente
construção da USP Leste e o
anúncio da implantação de
um campus da Universidade
Federal de São Paulo em Itaquera, a região passa a ter
perspectivas de recuperar o tempo e o espaço perdidos.
O fato de o futuro estádio
já nascer ao lado do metrô
não deve levar o poder público a ignorar a escassez de
transporte na região. É urgente melhorar os trens metropolitanos e executar o projeto da linha de metrô Oratório-Tiquatira para reduzir a
sobrecarga da Leste-Oeste.
É a hora de tentar riscar do
vocabulário dos jovens o
apelido "Zona Lost", símbolo
da má conexão da zona leste
com o resto da cidade.
WELLINGTON RAMALHOSO é jornalista e
mestrando em arquitetura e urbanismo na
Escola de Engenharia de São Carlos-USP
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