|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Ainda dá tempo?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O resultado mais justo
talvez tivesse sido o empate, mas a verdade é que o Brasil
criou muito poucas chances de
gol e ainda deu brechas para o
Uruguai criar as suas.
Onde foi que a seleção errou?
A meu ver, a mudança de esquema (de 3-5-2 para 4-4-2) às
vésperas da partida foi fatal.
O Brasil padeceu, por um lado, de uma marcação indecisa,
sobretudo no primeiro tempo.
Nem marcou por pressão no
campo do adversário nem esperou recuado para partir no contra-ataque.
Por outro lado, não houve
-como já se temia- uma passagem qualificada da defesa para o ataque. O time não conseguiu criar jogadas ofensivas capazes de furar o bloqueio uruguaio. Repetiu-se a previsibilidade burocrática de jornadas
anteriores.
A bola não era trabalhada no
meio-campo. Ou havia "ligação
direta" entre a defesa e o ataque, com chutões de Antônio ou
Roberto Carlos que pegavam a
zaga uruguaia de frente, ou Juninho partia sozinho para cima
do adversário.
Rivaldo e Juninho comprovaram que não são propriamente
armadores. O primeiro ficou
preso na marcação e sumiu do
jogo. O segundo mostrou a valentia, o atrevimento e a habilidade de sempre, mas sem resultados práticos.
Os volantes Emerson e Roque
Júnior, principalmente este último, mostraram que os treinos
de passes instituídos por Felipão
não são supérfluos. Suas bolas
chegavam mais redondas para
os uruguaios do que para os
brasileiros.
Cafu e Roberto Carlos, por sua
vez, dão a impressão de não ter
mais o mesmo ímpeto de outros
tempos. Raramente tentam jogadas agudas de linha de fundo
e tampouco oferecem opções, como a tabela curta e o drible em
direção à área (como Serginho,
Felipe, Júnior, Silvinho etc.)
Faltou também inteligência à
equipe brasileira. Depois da entrada do cabeceador Jardel só
foram alçadas duas bolas na
área uruguaia, uma delas bem
longe do atacante.
Aliás, uma coisa é chegar à linha de fundo e cruzar com eficiência para trás. Outra coisa é
levantar a bola de qualquer jeito, a partir da intermediária,
para ver o que acontece. Pois o
que acontece, quase sempre, é o
corte da defesa adversária e o
contragolpe.
É impossível saber o que aconteceria se Felipão pudesse ter
contado com Mauro Silva e Lúcio, dois de seus titulares, no esquema com três zagueiros.
Difícil também saber se Fábio
Rochembach seria uma melhor
opção de volante que o improvisado Roque Júnior.
Para além dessas dúvidas conjunturais, continuo com minha
discordância mais básica, estrutural, com relação ao meio de
campo. A meu ver, um time
cresce em mobilidade e poder
ofensivo quando pode contar
com meio-campistas que sabem
ao mesmo tempo marcar, sair
jogando, lançar e atacar.
No Brasil de hoje, quem mais
se aproxima desse perfil, repito,
são Vampeta, os dois Ricardinhos (do Corinthians e do Cruzeiro) e Juninho Pernambucano. O fato de eles não estarem
nem convocados é preocupante.
Como o país parece sempre se
fiar num salvador da pátria, já
estão colocando todas as esperanças no retorno de Ronaldo.
Com ele ou sem ele, esse time
precisa treinar, treinar, treinar.
Enquanto é tempo.
Olha quem fala
Pelé, na Globo, antes do jogo de ontem: "O negócio é não aceitar
provocações, não revidar". Rivellino, comentando a partida na
Bandeirantes: "Esse clima de cordialidade tem de continuar.
Brigar não tem nada a ver". Quem te viu, quem te vê. Na Copa
de 70, Pelé meteu o cotovelo na cara de um uruguaio. Em 1976,
no Maracanã, foi a vez de Rivellino se desentender com Ramirez, lateral da Celeste que correu atrás dele até o vestiário.
Fora de foco
A transmissão pela Globo -provavelmente com imagens de
uma emissora uruguaia- foi um desastre. A toda hora o telespectador perdia lances importantes enquanto as câmeras mostravam o banco de reservas ou davam close num atleta fora da
jogada. Nesses momentos, virava transmissão de rádio, em que
tínhamos de imaginar o acontecia. Um verdadeiro martírio.
E-mail - jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Dia-a-dia dos clubes Índice
|