São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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OPINIÃO

Estádio irá pagar uma dívida corintiana com a zona leste

WELLINGTON RAMALHOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prevista desde os anos 70, a construção do estádio do Corinthians em Itaquera, na zona leste de São Paulo, mexeu até mesmo com o planejamento do metrô na época.
Naquela década, a Companhia do Metropolitano decidiu que a linha Leste-Oeste seria no leito das ferrovias que cruzam a zona leste e chegaria ao extremo da região, em Itaquera, então um bairro rural conhecido pelo cultivo de pêssegos por parte da comunidade japonesa.
Ali, seriam erguidos conjuntos habitacionais da Cohab e o estádio do clube mais popular da cidade, com capacidade de 200 mil pessoas.
Prevendo o estádio, a empresa batizou a estação com o nome do clube e definiu em Itaquera a conexão do metrô com as ferrovias que servem os municípios vizinhos -e não em Artur Alvim, como se projetara inicialmente.
Os conjuntos habitacionais ficaram prontos no fim da década de 70 e nos anos 80 e transformaram a região em um grande bolsão da periferia paulistana. Concluída em 1988, a linha Leste-Oeste já nasceu sobrecarregada.
Crescimento populacional e precariedade das ferrovias fizeram dessa linha uma das mais lotadas do mundo.
O estádio corintiano tinha virado lenda. No terreno de Itaquera, o clube implantou só um centro de treinamento, que foi destinado às categorias de base. Nos últimos anos, seus dirigentes e parceiros cogitaram construir estádios em outras partes da região metropolitana, longe da zona leste, onde o clube se instalou há mais de 80 anos.
Ao retomar a ideia do estádio em Itaquera, o Corinthians paga dívida com a torcida e a cidade, em especial a zona leste, região mais populosa da capital, imenso dormitório com quase 4 milhões de habitantes, baixa oferta de empregos e de lazer.
Com a nova praça esportiva e a Copa de 2014, a recente construção da USP Leste e o anúncio da implantação de um campus da Universidade Federal de São Paulo em Itaquera, a região passa a ter perspectivas de recuperar o tempo e o espaço perdidos.
O fato de o futuro estádio já nascer ao lado do metrô não deve levar o poder público a ignorar a escassez de transporte na região. É urgente melhorar os trens metropolitanos e executar o projeto da linha de metrô Oratório-Tiquatira para reduzir a sobrecarga da Leste-Oeste.
É a hora de tentar riscar do vocabulário dos jovens o apelido "Zona Lost", símbolo da má conexão da zona leste com o resto da cidade.


WELLINGTON RAMALHOSO é jornalista e mestrando em arquitetura e urbanismo na Escola de Engenharia de São Carlos-USP


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