São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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JOSÉ ROBERTO TORERO

As voltas dos filhos pródigos


Quero saber qual evangelho Robinho seguirá no Santos, o de Maria Madalena, o de Judas ou o de Pilatos


MEU SANTO LEITOR , minha divina leitora, certamente vocês se recordam das aulas de catecismo. Eram emocionantes. Tinham heróis cabeludos, cidades que pegavam fogo, dilúvios e cobras falantes. E havia parábolas. Uma das mais famosas é a do filho pródigo, lembra? Só vagamente? Farei um resumo em um parágrafo.
"Um homem tinha dois filhos. Um dia, o mais novo pede a parte que lhe cabe dos pertences da família e sai pelo mundo. Gasta todo o dinheiro, passa a viver entre porcos e decide voltar para a casa paterna. Lá, é recebido de braços abertos pelo pai, que manda assar o melhor bezerro da fazenda e faz uma grande festa para o caçula. Quando o outro filho volta do campo, diz ao pai: "Há tantos anos que te sirvo e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me". Ao que o pai responde: "Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; porém é justo comemorarmos a volta de teu irmão, pois ele estava morto e voltou a viver, estava perdido e foi achado"."
Curiosamente, há outras versões dessa parábola nos evangelhos apócrifos. No de Maria Madalena, o filho pródigo fica com o pai para sempre, mas nunca mais trabalha, tornando-se um vagabundo. No de Judas, ele rouba o dinheiro da família e foge para um país distante, onde torra tudo mais uma vez. E, no de Pilatos, o caçula acaba assassinado pelo irmão.
Ultimamente, temos vários filhos pródigos no futebol. São atletas que, após passarem um tempo no exterior (ganhando dinheiro em vez de gastando), decidem voltar ao ninho.
Adriano é o grande exemplo de filho pródigo que retornou e deu alegria à sua família. Já com Vagner Love a coisa não foi bem. Ele parecia ser a peça que faltava para levar o Palmeiras à conquista do Brasileiro, mas fracassou. Se bem que, agora que foi adotado pela mesma família de Adriano, parece que vai dar certo, e os dois andam mais grudados que irmãos siameses. Quanto a Marcelinho Paraíba e Alex Dias, recém voltaram à casa paterna e ainda não sabemos o que podemos esperar deles.
Mas o filho pródigo do dia é Robinho. Sua situação não é das mais fáceis. Ele já não é mais o caçula, pois o Santos teve outro filho, Neymar, que também é amado pela torcida e está jogando um bolão. E ainda há o irmãos mais velho, Giovanni, que também tornou à casa e senta-se à cabeceira da mesa.
Se tivesse ficado, Robinho hoje poderia ser um semideus. Seria o maior artilheiro da era pós-Pelé no Santos e talvez fosse o melhor do mundo. Não segundo a Fifa, que só tem olhos para quem joga na Europa, mas segundo os torcedores do seu time, que, no fundo, é o que importa. Sua ida para o exterior recheou sua conta bancária e seu tetraneto não precisará trabalhar, mas, para sua carreira, foram quatro anos pouco frutíferos.
Estou curioso para ver como será a volta desse filho pródigo. Quero ver se ele fracassará, como no Evangelho de Maria Madalena, se só veio se recuperar para depois voltar ao país distante, como no Evangelho de Judas, se brigará com os irmãos, como no Evangelho de Pilatos, ou se viverá feliz para sempre, como no Novo Testamento.
Deus queira que seja esta última opção. Amém.

torero@uol.com.br


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