São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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FÁBIO SEIXAS

Papel velho


Hakkinen, que tenta agora retomar rota abandonada em 2001, viveu na F-1 aos trancos, como gente normal


"É o substituto de Keke Rosberg no papel de finlandês voador. Tem 22 anos e estréia na F-1 com pouca experiência, apesar de ter feito temporadas arrasadoras na F-Lotus Opel e na F-3 inglesa. É talentoso e não é caro, o que o torna um bom investimento para a equipe. Se der certo, ótimo; se não der, o investimento foi pouco."
Na capa, Senna na McLaren. No editorial, Erundina fala sobre "o desafio de recuperar Interlagos, um patrimônio de 50 anos". No índice, ao lado do anúncio do Nacional, uma lista de 18 equipes, entre elas Lambo, AGS e Coloni. Mais à frente, junto à apresentação da Brabham, um reclame da Denim, "para o homem que agrada sem fazer força". E lá página 23, o perfil da promessa que corria em São Paulo, naquele 1991, seu segundo GP. Hakkinen.
Pois é, sou de guardar velharias. Como as revistinhas distribuídas em Interlagos nos dias de F-1. Há 15 anos, Senna em alta, foram pelo menos duas. Que dão uma dimensão nua e crua e que ajudam a entender o porquê de, ontem, o bicampeão ter fechado o dia em Barcelona em último, a três segundos do melhor e atrás de moleques em carros piores.
O tempo. Passa. Voa. Transforma. É implacável. É tudo chavão, mas real como o cheiro de papel velho. E para Hakkinen o tempo passou de uma maneira especialmente conturbada. Ele foi de tranco em tranco. Naquele GP Brasil, largou em 22º e terminou em nono. Na prova seguinte, Imola, saiu em 25º e chegou em quinto, marcando seus primeiros pontos e abrindo os olhos da F-1.
Hakkinen tornou-se então o menino prodígio. Em 93 assinou com a McLaren e virou titular assim que Andretti voltou ao seu lava-rápido. Em 94, viu pela primeira vez a chance de alcançar a glória. Mas a McLaren trocou os Ford pelos Peugeot. Frustrou-se. Em 95, chegou a incipiente Mercedes. Frustração. E trauma: só não morreu em Adelaide porque os médicos lhe fizeram uma traqueotomia ainda do lado da pista.
Hakkinen virou um piloto apagado até que, em 97, ganhou a primeira. Mas só porque Coulthard resolveu lhe dar esse presente em Jerez. De repente, o carro começou a andar e... boom, ele virou campeão. Em 99, repetiu a dose. Bicampeonato na F-1 não é para qualquer um. A festa no paddock virava as noites após suas vitórias. Ao lado de Erja e Haug, o finlandês enchia a cara com gosto.
Até que em 2001, aos 33 e de repente, anunciou que iria parar. Enfim, Hakkinen nunca se encaixou no estereótipo ciborgue de sujeitos como Schumacher e Senna. Ele transpirava as fraquezas. Como eu e você. Como gente normal.
Algo aconteceu para que ele parasse. Algo que nunca explicou e do qual, agora, se arrependeu. Mas é muito tarde. O olimpo da F-1 não é para quem vacila, titubeia. E talvez só ontem ele tenha comprovado isso. Talvez só ontem ele tenha percebido que seus dias de glória continuarão estampando papel velho.

ARQUEOLOGIA
Dos 32 pilotos daquela revistinha de 91, nenhum continua na categoria. Dois morreram: Senna e Alboreto. E dois já vêem seus filhos como pilotos de testes: Nakajima, há 15 anos na Tyrrell, e Piquet, então na Benetton. Dos 18 times, sobraram McLaren, Ferrari e Williams.

FUTUROLOGIA
Massa começou bem a pré-temporada, mas vamos com calma. Até pela inexperiência de seis das equipes com pneus Bridgestone, os testes desta semana em Barcelona foram mais uma continuação de 2006 do que um início de 2007.

MADRUGADA
Com largada à meia-noite de sábado, acontecem neste fim de semana as 500 Milhas de kart, com Massa, Barrichello, Kanaan... A BandSports mostra na íntegra.

fseixas@folhasp.com.br


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