São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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JUCA KFOURI

O dérbi em quatro atos


O que se pode esperar, neste domingo, de um clássico com tanta história, tanto drama, tanta emoção?

TUDO! Eis a resposta.
Só não se pode esperar que decida o título, como já aconteceu outras vezes. Mas até mesmo a classificação do Palmeiras para as semifinais está em jogo nesta tarde no Morumbi, porque uma derrota praticamente sepultará qualquer ambição.
Derrota improvável se formos considerar nomes e investimentos nos dois elencos, mas derrota normal diante não só das circunstâncias como da história do clássico, um dia chamado de "derby" paulista pelo jornalista Thomas Mazzoni, de "A Gazeta Esportiva".
Entre os mais de 300 confrontos disputados pelos dois rivais, cada torcedor tem os seus prediletos, pelas mais diversas razões. Este colunista tem quatro, três deles decisivos, um só emocionante -e bote emoção nisso.
O primeiro decidiu o Campeonato Paulista do 4º Centenário de São Paulo, que aconteceu em 1954, embora a partida tenha sido disputada em 6 de fevereiro de 1955.
O Corinthians jogava pelo empate, e o 1 a 1, gol alvinegro de Luizinho, o Pequeno Polegar, lhe deu o 15º titulo estadual, coisa que só voltaria a se repetir 22 anos depois. O gol alviverde, que naquela tarde jogou de azul por superstição (a cor da casa de Savóia, a família imperial italiana), foi de Nei, depois de Humberto Tozzi empurrar o goleiro corintiano, o lendário Gilmar dos Santos Neves.
Vi o jogo na casa do engenheiro João Marino, a quem chamava de tio e que mais tarde foi o braço direito de Pietro Maria Bardi no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Tio João era o único que tinha TV e carro, com o qual nos levou, meu pai, meus irmãos e eu, para comemorar no recém-inaugurado parque Ibirapuera. Trata-se da primeira memória bem viva que tenho na vida, então com quase cinco anos.
Dezesseis anos depois, em 25 de abril de 1971, num jogo que não valia nada e em que o Palmeiras era disparado o melhor, o corintiano viveu uma emoção enlouquecida, ao ver o rival fazer 2 a 0, no primeiro tempo, dois de César; o Corinthians empatar no segundo, em 2 a 2, com gol de Adãozinho, um torpedo de 40 metros que Leão não deteve; o Palmeiras fazer 3 a 2 na saída de bola com Leivinha; o Corinthians empatar na saída de bola com Tião, e Mirandinha fazer 4 a 3, aos 43. Inesquecível.
Como foram inesquecíveis as vitórias alviverdes, a que valeu o título paulista de 1993, depois de 16 anos de fila, inapeláveis 4 a 0, 3 a 0 no tempo normal, com gols de Zinho, Evair e Edílson, e 1 a 0 na prorrogação, gol de pênalti de Evair, e a pela Libertadores de 2000.
Esta primeira vitória na tarde do dia 12 de junho de 1993, e a segunda, na noite de 6 de junho de 2000.
O Corinthians tinha começado a semifinal com um 4 a 3 sobre o Palmeiras, que conseguiu um heróico, e totalmente inesperado, 3 a 2, de virada, gol de Galeano, no segundo jogo, provocando a decisão por pênaltis. Foi então que São Marcos pegou a cobrança de Marcelinho, e o Palmeiras foi para a final.
Alguém dirá que faltou falar da decisão paulista de 1974, a do gol do palmeirense Ronaldo, primo de Tostão, ou da de 1999, das embaixadinhas do corintiano Edílson...
Prova de que dérbi é dérbi, mesmo com um de roxo e outro de limão.

blogdojuca@uol.com.br


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