São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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FUTEBOL

Renasceram as esperanças

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após a Copa do Mundo de 2002, escrevi que o Brasil poderia formar um time superior ao do Mundial e tão encantador quanto os de 58, 70 e 82. Estava otimista porque a seleção tinha vários dos melhores jogadores do mundo, no nível dos maiores da história do futebol brasileiro.
A equipe estava também formada e poderia evoluir bastante. A única mudança inicial em relação ao time do Mundial foi a troca de um zagueiro pelo Zé Roberto. Posteriormente, Rivaldo saiu e entrou Kaká, outro extraordinário jogador. Surgiram ainda ótimas promessas.
Nestes quase dois anos, surpreendentemente, a seleção jogou mal a maior parte das partidas e fez poucos gols.
Contra a Hungria, o Brasil deu um show no primeiro tempo. Foi devido à fraqueza do adversário, que não sabia atacar nem marcar? Por isso e porque os craques estavam inspirados, houve jogadas pelo meio e pelas pontas, o time tomou a bola mais na frente e não foi surpreendido no contra-ataque. Uma das qualidades do Parreira é arrumar bem a defesa. Os zagueiros estão sempre bem posicionados.
Edmilson teve uma boa atuação, mas foi excessivamente elogiado. Qualquer passe que dava para o lado era exaltado como uma nova postura. O jogo estava fácil. Mesmo assim, Edmilson perdeu umas bolas no meio-campo, e a maior parte dos seus passes longos caía nos pés do outro time. Isso contraria a filosofia do Parreira de manter a posse de bola. Não dá para o Edmilson ser o volante titular. É um bom zagueiro.
Luis Fabiano mostrou que será um ótimo reserva. Em situações especiais, ele e Ronaldo poderão formar uma boa dupla. Juninho Pernambucano tem tudo para continuar bem. Ele marca como um volante e avança como um meia. Isso será importante quando os três da frente estiverem bem marcados. Mas, neste jogo, Renato também brilharia.
Por causa de uma excelente atuação contra uma fraca equipe não se pode dizer que a seleção já está ótima e que o time titular deva ser esse. Porém renasceram as minhas esperanças de se formar uma espetacular seleção. Craques não faltam.

Piorou a qualidade
Ainda é cedo para fazer uma análise correta, mas as três melhores equipes em 2003 (Cruzeiro, Santos e São Paulo) pioraram neste ano, embora sejam ainda favoritas ao lado do São Caetano. Isso sugere que o Brasileirão será mais equilibrado.
Apesar de poucas mudanças na equipe, o Cruzeiro está longe do time brilhante de 2003. Sem Alex, a equipe perde o encanto. O passe do Alex contra a Hungria, com a bola raspando a cabeça do zagueiro e caindo nos pés do Ronaldinho, foi primoroso.
O São Paulo jogou muito mal contra Atlético-PR e Fluminense, mas venceu. Sempre que uma equipe ganha e joga mal, os técnicos, como Cuca, em vez de reconhecerem a má atuação, dizem, com desprezo às criticas, que o time não é para dar show. A equipe não tem de dar show, porém tem de jogar bem, senão vai perder vários jogos na frente.
O São Paulo tem excesso de meias ofensivos razoáveis, nenhum ótimo armador e nenhum bom reserva para o ataque. O promissor Diego Tardelli foi afastado do elenco.
O Santos continua sem um bom centroavante e com uma frágil defesa. A equipe, que empolgou com jovens talentosos e com uma tática inovadora e eficiente, joga hoje no tradicional esquema com três armadores (volantes) e o Diego na ligação com o Robinho e outro atacante. Acabaram as ótimas duplas pelas laterais.
Robinho está jogando bem, fazendo gols, mas poderia atuar muito melhor. Ele corre por todos os lados e muitas vezes se perde. Está na hora dele colocar ordem no seu talento, encontrar o seu lugar e, daí, criar e improvisar.
Assim como as pessoas precisam ter uma identidade, uma ética de comportamento, todo atleta necessita ter uma posição de referência. Isso vale também para o grande craque -que Robinho não é.

Férias
A coluna só voltará a ser publicada no dia 23 de maio. Vou desfrutar de outros prazeres e sair da rotina. Estou viciado em futebol. Essa é uma doença perigosa e contagiosa. Até a Lambreca, minha cachorra e companheira, me liberou e disse com o olhar (os animais não mentem) que preciso de férias. Até lá.


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