São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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o gabinete é pouco

Estádios tornam políticos "imortais"

Mais de duas dezenas de campos do país são batizados com nomes de representantes do povo vivos e ainda na ativa

ACM dá seu nome a seis arenas na Bahia, Brasília homenageia governadora, e deputado do Rio joga bola no estádio que construiu


José Varella - 29.mai.02/"Correio Brasiliense"
Estádio "Abadião", que foge do padrão e homenageia uma mulher em seu nome e hospeda os jogos do Ceilândia no Campeonato de Brasília e na Série C do Nacional


EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nas urnas, como acontece hoje, eles precisam renovar seus mandatos a cada quatro ou oito anos (caso dos senadores). Mas, na marquise de pequenos, médios e até grandes estádios espalhados pelo país, seus nomes já são eternos.
Sem constrangimento, políticos vivos, na ativa e a maioria de primeiro escalão, batizam com seus nomes campos construídos, na maior parte dos casos, enquanto exerciam o poder nas prefeituras de suas cidades ou nos governos estaduais.
São mais de 20 arenas que levam nomes de deputados, senadores e governadores. Neles, o "vossa excelência" por qual adoram ser chamados nos gabinetes dá lugar ao jeito típico dos torcedores.
Brasília, por exemplo, tem o "Rorizão" (de Joaquim Roriz, do PMDB, ex-governador e candidato ao Senado).
Teresina se orgulha do "Albertão" (Alberto Silva, do PMDB, ex-governador do Piauí e atual senador). Santarém põe seus clubes para jogar no "Barbalhão" (Jáder Barbalho, do PMDB, ex-governador e que tenta hoje a reeleição para deputado federal no Pará). Manacapuru, no Amazonas, tem o "Gilbertão", do senador Gilberto Mestrinho (PMDB).
No caso do senador piauiense Mão Santa (PMDB), o apelido já bastou para nomear o campo de Parnaíba. O senador baiano Antonio Carlos Magalhães (PFL) é o recordista. Segundo censo feito pelo governo do seu Estado, nada menos do que seis cidades batizaram seus estádios municipais com o nome do político.
Aliados de ACM também entraram na onda. O governador Paulo Souto dá seu nome ao campo de Cachoeira. O mesmo ocorreu com Waldeck Ornelas (PFL), ex-ministro da Previdência e que é homenageado no campo da baiana Camaçari, um de seus redutos eleitorais. A homenagem foi idéia do então prefeito Humberto Hellery, nos anos 80.
As justificativas para as homenagens são inusitadas. O estádio Maria de Lourdes Abadia (PSDB), o "Abadião", para 4.000 pessoas, leva o nome da atual governadora do DF. Ela ganhou o mimo do clube por ter sugerido a alteração do nome de um time em 1979. Como deputada, conseguiu mudar o estatuto para transformar o extinto Dom Bosco em Ceilândia.
Em 2004, o acanhado estádio recebeu sua primeira partida de um Brasileiro, pela Série C, entre o Ceilândia e o Tupi. Abadia compareceu ao jogo.
O "Barbalhão", em Santarém, foi inaugurado pelo hoje deputado federal quando foi governador do Pará nos anos 80. "Ele inaugurou e quis colocar o nome dele", disse o presidente do São Raimundo, Rosinaldo Batista do Vale, clube que usa o estádio estadual.
Com capacidade para 20 mil pessoas, o "Barbalhão" ficou abandonado por uma desavença política entre a Prefeitura de Santarém e o governo estadual. Atualmente, não é nem sombra do que foi projetado para ser.
"Era para ser um xerox do Mangueirão [o maior e mais moderno estádio paraense], mas somente 50% do anel foi construído", lamenta Do Vale. Mesmo assim, ele não pensa em requerer a alteração do nome da arena. Barbalho, diz, nunca mais apareceu por lá.
Comportamento diferente do deputado estadual Alair Corrêa (PMDB), que tem seu nome no estádio municipal de Cabo Frio, inaugurado por ele em 1986, quando era prefeito da cidade fluminense.
Espécie de patrono da Cabofriense, Corrêa fez arquibancadas para 12 mil pessoas e outras melhorias estruturais no estádio. E até costuma bater uma bolinha com colegas no "Correão" de vez em quando. Corrêa afirma que, oficialmente, o local não leva seu nome. "Na época da inauguração, as pessoas começaram a chamá-lo de Alair Corrêa porque foi construído na minha gestão, e as rádios popularizaram o nome "Correão'", justifica o candidato à reeleição.


Colaborou MARIANA BASTOS, da Reportagem Local

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