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Análise crítica de clichês do futebol
TOSTÃO
Colunista da Folha
"O importante é competir." O
importante é vencer e respeitar o
adversário.
"Empatar fora de casa é bom."
Em um campeonato que a vitória
vale três pontos, empatar é sempre ruim.
"Se Deus quiser vamos vencer."
Não se pode duvidar da imparcialidade de Deus.
"O grupo está fechado." O grupo
tem de estar aberto, se não vira ditadura e panelinha.
"O grupo está unido." Se perder,
dirão o contrário.
"O time está perdendo a segunda bola." Só existe uma.
"Dois a zero é um resultado perigoso." É mais perigoso que três a
zero e menos que um a zero.
"Quero ver o time com pegada
forte." O time deve ter, antes de
tudo, talento.
"A defesa tem de marcar o adversário e não a bola." A defesa
tem que ter um olho na bola e o
outro no adversário.
"A melhor defesa é o ataque." O
time que só ataca ou só defende
bem, perde.
"Time com dez jogadores melhora." Raramente acontece, mas
como o jogador expulso geralmente é do time perdedor, a equipe é obrigada a reagir.
"O futebol é uma caixinha de
surpresas." Boa desculpa para as
derrotas.
"O técnico tem o time nas
mãos." Ele é que pensa. Jogador é
vendaval.
"Pênalti é tão sério que deveria
ser cobrado pelo presidente." Os
presidentes estão tão sem moral,
que é melhor cobrar o jogador.
"Vamos correr atrás do prejuízo." Se o time está perdendo, tem
de correr atrás do lucro.
"Vamos jogar no erro do adversário." Tem de jogar é no acerto
do time.
"Time que ganha não se mexe."
Se pode melhorar, por que não alterar a equipe?
"O time está rifando a bola." Sabia que o futebol era um jogo, mas
nem tanto.
"A bola procura o artilheiro." A
bola não enxerga, e é o artilheiro
que sabe, antes dos outros, aonde
a bola vai chegar.
"O time está marcando sob
pressão." Se é sob pressão, ele está
marcando a si mesmo.
"Pênalti é loteria." O pênalti depende da técnica, do estado emocional de quem cobra, dos treinamentos, do tamanho e competência do goleiro e da sorte.
"Vamos administrar o resultado." Futebol é muito imprevisível
e tem muitos mistérios para serem
administrados.
"O futebol é um bom produto."
Já foi o tempo que o futebol era
uma boa paixão.
"Brasil tem o melhor futebol do
mundo." Já teve. Hoje, está entre
os melhores, mas não é o melhor.
"O Brasil é o país do futebol." É
também da música, do Carnaval,
da enganação, da injustiça, corrupção e outras coisas mais.
"Para vencer é preciso jogar
feio." Esta é uma das maiores burrices do futebol.
"Goleiro brasileiro não sabe sair
do gol." Ele tem a mesma dificuldade quanto os de outros países.
"Treino é treino, jogo é jogo."
Nem sempre quem treina muito
joga bem, mas quem não treina,
não vai atuar bem, com exceção
de alguns gênios, como Didi, Romário e etc.
"Cruzamento no primeiro e segundo pau." Se a trave é de ferro,
por que pau?
"Romário é o novo matador do
Vasco." Esporte não é guerra. O
jogador fino, criativo e dócil em
campo como o Baixinho, não pode ser matador.
"A imagem vale mais que mil
palavras." Por que então os narradores de futebol gritam tanto
durante as partidas?
Wanderley Luxemburgo, com a
intenção de despertar um sentimento cívico, altruísta e de dedicação nos jogadores pré-olímpicos, pressionou e exigiu deles, após
uma recusa inicial, a abrir mão
dos prêmios, caso conquistem a
medalha de ouro. Obviamente, de
uma forma ou de outra, os atletas
e técnico serão materialmente
premiados.
Esta "boa ação" provavelmente
vai repercutir positivamente em
grande parte dos torcedores brasileiros, revoltados com os altos salários e ostentações de riquezas de
alguns poucos jogadores.
Se individualmente ou em conjunto estes jovens tomassem uma
atitude expontânea de não aceitar os prêmios ou de o oferecer para uma instituição de caridade, a
conduta teria um valor afetivo e
simbólico muito maior.
Se todos os envolvidos com a
Olimpíada (dirigentes, patrocinadores, intermediários e atletas de
todo o mundo) vão ganhar, direta
ou indiretamente, com a conquista, por que os profissionais jogadores brasileiros não irão receber
por seus trabalhos? A luta e dedicação ao título olímpico são muito mais importantes que o dinheiro, mas não são incompatíveis
com a premiação.
A conduta dos jogadores e do
técnico é demagógica, hipócrita e
amadora. O atual e falso espírito
olímpico, que não existe há muito
tempo, deveria ser substituído pelo verdadeiro espírito profissional
de seriedade, transparência, responsabilidade e coerência.
Tostão escreve às quartas e aos domingos
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