São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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BASQUETE

Dois atos, uma só atitude

MELCHIADES FILHO
COLUNISTA DA FOLHA

Primeiro ato: cercado de jogadores de pouco nome e pouco talento, o craque tenta reconduzir aos mata-matas o clube de tantas glórias e tradições.
Já na largada do campeonato, Kobe Bryant atua como se precisasse resolver cada uma das posses de bola das partidas. Pela primeira vez, arremessa mais (27,2) do que qualquer outro na NBA.
Em janeiro e fevereiro, engata uma marcha desconhecida. Registra média superior a 40 pontos nos dois meses, algo que a liga norte-americana não testemunhava havia quatro décadas.
O momento máximo acontece em 22 de janeiro, quando o ala converte 28 de 46 arremessos e assegura a vitória, de virada, sobre o Toronto. Os 81 pontos só perdem para os míticos 100 de Wilt Chamberlain em 1962. Kobe fecha a primeira fase como artilheiro do torneio, com a média de 35,4 pontos -a oitava maior da história e a mais alta em 19 anos (desde os 37,1 da versão pré-títulos de Michael Jordan).
Astro & companhia festejam a classificação aos playoffs. Ficam em sétimo na Conferência Oeste, com 45 vitórias em 82 rodadas. Bem melhor do que em 2004/05 (11º, com 11 triunfos a menos).
Segundo ato: o craque tenta esticar a temporada do "azarão" contra o Phoenix, ironicamente um adversário de múltiplas armas ofensivas -sete integrantes ostentam recordes pessoais no ano, a começar pelo maestro Steve Nash, líder em assistências e favoritíssimo ao seu segundo troféu de melhor jogador da NBA.
O basqueteiro faz as contas. Se os caras já tocaram o basquete de uma nota só na fase regular, que dirá nos playoffs, em que os jogos ficam mais nervosos? Vai sobrar Kobe para tudo quanto é lado.
A série começa. Conforme o esperado, o craque atrai dupla marcação toda vez que é acionado. Conforme o inesperado, não parte para a cesta. Orientado pelo técnico Phil Jackson, outro gênio, o fominha reduz seus chutes em 30%. Desfaz-se da bola com passes rápidos e agudos, acionando colegas mais próximos da tabela.
A defesa do Phoenix se espanta com a generosidade. Tropeça nas coberturas e permite que renegados como Kwame Brown e tapa-buracos como Luke Walton praticamente dobrem de produção.
A derrota por cinco pontos no primeiro confronto soa como vitória. Os pangarés que Kobe carregou por meses passam a acreditar que pertencem de fato à elite.
O Kobe Bryants volta a ser o Los Angeles Lakers e fatura os três duelos seguintes -sempre com o astro na armação e outros titulares com dois dígitos no placar.
Domingo, de quebra, como se quisesse mostrar a todos que não perdeu a mão, Kobe mete a cesta que leva os californianos à prorrogação e a que sela a vitória, ambas com o cronômetro zerando.
Pobre de quem fez beicinho para o primeiro ato, falou em fraude nos 81 pontos, apontou excessos de exibicionismo e repetiu o chavão politicamente correto do basquete solidário para justificar os seus preconceitos (não deve gostar de Oscar e Hortência também). O segundo ato ainda não acabou, mas a peça do melhor jogador do mundo já está pregada.

Pipoca 1
O ala do Phoenix participou dos dois vexames da seleção dos EUA (o sétimo lugar no Mundial-02 e o bronze na Olimpíada-04). Em 2005, foi humilhado pelo San Antonio. Agora, ante os Lakers, todos os seus números despencam, com a exceção do de faltas cometidas. Shawn Marion é um dos melhores da NBA... quando nada está em jogo.

Pipoca 2
O espevitado Leandrinho (Phoenix) também não se encontrou nos mata-matas. Sua pontuação caiu quase pela metade (13,1 para 7,5)!

Pipoca 3
Quer ter uma idéia da virilidade do ataque do time? Olhe a média de lances livres. A deste Phoenix (18) é a mais baixa da história da NBA.

E-mail melk@uol.com.br


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