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BASQUETE
Dois atos, uma só atitude
MELCHIADES FILHO
COLUNISTA DA FOLHA
Primeiro ato: cercado de
jogadores de pouco nome e
pouco talento, o craque tenta reconduzir aos mata-matas o clube
de tantas glórias e tradições.
Já na largada do campeonato,
Kobe Bryant atua como se precisasse resolver cada uma das posses de bola das partidas. Pela primeira vez, arremessa mais (27,2)
do que qualquer outro na NBA.
Em janeiro e fevereiro, engata
uma marcha desconhecida. Registra média superior a 40 pontos
nos dois meses, algo que a liga
norte-americana não testemunhava havia quatro décadas.
O momento máximo acontece
em 22 de janeiro, quando o ala
converte 28 de 46 arremessos e assegura a vitória, de virada, sobre
o Toronto. Os 81 pontos só perdem para os míticos 100 de Wilt
Chamberlain em 1962. Kobe fecha a primeira fase como artilheiro do torneio, com a média de
35,4 pontos -a oitava maior da
história e a mais alta em 19 anos
(desde os 37,1 da versão pré-títulos de Michael Jordan).
Astro & companhia festejam a
classificação aos playoffs. Ficam
em sétimo na Conferência Oeste,
com 45 vitórias em 82 rodadas.
Bem melhor do que em 2004/05
(11º, com 11 triunfos a menos).
Segundo ato: o craque tenta esticar a temporada do "azarão"
contra o Phoenix, ironicamente
um adversário de múltiplas armas ofensivas -sete integrantes
ostentam recordes pessoais no
ano, a começar pelo maestro Steve Nash, líder em assistências e favoritíssimo ao seu segundo troféu
de melhor jogador da NBA.
O basqueteiro faz as contas. Se
os caras já tocaram o basquete de
uma nota só na fase regular, que
dirá nos playoffs, em que os jogos
ficam mais nervosos? Vai sobrar
Kobe para tudo quanto é lado.
A série começa. Conforme o esperado, o craque atrai dupla
marcação toda vez que é acionado. Conforme o inesperado, não
parte para a cesta. Orientado pelo
técnico Phil Jackson, outro gênio,
o fominha reduz seus chutes em
30%. Desfaz-se da bola com passes rápidos e agudos, acionando
colegas mais próximos da tabela.
A defesa do Phoenix se espanta
com a generosidade. Tropeça nas
coberturas e permite que renegados como Kwame Brown e tapa-buracos como Luke Walton praticamente dobrem de produção.
A derrota por cinco pontos no
primeiro confronto soa como vitória. Os pangarés que Kobe carregou por meses passam a acreditar que pertencem de fato à elite.
O Kobe Bryants volta a ser o Los
Angeles Lakers e fatura os três
duelos seguintes -sempre com o
astro na armação e outros titulares com dois dígitos no placar.
Domingo, de quebra, como se
quisesse mostrar a todos que não
perdeu a mão, Kobe mete a cesta
que leva os californianos à prorrogação e a que sela a vitória, ambas com o cronômetro zerando.
Pobre de quem fez beicinho para o primeiro ato, falou em fraude
nos 81 pontos, apontou excessos
de exibicionismo e repetiu o chavão politicamente correto do basquete solidário para justificar os
seus preconceitos (não deve gostar de Oscar e Hortência também). O segundo ato ainda não
acabou, mas a peça do melhor jogador do mundo já está pregada.
Pipoca 1
O ala do Phoenix participou dos dois vexames da seleção dos EUA (o
sétimo lugar no Mundial-02 e o bronze na Olimpíada-04). Em 2005,
foi humilhado pelo San Antonio. Agora, ante os Lakers, todos os seus
números despencam, com a exceção do de faltas cometidas. Shawn
Marion é um dos melhores da NBA... quando nada está em jogo.
Pipoca 2
O espevitado Leandrinho (Phoenix) também não se encontrou nos
mata-matas. Sua pontuação caiu quase pela metade (13,1 para 7,5)!
Pipoca 3
Quer ter uma idéia da virilidade do ataque do time? Olhe a média de
lances livres. A deste Phoenix (18) é a mais baixa da história da NBA.
E-mail melk@uol.com.br
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