São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Ainda dá tempo?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O resultado mais justo talvez tivesse sido o empate, mas a verdade é que o Brasil criou muito poucas chances de gol e ainda deu brechas para o Uruguai criar as suas.
Onde foi que a seleção errou?
A meu ver, a mudança de esquema (de 3-5-2 para 4-4-2) às vésperas da partida foi fatal.
O Brasil padeceu, por um lado, de uma marcação indecisa, sobretudo no primeiro tempo. Nem marcou por pressão no campo do adversário nem esperou recuado para partir no contra-ataque.
Por outro lado, não houve -como já se temia- uma passagem qualificada da defesa para o ataque. O time não conseguiu criar jogadas ofensivas capazes de furar o bloqueio uruguaio. Repetiu-se a previsibilidade burocrática de jornadas anteriores.
A bola não era trabalhada no meio-campo. Ou havia "ligação direta" entre a defesa e o ataque, com chutões de Antônio ou Roberto Carlos que pegavam a zaga uruguaia de frente, ou Juninho partia sozinho para cima do adversário.
Rivaldo e Juninho comprovaram que não são propriamente armadores. O primeiro ficou preso na marcação e sumiu do jogo. O segundo mostrou a valentia, o atrevimento e a habilidade de sempre, mas sem resultados práticos.
Os volantes Emerson e Roque Júnior, principalmente este último, mostraram que os treinos de passes instituídos por Felipão não são supérfluos. Suas bolas chegavam mais redondas para os uruguaios do que para os brasileiros.
Cafu e Roberto Carlos, por sua vez, dão a impressão de não ter mais o mesmo ímpeto de outros tempos. Raramente tentam jogadas agudas de linha de fundo e tampouco oferecem opções, como a tabela curta e o drible em direção à área (como Serginho, Felipe, Júnior, Silvinho etc.)
Faltou também inteligência à equipe brasileira. Depois da entrada do cabeceador Jardel só foram alçadas duas bolas na área uruguaia, uma delas bem longe do atacante.
Aliás, uma coisa é chegar à linha de fundo e cruzar com eficiência para trás. Outra coisa é levantar a bola de qualquer jeito, a partir da intermediária, para ver o que acontece. Pois o que acontece, quase sempre, é o corte da defesa adversária e o contragolpe.
É impossível saber o que aconteceria se Felipão pudesse ter contado com Mauro Silva e Lúcio, dois de seus titulares, no esquema com três zagueiros.
Difícil também saber se Fábio Rochembach seria uma melhor opção de volante que o improvisado Roque Júnior.
Para além dessas dúvidas conjunturais, continuo com minha discordância mais básica, estrutural, com relação ao meio de campo. A meu ver, um time cresce em mobilidade e poder ofensivo quando pode contar com meio-campistas que sabem ao mesmo tempo marcar, sair jogando, lançar e atacar.
No Brasil de hoje, quem mais se aproxima desse perfil, repito, são Vampeta, os dois Ricardinhos (do Corinthians e do Cruzeiro) e Juninho Pernambucano. O fato de eles não estarem nem convocados é preocupante.
Como o país parece sempre se fiar num salvador da pátria, já estão colocando todas as esperanças no retorno de Ronaldo. Com ele ou sem ele, esse time precisa treinar, treinar, treinar. Enquanto é tempo.


Olha quem fala
Pelé, na Globo, antes do jogo de ontem: "O negócio é não aceitar provocações, não revidar". Rivellino, comentando a partida na Bandeirantes: "Esse clima de cordialidade tem de continuar. Brigar não tem nada a ver". Quem te viu, quem te vê. Na Copa de 70, Pelé meteu o cotovelo na cara de um uruguaio. Em 1976, no Maracanã, foi a vez de Rivellino se desentender com Ramirez, lateral da Celeste que correu atrás dele até o vestiário.

Fora de foco
A transmissão pela Globo -provavelmente com imagens de uma emissora uruguaia- foi um desastre. A toda hora o telespectador perdia lances importantes enquanto as câmeras mostravam o banco de reservas ou davam close num atleta fora da jogada. Nesses momentos, virava transmissão de rádio, em que tínhamos de imaginar o acontecia. Um verdadeiro martírio.

E-mail - jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Dia-a-dia dos clubes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.