São Paulo, sábado, 02 de junho de 2007

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JOSÉ GERALDO COUTO

Apolo e Dioniso

Com estilos opostos, Kaká e Ronaldinho, os "desertores", são os melhores do mundo, mas ontem não fizeram nada

O PEDIDO de Kaká e Ronaldinho para não disputar a Copa América gerou controvérsia. Aqui neste espaço, Xico Sá chamou os dois de meninos mimados e mal-agradecidos, enquanto Soninha defendeu o direito de ambos a férias. Ontem, em Inglaterra x Brasil, Galvão Bueno torrou a paciência de tanto choramingar contra a recusa de Kaká. Para o locutor mais oficial do Brasil, o jogador "não entendeu ainda seu papel no futebol mundial".
Não vou entrar nessa polêmica. Acho que todos têm razão, ou pelo menos cada um tem a sua. Quero aqui tentar uma aproximação com a grande a arte dos dois moços. Kaká é apolíneo, Ronaldinho é dionisíaco. Não, não me refiro à evidente beleza do primeiro e à suposta feiúra do segundo. Até porque, se eu fosse mulher ou gay, provavelmente acharia mais atraente o charme moleque de Ronaldinho do que o bom-mocismo carola de Kaká. Falo é do futebol de cada um. O de Kaká é límpido, objetivo, equilibrado, clássico. O de Ronaldinho é floreado, imprevisível, exuberante, barroco. Kaká é a linha reta; Ronaldinho, a curva, quando não a voluta.
Kaká está para Pelé como Ronaldinho está para Maradona, sem qualquer juízo de valor. Os quatro são geniais. Os melhores do mundo, dois do presente, dois do passado. Ontem, contra a Inglaterra, nenhum dos dois fez grande coisa. A marcação inglesa foi muito boa e faltou ao Brasil inteligência para fugir dela. Em vez de abrir pelas pontas, Kaká, Ronaldinho e Robinho tentavam carregar a bola sozinhos pelo meio, afunilando para um gargalo cheio de jogadores de branco.
Ainda assim, Kaká parecia ser o mais lúcido e objetivo. Sua saída, no segundo tempo, parece ter sido mais represália de Dunga ao seu pedido de dispensa do que propriamente uma modificação tática importante.
Aliás, se Dunga estava pensando em experimentar e aprimorar o elenco com que vai contar na Copa América, por que tirou Robinho de campo ao colocar Diego? Os dois, que provavelmente serão titulares no torneio continental, se entendem por música e poderiam achar juntos o caminho das pedras até o gol de Robinson.
O empate acabou vindo de um jeito que ninguém esperaria: uma cabeçada de Diego num cruzamento de Gilberto Silva. O contrário seria algo mais previsível. O futebol tem dessas coisas. O jogo valeu, no fim das contas, pelo lindo estádio e pela oportunidade de conhecermos Afonso e Naldo. Muito prazer.

Nó tático
Quarta, no Olímpico, o Grêmio foi tão superior ao Santos que dava a impressão de ter o dobro de jogadores em campo. Os melhores santistas -Zé Roberto, Kléber, Cléber Santana, Pedrinho- mal tinham espaço para respirar, que dirá para criar qualquer coisa. Se Vanderlei Luxemburgo fosse o técnico do time vencedor, todos diriam que ele tinha dado um "nó tático" no rival.

Clássicos em aberto
O Santos pega o Corinthians amanhã com a cabeça inchada pela derrota para o Grêmio. O Fluminense pega o Vasco pensando no Figueirense. Com isso, os times teoricamente mais fracos podem surpreender. Mas, como dizia o outro, "clássico é clássico e vice-versa".

jgcouto@uol.com.br


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