São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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FUTEBOL
Campanha "Esporte e Fé" distribuirá folhetos e bíblias nos estádios franceses e organizará torneio religioso
Evangélicos promovem cruzada na Copa

RODRIGO BERTOLOTTO
da Reportagem Local


"O verdadeiro gol é buscar a glória de Deus." Essa é a convocação da campanha "Esporte e Fé", que será promovida pelos evangélicos franceses durante a Copa do Mundo.
O principal objetivo é conquistar mais adeptos aos 300 mil evangélicos da França utilizando a associação entre religião e futebol.
A cruzada, que acontece nas dez cidades-sede, é organizada pela Aliança Evangélica Francesa (150 igrejas no país), com a ajuda de 20 organizações cristãs locais e 19 do exterior, entre elas a associação brasileira Atletas de Cristo.
"A Copa é o momento propício para evangelizar. Infelizmente, as pessoas agora preferem ir aos estádios a ir às igrejas. Então, a palavra de Deus também tem de ir aos estádios", afirma Stéphane Lauzet, secretário-geral da Aliança Evangélica Francesa.
A campanha, que em francês tem o título de "Sport et Foi", terá um custo total de US$ 1 milhão e envolverá mais de 600 voluntários.
Ela incluirá distribuição maciça de folhetos nas proximidades dos estádios, evangelização ao ar livre em lugares estratégicos com corais gospel e distribuição de novos testamentos e vídeos com testemunhos de atletas cristãos.
Nesse último item se destaca um vídeo com depoimentos de seis atletas de Cristo da seleção tetracampeã: Taffarel, Jorginho, Paulo Sérgio, Zinho, Mazinho e Muller.
Além disso, haverá um torneio de futebol só para evangélicos.
Nele, jogarão times amadores com atletas de 12 países (África do Sul, Canadá, República Tcheca, Rússia, Costa Rica, Índia, Tailândia, Brasil, Argentina, Inglaterra, Estados Unidos e França).
A diferença é que nos intervalos das partidas, no lugar das instruções do técnico, haverá uma série de testemunhos de fé.
Haverá também jogos dos evangélicos contra equipes de presidiários nas cadeias do país.
Um dos projetos já foi abandonado: as "casas de hospitalidade", porque os religiosos franceses não concordaram em abrir suas casas para receber os visitantes.
Por seu lado, o futebol também irá aos templos. Serão colocados telões nas igrejas para os seguidores acompanhem as partidas da Copa, com direito a debate e testemunhos nos intervalos.
Segunda experiência
A primeira investida das igrejas evangélicas em Copas foi em 1994, quando equipes argentinas e inglesas fizeram um torneio contra times dos EUA. Houve também oito clínicas de futebol e evangelizações para crianças.
"Dessa vez será mais organizado. Os franceses estão caprichando", diz Alex Dias Ribeiro, diretor nacional dos Atletas de Cristo.
Fundada em 1979 e detentora de 6.500 membros, a associação levará representantes para a Copa evangélica. Além disso, membros célebres, como os ex-jogadores Silas e Baltazar (cujo apelido era "o artilheiro de Deus"), devem fazer palestras e cultos na campanha.
"Não vamos exigir que os evangélicos da seleção brasileira, como Taffarel e César Sampaio, participem, afinal, o objetivo deles é o pentacampeonato. Mas, se houver uma brecha, eles vão nos ajudar", afirma Ribeiro, que diz rezar para que os Atletas de Cristo tenham seis representantes na seleção de 98, como aconteceu em 94.
As seleções da Nigéria e da Coréia do Sul são as que têm mais atletas evangélicos, enquanto a Jamaica é dirigida por um deles, o técnico brasileiro Renê Simões.
História sangrenta
A França é tradicionalmente um país de católicos (45 milhões), a maioria deles não-praticante. As igrejas protestantes somam aproximadamente 950 mil adeptos, pouco mais que os islâmicos (750 mil) e judeus (700 mil).
A história dos protestantes na França é cheia de conflitos.
Durante toda a segunda metade do século 16, católicos e protestantes se enfrentaram em uma verdadeira guerra religiosa e política.
O ápice aconteceu em 1572, quando a rainha Catarina de Médicis ordenou o assassinato de milhares de protestantes, episódio que ficaria conhecido como "A Noite de São Bartolomeu".
A paz religiosa só foi restabelecida em 1598 com o édito de Nantes criado pelo rei Henrique 4º.
Pelo censo de 1670, havia 882 mil protestantes na França -número próximo ao atual. Já em 1815, eles eram apenas 472 mil. De lá para cá, o número de protestantes cresceu lentamente.



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