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Após 20 anos, irmãos voltam a remar
Ricardo e Ronaldo Carvalho, bicampeões pan-americanos, retomam treinos para ajudar o remo e buscar feitos no master
Profissionais bem-sucedidos, casados e com filhos, atletas se esforçam para encaixar o esporte na agenda e sonham em ir a Mundial e Olimpíada
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Faixa branca na testa, cavanhaque, sorriso aberto e uma
lágrima solitária escorrendo
pelo rosto. A imagem de Ronaldo Carvalho emocionado no
pódio do Pan-Americano de
Caracas-1983 eternizou uma
das mais importantes conquistas do remo nacional. E deu impulso para uma das mais vitoriosas parcerias do país.
Ao lado do irmão Ricardo,
Ronaldo acumulou dois ouros
em Pans, três participações
olímpicas, além de títulos sul-
-americanos e brasileiros. A dupla deixou o barco em 1989 para se dedicar à profissão e à família. Mas, 20 anos depois, descobriu que ainda tem fôlego.
Ronaldo e Ricardo estão de
volta ao remo, juntos, e já sonham em brilhar em Mundiais
e Olimpíada. Agora, mais velhos, na categoria master.
"Deu saudade, remamos a vida toda juntos. Vimos uma
chance de voltar a conviver
nesse ambiente, com os amigos, e também de voltarmos a
ter uma atividade comum", diz
Ronaldo, 49, três enteadas.
"Nossas prioridades são família e trabalho, mas vamos
tentar conciliá-los com competições também. Antes, nosso
objetivo era só o resultado, agora o processo é que será mais
importante", afirma Ricardo,
48, dois enteados e uma filha.
Desde a aposentadoria, os irmãos se dedicaram a diferentes
carreiras. Ronaldo é dentista, e
Ricardo, tesoureiro de uma
grande empresa multinacional.
A vida de executivo não só
afastou Ricardo do esporte como lhe rendeu peso extra. O então ex-remador chegou a atingir 127 kg e só perdeu 30 deles
após seis meses de exercícios e
dieta. "Se não emagrecesse, não
voltaria para o remo. O barco
implorava para eu não subir nele. Se eu tentava remar, não
conseguia fazer direito por causa da barriga", conta ele. "Voltar a remar com meu irmão
também está ligado a ter um estilo de vida mais saudável."
Superada a barreira da balança, foi hora de cair na água. A
dupla treina de duas a três vezes por semana na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, e também
utiliza um simulador de remo.
Mesmo após 20 anos, asseguram que a técnica que os consagrou foi pouco afetada pela
aposentadoria. Os irmãos, que
competiam na categoria dois
sem (cada um usa apenas um
remo), agora estão no skiff duplo (com dois remos cada um).
"Na primeira vez que sentei
no barco, parecia que tinha parado havia uma semana, e não
20 anos. O remo mudou, teremos de nos adaptar e treinar
muito, mas é quase como andar
de bicicleta", declara Ricardo.
Além de incomodar antigos
adversários, os irmãos também
querem utilizar seu retorno à
água para ajudar o esporte. Planejam lançar desafios para estimular novos competidores a
remar e seduzir ex-atletas a seguirem seu caminho.
"Acho que só de estarmos na
água daremos o exemplo de que
o remo é um esporte em que se
pode ter uma carreira longa.
Podemos ajudar atrair mais jovens e a manter a memória do
remo", afirma Ronaldo.
A dupla quer também influenciar mudanças na condução da modalidade no país.
"Os resultados têm deixado a
desejar. Não ganhamos ouro no
Pan do Rio, mesmo com investimento. Não temos nada pessoal contra os dirigentes, mas
achamos que é necessário haver renovação", diz Ronaldo.
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