São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2010

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Dunga rejeita assédio de Mugabe

Treinador veta pedido do ditador do Zimbábue de visita da seleção ao palácio presidencial

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A HARARE (ZIMBÁBUE)

Mal a seleção brasileira pisou no Zimbábue, na noite de ontem, já começou a sofrer o assédio do ditador Robert Mugabe, interessado em faturar politicamente com a presença da equipe.
A Folha apurou que Mugabe enviou os ministros do Turismo e da Educação para o hotel Rainbow Towers, que hospeda a seleção, com a missão de convencer a equipe a visitá-lo nesta manhã no palácio presidencial.
Por ordem de Dunga, a comitiva brasileira recusou, alegando que a delegação precisa de privacidade.
Os ministros sugeriram então que pelo menos o treinador fosse ao encontro de Mugabe. Essa possibilidade ainda estava em aberto ontem à noite, mas a tendência era de nova negativa de Dunga.
Mugabe, no poder há 30 anos, quer para si a paternidade do jogo marcado para hoje no Estádio Nacional de Harare, que tem capacidade para 60 mil torcedores.
Em um país fanático por futebol, uma imagem do presidente ao lado dos jogadores é valiosa. Com ou sem o encontro privado, o presidente deve ir à partida.
Ontem à noite, a seleção já teve uma amostra de sua popularidade ao chegar ao hotel. Os jogadores atravessaram um corredor polonês de torcedores histéricos. Kaká foi agarrado e beijado.
Em campo, o Brasil não deve ter trabalho. A equipe do Zimbábue é formada por jogadores que estão fora de forma e sem condições físicas de jogar 90 minutos.
A avaliação é do próprio técnico, Norman Mapeza, 38.
"São jogadores que estão de férias há duas ou três semanas e que vieram jogar pela importância que enfrentar o Brasil tem para o país e para suas carreiras. A falta de preparo físico deles é um problema sério para mim", disse.
O técnico pré-selecionou 34 atletas, dos quais 19 locais e 15 "estrangeiros" que jogam em campeonatos de países como África do Sul, Dinamarca, Chipre, França e Inglaterra. A principal estrela é o atacante Benjani, 31, que acaba de ser dispensado pelo britânico Manchester City e está desempregado.
Ontem, ele fez um treino leve pela manhã. À tarde, pediu dispensa do coletivo. "Estou precisando descansar", reclamou Benjani.
O técnico, que só hoje pela manhã anuncia oficialmente os 23 que participarão da partida, afirmou que colocará alguns atletas locais em campo, mas que não pode prescindir dos "estrangeiros".
"Eles são as estrelas da minha equipe. O jeito vai ser fazer várias substituições ao longo da partida", disse.


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