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BASQUETE
Nenê enterra tudo
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A primeira enterrada da
história do basquete (pelo
menos a história documentada)
data de 1943 e saiu das mãos de
um estudante de engenharia, filho de poloneses, orgulhoso demais para se importar com as gozações da arquibancada.
Quando a reitoria de Oklahoma A&M concedeu a Robert Kurland uma bolsa de estudos, a pilhéria tomou conta do campus.
Até os mais fiéis torcedores riram
do desengonçado adolescente de,
à época inacreditáveis, 2,10 m.
Phog Allen, técnico em Kansas e
um dos papas da modalidade, por
exemplo, lamentou o "circo" e caçoou da "aberração glandular".
Mas o treinador de Oklahoma,
o também legendário Henry Iba,
tinha suas próprias convicções. O
melhor caminho à cesta é o caminho mais curto, acreditava. Por
que apostar em atletas de 1,80 m,
que embromam com dribles à espera da chance de arremessar, se
um gigante poderia tranqüilamente despejar a bola pelo aro?
Alguns meses de exercícios para
desenvolver a coordenação motora bastaram para criar o primeiro
grande pivô do campeonato universitário dos EUA, a NCAA.
Bob "Montanha" Kurland estilhaçou todos os recordes de pontos do circuito e exibiu tamanho
furor na tabela defensiva que foi o
único responsável pela regra do
"goaltending" (desde então, não é
mais permitido desviar um arremesso que estiver na curva descendente em direção à cesta).
Kurland só não brilhou na nascente NBA porque não quis. Preferiu preservar o status de amador para poder disputar as Olimpíadas de Londres-48 e Helsinque-52 (conquistou duplo ouro).
De lá para cá, a enterrada ganhou plástica e explosão, prestígio e popularidade. Mesmo que
alguns puristas à Phog Allen teimem em se incomodar, não existe
lance que empolgue mais e que
simbolize com tanta propriedade
o poder do basquete americano.
Graças às cravadas, por exemplo, o massa-bruta Shaquille
O'Neal pode nem ser o mais querido, mas decerto se tornou o
mais conhecido nome da NBA.
Shaq, 2,16 m e 154 kg, aliás, enterra tantas bolas que acaba ofuscando a qualidade de seu basquete, marcado pelo ótimo passe e
por um vasto repertório ofensivo.
Mas, como alguns leitores insistem, resolvi pesquisar e esclarecer
essa parada de vez -de novo,
com o auxílio dos arquivos do
sempre alerta Harvey Pollock.
A numeralha do veterano estatístico do Philadelphia ainda não
foi atualizada com os jogos desta
temporada. Mesmo assim, oferece
uma conclusão surpreendente.
Até 2003, Shaq colecionava
8.449 cestas na fase regular da
NBA, das quais 2.698 saíram em
enterradas. O número absoluto é
recorde, mas a incidência de cravadas (uma em cada 3,13) não.
À frente do pivozão do Los Angeles Lakers, ficou um trio de jovens talentos. Em terceiro, Kenyon Martin (New Jersey), uma estufada a cada três cestas. Em segundo, Amare Stoudemire (Phoenix), uma a cada 2,8. Em primeiro lugar, apareceu... Nenê Hilário
(Denver), uma a cada 2,4. Quem
podia imaginar que um brasileiro
um dia seria o rei das enterradas
da glamourosa NBA?
Enterrada 1
Os anotadores a serviço de Harvey Pollack têm a pachorra de anualmente destrinchar por "estilo" as enterradas. A seguir, os sub-rankings da temporada passada. Total: Shaq, 251 cravadas. Com muita
potência: Shaq, 147. Paradas: Jamaal Magloire (New Orleans), 59.
Após drible: Pau Gasol (Memphis), 50. Ponte aérea: Martin, 49. No
rebote: Stromile Swift (Memphis) e Stoudemire, 18. Na corrida: Caron Butler (Miami), 8. De costas: Richard Jefferson (New Jersey), 15.
Enterrada 2
Sempre achei que a CBB desperdiçava energia com tal levantamento.
Mas agora, sequioso por uma notinha para fechar a coluna, agradeço
de coração, viu? O líder em estufadas no Nacional-04 é Estevam
(Uberlândia), com 1,6, seguido de Tischer (Ribeirão Preto), com 1,2.
E-mail melk@uol.com.br
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