São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Advogado do diabo


Ronaldo sempre decide, todos dizem, e na quarta o futuro do Corinthians estará em jogo, não só na Libertadores


DESDE QUE chegou ao Parque São Jorge, Ronaldo sempre teve em Souza seu melhor advogado. Alguém dirá que a defesa se baseia nos números do centroavante reserva. Mas os modestos dois gols de Souza em suas 14 partidas de 2010 servem muito mais como acusação do que como defesa. Acusam um time que não tem plano B para o ex-melhor jogador do planeta.
Na sexta-feira, Souza defendeu Ronaldo em outra esfera. Atendeu ao telefone celular no vestiário da Fazendinha e, enquanto ajeitava o uniforme para subir ao campo de treino, conversou sobre a confirmação do Fenômeno como titular, mesmo depois da péssima atuação contra o Flamengo, no Maracanã.
Se Souza fosse Mano Menezes... "Eu também escalaria o Ronaldo. Ele tem que jogar, porque sempre decidiu jogos e vai decidir de novo.
Vai fazer gol na quarta, e isso será um prêmio por seu trabalho duro nas últimas semanas." O reserva do ataque é também uma reserva ética.
O argumento de que Ronaldo sempre decidiu partidas já não convence nem Mano Menezes, que apontou para o que os outros não fazem, em vez de dizer o que Ronaldo faz, para explicar a permanência do Fenômeno na equipe.
Há duas semanas, o técnico cobrou dedicação de Ronaldo e conseguiu uma rotina exemplar de treinos. Trabalhar dez dias antes de um jogo decisivo pode dar a certeza de boa atuação a um atleta de 25 anos. Não foi suficiente para Ronaldo.
Não no primeiro jogo pós-treinos. Bem, o Fenômeno sempre decidiu...
Pois o Corinthians contratou Garrincha em 1966 e confiou que ele, aos 32 anos, decidiria partidas como fazia aos 28. Não resolveu. Garrincha marcou apenas dois gols pelo Corinthians. Ronaldo já anotou 28 e ajudou a ganhar o Paulistão e a Copa do Brasil no ano passado.
Ainda assim, o argumento que restou, até mesmo para Mano Menezes, não é o que Ronaldo pode fazer. É o que os outros não conseguem. Ronaldo não tem que jogar porque hoje é capaz de marcar cinco gols em 15 partidas. Precisa estar em campo contra o Flamengo porque Souza tem dois gols em 14 jogos, Iarley marcou duas vezes em 20 jogos.
Só se somasse seus cinco gols aos quatro da dupla Souza-Iarley é que Ronaldo alcançaria sua média de tentos do ano passado.
Talvez o erro de Mano Menezes tenha sido demorar demais para ter seu diálogo franco com o Fenômeno. Andres Sanchez discorda. Na sexta, o presidente deixou claro que não pretende mexer no comando do Corinthians, mesmo em caso de eliminação na quarta. "Não muda nada! Não posso pegar o trabalho de três anos em que tudo foi feito do jeito certo e dizer que está errado por causa de um jogo", diz Andres. Então, Mano fica no Brasileirão, qualquer que seja o resultado da quarta, certo? Provavelmente.
Melhor usar a história como farol.
Em 1999, o Corinthians foi eliminado nas quartas de final da Libertadores pelo Palmeiras, superou a crise e fechou o ano com o título brasileiro.
No ano seguinte, caiu nas semifinais contra o Palmeiras, demitiu todo mundo e terminou o Brasileirão em penúltimo lugar. A experiência diz que, daqui para a frente, o próximo jogo pode ser o último. Mas pode ser o primeiro de Ronaldo.

pvc@uol.com.br


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