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FUTEBOL
Craques-que-não-foram: Maninho
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Os craques-que-não-foram
estão espalhados por aí. São
cobradores de ônibus, vendedores
de seguros, donos de bar, dentistas e garçons. Eles poderiam ter
sido grandes jogadores. Ou sumiriam na neblina dos bancos de reservas. Mas muitos nem chegaram a isso. Por opção, ou falta de,
não tentaram a vida de boleiro.
Tinham o talento, mas faltou-lhes
a chance ou a vontade.
Pelé, o maior de todos os craques-que-foram, teve as duas coisas. E ainda contou com a sorte de
passar por um grande professor,
Waldemar de Brito, nos seus tempos de Baquinho.
O Baquinho (o nome vem do
BAC, sigla do Bauru Atlético Clube) foi uma lenda na primeira
metade dos anos 50. Ganhava todos os jogos, de goleada. Tinha
três craques: Pelé, que teve mais
vitórias do qualquer outro atleta,
Paçoca, que acabou dono de um
bar chamado Vitória e morreu há
algum tempo, e Maninho, ponta-direita muito veloz e que possuía
o chute mais forte do time.
"Eu era uma espécie de Pepe, só
que jogando do outro lado", diz
Maurice Carlos de Oliveira, hoje
com 68 anos e morando em São
Paulo. Mesmo jogando no time
de Pelé, Maninho é que era o cobrador oficial de pênaltis e faltas.
Ele queria ser jogador de futebol
e seu ídolo era Cláudio Cristovam
de Pinho, o ponta-direita que é o
maior artilheiro do Corinthians
em todos os tempos.
Mas seu pai não gostava da
idéia. O futebol naquele tempo
não era visto como uma profissão
muito confiável. "Quem era da
classe média não gostava da idéia
de ter um filho jogador de futebol", explica Maurice. Por conta
disso teve que desprezar ofertas
do Flamengo e da Ferroviária.
Depois, quando a oposição do
pai diminuiu, Waldemar de Brito
escreveu-lhe uma carta de recomendação para Lula, e ele marcou um teste no Santos. Mas o time estava excursionando e não
chegou no dia marcado, e Maninho acabou desistindo do teste.
"Eu era jovem, não tinha muita
paciência para esperar."
Depois, aos 19 anos, quando já
estudava em São Paulo, fez um
treino no Palmeiras. Marcou dois
gols, mas não se deu bem com o
técnico e abandonou a idéia de
ser jogador.
Logo depois passou num concurso do Banco do Brasil, sonho
de muitos brasileiros naqueles
dias. Com o tempo, formou-se em
administração de empresas, subiu na carreira e se aposentou como funcionário do banco.
Maninho não virou jogador de
futebol. E até hoje seus amigos,
quando o vêem, falam: "Eu esperava que você fosse estourar..."
Mesmo com Waldemar de Brito
não era diferente. "Um dia, depois de muito tempo, nos encontramos e ele disse que, se fosse técnico da seleção, eu seria seu ponta-direita", conta Maninho.
Quinze anos atrás, ele fez análise e falou bastante sobre seus dias
de Baquinho e do sonho de ser jogador. "Vi que é uma ferida não
cicatrizada, porque alguém sempre fala disso. Então não tem jeito... Não existe um arrependimento, mas acho que nasci mesmo para ser jogador de futebol."
O professor de Pelé
Waldemar de Brito foi um
grande craque dos anos 30. Em
1933, no São Paulo, foi campeão
paulista e artilheiro com 33
gols. No mesmo ano, foi campeão brasileiro pela seleção
paulista. Na Copa-34, foi titular.
Depois, passou por Botafogo e
San Lorenzo (ARG). Em 1936,
voltou ao Brasil, onde jogaria
pelo Flamengo e seria campeão
carioca em 1939. Em 1943, foi
para a Portuguesa e dois anos
depois encerrava a carreira na
Portuguesa Santista. Mas ele ficou mais conhecido como descobridor de Pelé. Foi seu técnico no Baquinho e, segundo Maninho, era um grande professor
de futebol, daqueles que ensinam o bê-á-bá. "Ele ensinava
tudo, como cruzar, chutar de
bico e até bater pênalti. O Pelé
aprendeu muito com Waldemar, e hoje ninguém fala dele."
E-mail torero@uol.com.br
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