São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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FUTEBOL

Já ganhou muito

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Sejam quais forem as probabilidades, não dá para saber como o Corinthians vai terminar este semestre. Apesar do belo trabalho na temporada, o time pode terminar sem título nenhum. Aí a torcida e a mídia vão dizer: "Parreira fracassa em clube mais uma vez". E se alguém disser: "Fracassou coisa nenhuma, ele levou o time às finais", sempre vai haver quem retruque: "Mas o que foi que ele ganhou?".
Muitos falam assim de Jair Picerni e perguntam: "Quando é que o São Caetano vai ficar livre do estigma?". Ma che belo estigma! Em três anos seguidos, brigou pau a pau com os grandes. Não ganhou nada? Discordo. Ganhou pencas de jogos contra os tradicionais dominadores do pedaço. A alegria do título é para um só, mas a da boa campanha também não é para todos.
Voltando ao Corinthians: há anos o clube sofria com tumultos entre torcedores, jogadores, patrocinadores, diretores e técnicos. No começo do ano apostei que Parreira conseguiria, no mínimo, trazer tranqüilidade para o clube, mas ele fez muito mais: conseguiu montar um time eficiente com as peças que tinha, quase sem nenhuma contratação.
O time titular do Corinthians tem vários jogadores com números altos na camisa: Fábio Luciano (14), Anderson (23), Fabrício (25), Deivid (18), Leandro (19)... E um lateral-direito com a 8. Por vários motivos, Parreira teve de abrir mão dos titulares originais, mas teve olho clínico para escolher, entre 22, os 11 que jogavam melhor juntos e decidir qual papel entregar a cada um.
Quando Marcelinho saiu, procurava-se um substituto, como se alguém precisasse fazer exatamente a mesma função. Luis Mário era um candidato, e Fumagalli também, avalizado pelo próprio Parreira. Quando Luizão saiu, só se falava em buscar outro centroavante. Ainda se fala, graças à notória falta de gols do ataque (em relação à quantidade de chances criadas, já que os números não são tão ruins assim).
Em vez de teimar tentando cobrir esses buracos, Parreira desenhou outro esquema. Aos poucos, os jogadores foram se soltando, se conhecendo melhor e acreditando mais neles mesmos. Se no começo o lado esquerdo (Kléber, Gil e Ricardinho) era o grande diferencial, hoje em dia os dois lados se movimentam com criatividade e perigo para o adversário.
O grupo fez com que cada uma das partes melhorasse -Deivid e Rogério talvez sejam os casos mais marcantes- e o talento de cada um faz que o trabalho em grupo seja mais eficiente. Os mais novos e os mais velhos se complementam (como Fabrício e Vampeta), e o time de Parreira, que sempre defendeu a utilidade de oito homens atrás da linha da bola, se protege muito bem e ataca com seis ou sete, com belas jogadas ensaiadas ou habilmente improvisadas. O Corinthians é muito "aplicado taticamente" -coisa que, dizem, os jogadores brasileiros não são.
Palmas para o Parreira, mesmo que "não ganhe nada" com o Corinthians. No mínimo por lembrar que há alternativas viáveis entre os 4-4-2 ou 3-5-2 da vida; que um time pode atacar bem e se defender com tranqüilidade; que é possível ter um grupo forte com individualidades destacadas; que um técnico pode ser claro e honesto e manter-se fora de briguinhas áridas com dirigentes, patrocinadores, jogadores e torcedores.
Quem diria que um dia eu ia gostar tanto do Parreira.

Outras alegrias
O São Paulo deu a volta ao mundo com escalas no céu e no inferno, mas o show que deu durante várias semanas seguidas trouxe satisfação para muitos fãs de bom futebol, são-paulinos ou não. Foi bom ou não foi? Foi! É como um casamento que acaba: o fim não quer dizer que não deu certo. Deu certo mas acabou. Tudo na vida é bom durante um certo tempo.

Outras tristezas
O que dizer da eliminação do Palmeiras no Torneio Rio-São Paulo? Bem feito para a diretoria? Não dá para ser tão sádico, porque não é só a diretoria quem perde. É a torcida toda, é o time. Que não conseguiu vencer nenhum dos dois jogos na semifinal, é verdade, mas também não perdeu. E mesmo assim jogou a melhor campanha no lixo... por causa de três cartões a mais.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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