São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Dez anos

Em 1997, a Indy florescia na tentativa de conquistar o mundo; a atual Champ Car, hoje, é sucessão de fracassos

DO TERRAÇO sobre a sala de imprensa de Homestead, tudo parecia excessivamente rápido, absurdamente confuso, tremendamente confiante. E, sendo franco, verde-amarelo demais. Eram sete os brasileiros largando na prova de abertura da Indy naquele 2 de março de 1997. Gugelmin, Gil, Boesel, Christian, Gualter, Ribeiro e Moreno. Na preliminar, a Indy Lights, havia outros seis: Kanaan, Castro Neves, Da Matta, Daré, Garcia Jr. e Paese -um sétimo, Negri, se juntaria à trupe na segunda etapa.
Era um recorde. E carenagens e capacetes estampavam isso: marcas brasileiras de cigarro, cerveja, escola de informática e "empresas" suspeitas que até hoje não desvendei. Nos EUA, a categoria também era uma festa. O grid tinha o "Schumacher da Indy", Zanardi, que ganhava tudo. Tinha o promissor Moore, dono do capacete mais bonito que já vi e que chegava aos circuitos num Ford Cobra azul escuro. Tinha Vasser, que enchia a cara de caipirinha nas feijoadas patrocinadas pela Brahma, com direito a show de mulatas. E tinha os veteranos de sempre, Andretti, Unser Jr., Rahal... Tudo parecia conspirar a favor.
Por aqui, a F-1 patinava nas mãos de Barrichello e ainda era tachada de assassina por muitos. Ribeiro havia vencido a prova inaugural da Indy no Rio, no ano anterior, e Emerson, recuperando-se do "pancão" em Michigan, falava em voltar e alardeava outra prova no país -em Salvador. Por lá, havia uma sensação de superioridade. A IRL era tratada como birra passageira do mimado herdeiro de Indianápolis, que logo voltaria, rabo entre as pernas. Eram quatro as marcas de chassi: Reynard, Lola, Swift e Penske. E quatro as fábricas de motores: Mercedes-Benz, Ford, Honda e Toyota.
Há exatos dez anos, naquele 2 de março, a Indy florescia. Mais: arrancava para um campeonato que soava como o ataque derradeiro no seu projeto de conquistar o mundo. Fast forward. Neste 2 de março, o que restou daquela Indy chama-se Champ Car -urgh! Ninguém sabe quantos e quais pilotos estarão alinhados no grid em Las Vegas, em 8 de abril. Na última sessão de testes, 15 pilotos, apenas um brasileiro, Bruno Junqueira. Que não quer ficar por lá. Há só um chassi, Panoz, e um só motor, Ford.
O que deu errado? Muita coisa. Mas o pecado fatal foi ter virado as costas para o mercado americano. Os dias festivos são passado distante, já esfarelado na memória. Entre os brasileiros da turma de cima, só Gualter, Boesel e Christian ainda correm regularmente, na Stock. Castro Neves e Kanaan brilham na IRL. Da Matta tenta voltar após o acidente grave do ano passado. Zanardi perdeu as pernas, Moore morreu em Fontana, Andretti aposta tudo em seu filho.
Ah, sim... Aquela foi minha primeira vez numa corrida com uma credencial no pescoço. Mas isso não tem a menor importância.

SINTOMA
A maior prova do fracasso da Champ Car chama-se Sébastien Bourdais. O francês, tricampeão na categoria, não consegue nem vaga de piloto de testes na F-1. Hoje, engrossa a fila do desemprego.

VANTAGEM
O tira-teima que faltava veio no Bahrein. Na terça, Raikkonen testava o novo pacote aerodinâmico da Ferrari, e Massa ficou à frente. Na quarta, a experiência foi para o brasileiro, que continuou à frente. A situação, claro, pode mudar. Mas o cenário para o início de Mundial da Ferrari já parece bem claro.

CINZA
O exemplo dado pela Honda é válido. Mas a F-1 ainda tem um enorme caminho para se classificar de "esporte verde". Caminho que passa pela questão do combustível.

fseixas@folhasp.com.br


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