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FUTEBOL
Tire o seu sorriso do caminho
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
A noite não começa bem. Pego o táxi na São Clemente e
peço: Maracanã. Dez minutos
mais tarde, pouco avancei. Parece
que todo o Rio vai para a final da
Copa do Brasil e se estrangula no
gargalo do túnel Rebouças. Desisto: fujamos pela Real Grandeza,
deixe-me na estação Botafogo.
No metrô, em meio aos cânticos
da torcida, um gaiato pergunta:
quem matou Odete Roitman?
Meia-dúzia fuça o fundo do baú e
cantarola o "Lá, lá, lá, Brizola",
jingle de 89. Logo entra um tipo
com a inscrição "Brizola presente" na camiseta. O caudilho Leonel, torcedor do Bangu, precisou
morrer para dar as caras.
Em torno do estádio, faixas do
Flamengo campeão. Uma por R$
3, duas por R$ 5. Provocações aos
vascaínos: "Bacalhau, bundão;
chegou a hora de ver televisão".
Cruzo com o Pierre, que bate: "A
Ivete Sangalo já tá aí". Ouço a
canção da arquibancada: "Poeira, levantou poeira". Não vejo a
Sangalo agora nem a verei depois.
Num canto, pequena porém valente, a Fúria Andreense vive e luta. Mas a festa já tem dono. Que
não vem do ABC.
Um minuto de silêncio e a dúvida: será pelo velho Briza, esquecido no primeiro jogo? Não, aqui
não se respeita nem minuto de silêncio. Placar e alto-falantes não
esclarecem. Que falta faz o Victorio Gutemberg, locutor do Maracanã morto outro dia.
Abel escalou três volantes. Da
Silva e Róbson compõem a dupla
mais defensiva. Douglas fica à
frente. Róbson se machuca e dá
lugar a outro volante: Jônatas.
Agora, estão atrás Da Silva e
Douglas. Jônatas arma (ou deveria). Ainda haverá uma terceira
parelha: Da Silva e Jônatas. A celebração da covardia. O Flamengo metaforiza o Brasil.
Abel chama Roger na lateral,
penso no conto do Sérgio Sant"Anna: o técnico sabia que os jogadores não entendiam bulhufas
das suas preleções. Que Roger nada entende, eu sei. Será que o
Abel sabe?
Na fileira de trás da tribuna,
dois jornalistas conversam. O
mais novo conta que a filha insiste: por que só ela não tem irmãozinho? Os pais cumpriram a tabela para engravidar. Tentaram na
segunda, na quarta e na sexta.
Mas faltaram no domingo. O
mais velho quer saber: quanto
tempo, nos dias de hoje, as jovens
esperam para transar com o namorado?
Há algo mais interessante em
campo? Ao Flamengo patético
corresponde um time que, obrigado a vencer, encera. O Carlos Simon, clone do Gardel, ousa dar
um minuto de acréscimo. Deve
ser um sádico daqueles.
No segundo tempo, uma só voz:
"Eu sou Flamengo de coração; eu
sou do clube que é sempre campeão". Sic. O Santo André volta
para matar. Sandro Gaúcho marca, Elvis não morreu amplia. As
testemunhas do fiasco vão embora aos magotes. Um nostálgico
exuma a queda diante do Bonsucesso em 68. Não faltará quem fale da tragédia de 50. Poucos ficam
para aplaudir o Santo André com
a taça. Aplaudo de pé. E vejo os
rubro-negros, caídos na real, passarem com a sua dor.
Dilemas
Há drama maior que o de Felipão ao ter que escolher entre
Pauleta e Nuno Gomes? Claro,
o de Abel no Flamengo. Com as
opções Negreiros, Diogo e Jean.
Pelo menos um sempre joga.
Registro
Para a história sincera do futebol: Rincón foi um jogadoraço.
Merecia mais respeito e gratidão do Corinthians no adeus.
Burrice
Vaiavam Parreira e Kaká,
vaiam Luis Fabiano. São inteligentes certos são-paulinos.
Na TV
Paulo Calçade, na Record, e Roberto Assaf, na Sportv, dão aula
de futebol nos comentários da
Euro. Um duelo empatado com
sabor de vitória do espectador.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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