São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Foco

Corrida em Paraisópolis espanta moradores com atletas, tempo e desmaios

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As ruas já estavam interditadas. Faltavam duas horas para a primeira prova do Circuito Popular de Corridas, mas o som ainda bombava na boate Batucão, em Paraisópolis (zona sul de São Paulo).
Os primeiros corredores chegavam e se misturavam aos últimos baladeiros. Muitos tomavam a saideira e estranhavam a aglomeração.
O campo do Palmeirinha, local da largada, era tomado pela geração saúde. Bem, nem tão saúde. "Ontem tomei umas garrafas de vinho na minha namorada", dizia um.
O evento atraiu uma multidão de crianças ao redor da largada, todas com coletes das Casas Bahia, aberta há duas semanas na favela.
A chegada de forasteiros, porém, tirou dos anfitriões a esperança de vitória. "O da perna fina corre muito."
"E aquele lá atrás, de boné vermelho? Parece queniano."
Inédita na favela, a prova pegou o povo desprevenido. As 500 vagas não foram preenchidas e, minutos antes da largada, era possível conseguir número de peito menor que 200 para participar.
"Foram ao colégio e puseram a gente na hora", contou um aluno, que nem precisou doar 1 kg de alimento não-perecível, valor da inscrição.
Juracy Almeida, que montou uma equipe de garotos, lamentava a deserção de seus pupilos. "Não veio ninguém."
Sem o costume de correr, cada um usava o que tinha em casa: bermudas e camisas de algodão, tênis pesadões.
A vantagem dos autóctones era conhecer o percurso. Não é fácil dosar o esforço diante do sobe e desce da favela.
A segunda descida, porém, foi a mais íngreme que já peguei em provas de rua. Era preciso frear, para não perder o equilíbrio e rolar ladeira abaixo. Um dos cuidados necessários é com as lombadas, que não são pintadas e se confundem com o asfalto. Na terceira descida, tropecei, caí e meus óculos voaram uns cinco metros para baixo.
Na primeira das duas voltas, alguns já caminhavam. Felizmente, haviam retirado um trecho esburacado que desembocava em uma subida de terra cheia de pedras, um perigo para os corredores.
A melhoria não evitou contratempos. Dois atletas passaram mal no caminho. Uma mulher desmaiou ao chegar.
No final, todos se surpreendiam com o tempo de Leandro de Oliveira, vencedor após 12min34s. No pódio, ninguém da comunidade.
"Fiz em 16 minutos. Fui mal. Acontece", consolava-se o vigilante Josivaldo da Silva, um dos favoritos da favela.


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