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FUTEBOL
Já ganhou muito
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Sejam quais forem as probabilidades, não dá para saber como o Corinthians vai terminar este semestre. Apesar do belo trabalho na temporada, o time pode
terminar sem título nenhum. Aí a
torcida e a mídia vão dizer: "Parreira fracassa em clube mais uma
vez". E se alguém disser: "Fracassou coisa nenhuma, ele levou o time às finais", sempre vai haver
quem retruque: "Mas o que foi
que ele ganhou?".
Muitos falam assim de Jair Picerni e perguntam: "Quando é
que o São Caetano vai ficar livre
do estigma?". Ma che belo estigma! Em três anos seguidos, brigou
pau a pau com os grandes. Não
ganhou nada? Discordo. Ganhou
pencas de jogos contra os tradicionais dominadores do pedaço.
A alegria do título é para um só,
mas a da boa campanha também
não é para todos.
Voltando ao Corinthians: há
anos o clube sofria com tumultos
entre torcedores, jogadores, patrocinadores, diretores e técnicos.
No começo do ano apostei que
Parreira conseguiria, no mínimo,
trazer tranqüilidade para o clube,
mas ele fez muito mais: conseguiu
montar um time eficiente com as
peças que tinha, quase sem nenhuma contratação.
O time titular do Corinthians
tem vários jogadores com números altos na camisa: Fábio Luciano (14), Anderson (23), Fabrício
(25), Deivid (18), Leandro (19)... E
um lateral-direito com a 8. Por
vários motivos, Parreira teve de
abrir mão dos titulares originais,
mas teve olho clínico para escolher, entre 22, os 11 que jogavam
melhor juntos e decidir qual papel
entregar a cada um.
Quando Marcelinho saiu, procurava-se um substituto, como se
alguém precisasse fazer exatamente a mesma função. Luis Mário era um candidato, e Fumagalli também, avalizado pelo próprio Parreira. Quando Luizão
saiu, só se falava em buscar outro
centroavante. Ainda se fala, graças à notória falta de gols do ataque (em relação à quantidade de
chances criadas, já que os números não são tão ruins assim).
Em vez de teimar tentando cobrir esses buracos, Parreira desenhou outro esquema. Aos poucos,
os jogadores foram se soltando, se
conhecendo melhor e acreditando
mais neles mesmos. Se no começo
o lado esquerdo (Kléber, Gil e Ricardinho) era o grande diferencial, hoje em dia os dois lados se
movimentam com criatividade e
perigo para o adversário.
O grupo fez com que cada uma
das partes melhorasse -Deivid e
Rogério talvez sejam os casos
mais marcantes- e o talento de
cada um faz que o trabalho em
grupo seja mais eficiente. Os mais
novos e os mais velhos se complementam (como Fabrício e Vampeta), e o time de Parreira, que
sempre defendeu a utilidade de
oito homens atrás da linha da bola, se protege muito bem e ataca
com seis ou sete, com belas jogadas ensaiadas ou habilmente improvisadas. O Corinthians é muito "aplicado taticamente" -coisa que, dizem, os jogadores brasileiros não são.
Palmas para o Parreira, mesmo
que "não ganhe nada" com o Corinthians. No mínimo por lembrar que há alternativas viáveis
entre os 4-4-2 ou 3-5-2 da vida;
que um time pode atacar bem e se
defender com tranqüilidade; que
é possível ter um grupo forte com
individualidades destacadas; que
um técnico pode ser claro e honesto e manter-se fora de briguinhas
áridas com dirigentes, patrocinadores, jogadores e torcedores.
Quem diria que um dia eu ia
gostar tanto do Parreira.
Outras alegrias
O São Paulo deu a volta ao
mundo com escalas no céu e
no inferno, mas o show que
deu durante várias semanas
seguidas trouxe satisfação
para muitos fãs de bom futebol, são-paulinos ou não. Foi
bom ou não foi? Foi! É como
um casamento que acaba: o
fim não quer dizer que não
deu certo. Deu certo mas acabou. Tudo na vida é bom durante um certo tempo.
Outras tristezas
O que dizer da eliminação do
Palmeiras no Torneio Rio-São Paulo? Bem feito para a
diretoria? Não dá para ser tão
sádico, porque não é só a diretoria quem perde. É a torcida toda, é o time. Que não
conseguiu vencer nenhum
dos dois jogos na semifinal, é
verdade, mas também não
perdeu. E mesmo assim jogou a melhor campanha no
lixo... por causa de três cartões a mais.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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