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XADREZ
Computador tenta revanche
Kasparov faz
2¦ defesa da
humanidade
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York
Garry Kasparov preparou-se para o segundo desafio contra o
computador Deep Blue com mais
empenho do que se estivesse defendendo o título mundial.
``A vitória é questão de honra'',
disse o enxadrista à Folha, comentando a revanche entre os dois, que
terá início amanhã, em Nova York.
Na primeira série entre eles, disputada no ano passado, Kasparov
levou a melhor, apesar de ter perdido a primeira partida.
Agora, porém, a tarefa será mais
complicada. A IBM, que fabricou o
Deep Blue, aumentou a capacidade do computador de procura do
melhor lance no xadrez entre milhões de alternativas possíveis.
Em 1996, ele podia analisar 100
milhões de jogadas por segundo.
Agora, são 250 milhões.
No total, o desafio é composto
por seis partidas. Além da de amanhã, haverá jogos no domingo e
nos dias 6, 7, 10 e 11.
Folha - Quando joga contra um
humano, há sentimentos e emoções. Quando se enfrenta um computador, os sentimentos se restringem a um dos lados. Qual a graça
de jogar contra uma máquina?
Garry Kasparov - Mostrar que o
homem ainda é superior. Qual é o
grande desafio da humanidade?
Criar um robô que seja equivalente
ao cérebro humano, não é?
Pois bem, você dormiria em paz
sabendo que pode ser superado
pelo computador? Eu, com certeza, não. E aí está o desafio, meu
maior desafio, chego a dizer. Quero mostrar que o homem ainda é
melhor, é imbatível.
Folha - O xadrez é um jogo que
exige muita paciência e concentração. Por não ter emoção, é certo
dizer que o computador já começa
em vantagem?
Kasparov - Ele começa em vantagem, não por não ter emoção,
porque as minhas eu domino bem
quando jogo, mas por eu desconhecer o estilo de jogo dele.
O Deep Blue não é o mesmo que
eu já cheguei a enfrentar. Ele foi
modificado. A partir do momento
em que entender seu funcionamento, eu domino o jogo.
Folha - É melhor enfrentar um
outro ser humano ou um robô?
Kasparov - Olha... É diferente.
Contra um humano, qualquer reação, qualquer gesto, gota de suor,
qualquer barulho mudam o jogo.
Podem irritar, incentivar, motivar, atrapalhar... Eu gosto disto.
Agora, contra a máquina, o desafio é outro. Eu jogo pela humanidade e contra quem a criou, quem
aposta nela, quem acredita mais
na máquina do que no homem.
Folha - O que dizer aos que criticam os jogos contra uma máquina,
aos que vêem nisso um desvirtuamento da modalidade?
Kasparov - Como você acha que
qualquer bom enxadrista treina?
Contra computadores, claro. A
resposta aos críticos está aí...
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