São Paulo, sexta, 2 de maio de 1997.

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XADREZ
Computador tenta revanche
Kasparov faz 2¦ defesa da humanidade

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York

Garry Kasparov preparou-se para o segundo desafio contra o computador Deep Blue com mais empenho do que se estivesse defendendo o título mundial.
``A vitória é questão de honra'', disse o enxadrista à Folha, comentando a revanche entre os dois, que terá início amanhã, em Nova York.
Na primeira série entre eles, disputada no ano passado, Kasparov levou a melhor, apesar de ter perdido a primeira partida.
Agora, porém, a tarefa será mais complicada. A IBM, que fabricou o Deep Blue, aumentou a capacidade do computador de procura do melhor lance no xadrez entre milhões de alternativas possíveis.
Em 1996, ele podia analisar 100 milhões de jogadas por segundo. Agora, são 250 milhões.
No total, o desafio é composto por seis partidas. Além da de amanhã, haverá jogos no domingo e nos dias 6, 7, 10 e 11.

Folha - Quando joga contra um humano, há sentimentos e emoções. Quando se enfrenta um computador, os sentimentos se restringem a um dos lados. Qual a graça de jogar contra uma máquina?
Garry Kasparov -
Mostrar que o homem ainda é superior. Qual é o grande desafio da humanidade? Criar um robô que seja equivalente ao cérebro humano, não é?
Pois bem, você dormiria em paz sabendo que pode ser superado pelo computador? Eu, com certeza, não. E aí está o desafio, meu maior desafio, chego a dizer. Quero mostrar que o homem ainda é melhor, é imbatível.
Folha - O xadrez é um jogo que exige muita paciência e concentração. Por não ter emoção, é certo dizer que o computador já começa em vantagem?
Kasparov -
Ele começa em vantagem, não por não ter emoção, porque as minhas eu domino bem quando jogo, mas por eu desconhecer o estilo de jogo dele.
O Deep Blue não é o mesmo que eu já cheguei a enfrentar. Ele foi modificado. A partir do momento em que entender seu funcionamento, eu domino o jogo.
Folha - É melhor enfrentar um outro ser humano ou um robô?
Kasparov -
Olha... É diferente. Contra um humano, qualquer reação, qualquer gesto, gota de suor, qualquer barulho mudam o jogo. Podem irritar, incentivar, motivar, atrapalhar... Eu gosto disto.
Agora, contra a máquina, o desafio é outro. Eu jogo pela humanidade e contra quem a criou, quem aposta nela, quem acredita mais na máquina do que no homem.
Folha - O que dizer aos que criticam os jogos contra uma máquina, aos que vêem nisso um desvirtuamento da modalidade?
Kasparov -
Como você acha que qualquer bom enxadrista treina? Contra computadores, claro. A resposta aos críticos está aí...

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