São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2010

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TOSTÃO

A arte não morreu


Ouço muito em Johannesburgo que a seleção de 1994 e a atual são parecidas. Não vejo dessa forma


É injustificável uma Copa do Mundo ser jogada com uma bola de que a maioria dos goleiros, defensores e atacantes não gosta.
Somente os jogadores que têm contrato de publicidade com o fabricante elogiaram a bola.
Seria como se um grande pianista tocasse em um dos grandes teatros do mundo com um piano de que ele não gostasse.
Nos treinos em Johannesburgo, o Brasil se preparou para jogar contra a Coreia do Norte.
A equipe marcou por pressão, o que raramente faz, e os reservas atuaram com duas linhas bastante recuadas de quatro jogadores, como joga a seleção norte-coreana. Hoje, no amistoso contra a seleção do Zimbábue, o Brasil deverá repetir essa estratégia.
Se a seleção, em vez de viajar e fazer dois amistosos contra fraquíssimos adversários, repetisse os ótimos e intensos treinos que tem feito, seria melhor tecnicamente. Os jogadores ficariam mais descansados e correriam menos risco de contusões. Mas a rica CBF só pensa em faturar.
Ouço muito aqui em Johannesburgo que a seleção brasileira de 1994 e a atual são bastante parecidas. Não vejo dessa forma.
As seleções se parecem apenas por conta da presença de dois volantes marcadores. Gilberto Silva faz a mesma função de Mauro Silva, e Felipe Melo, a mesma de Dunga.
O estilo da seleção de 1994 era mais lento, de mais posse de bola e de mais troca de passes no meio-campo, esperando o momento certo para tentar a jogada decisiva. O estilo do time atual é mais de contra-ataques rápidos.
Não havia, em 1994, um meia de ligação como Kaká. Naquela Copa, os meias Raí (depois Mazinho), pela direita, e Zinho, pela esquerda, atuavam pelos lados, formando dupla com os laterais. Na seleção brasileira atual, apenas Elano faz dupla com Maicon, pela direita.
Não foi Dunga quem mudou a forma de jogar da seleção. Foram os técnicos, durante décadas.
Com a globalização, o futebol brasileiro incorporou a forma de jogar dos europeus. Querem transformar o futebol em um jogo essencialmente pragmático e programado.
Diminuíram muito os dribles e as trocas de passes. Diminuiu a fantasia, mas o futebol-arte não morreu. Quem tem talento joga bonito.
É lindo ver um drible desconcertante de Robinho. O contra-ataque, como tem feito a seleção brasileira, iniciando com as arrancadas de Kaká, também é bonito.


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