São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010

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Holanda fica careta até na numeração

Time com titulares de 1 a 11 é outro componente do atual pragmatismo

DOS ENVIADOS A PORT ELIZABETH

A versão 2010 é provavelmente a mais careta de toda a história da seleção holandesa. Do discurso "de resultados" à forma pragmática de jogar, a Holanda que hoje enfrenta o Brasil em Port Elizabeth em quase nada lembra suas versões mais famosas.
Até a numeração dos jogadores é quadrada, certinha. A Holanda deverá entrar em campo hoje com seus 11 titulares com camisas de 1 a 11.
Os cinco da defesa (incluindo o goleiro) vão do 1 ao 5, os do meio são 6, 8 e 10, e os jogadores que atuam na frente usam a 7, a 9 e a 11.
A única dúvida do técnico Bert van Marwijk é no ataque. Kuyt (camisa 7), titular em todas as partidas, incluindo a vitória por 2 a 1 sobre a Eslováquia nas oitavas de final, pode dar lugar a Van der Vaart (23), mas esse panorama não é provável.
O que é uma regra consolidada na seleção brasileira é uma novidade na Holanda.
Evocar a Laranja Mecânica de 1974 é até exagero. Num time em que os jogadores não tinham posições fixas, os maiores craques eram atacantes (para a Fifa) que usavam os números 14 e 15 -Cruyff e Rensenbrink, respectivamente. O goleiro Jan Jongbloed vestia a 8.
A segunda geração brilhante de jogadores holandeses também tinha essa característica, com mais discrição. Na Copa de 1990, o centroavante Van Basten era o 9 e o meia-atacante Gullit usava a 10, porém o meio-campista Rijkaard jogava com a 3.
Na Copa de 1998, a Holanda, que foi eliminada pelo Brasil nos pênaltis na semifinal, tinha como titulares o atacante Zenden, com a 12, e o meia Davids, com a 16.
A "numeração fixa" da Holanda na Copa da África do Sul não é acaso. O treinador já tinha o time definido, de 1 a 11, quando os atletas foram inscritos -como o Brasil.

NOVOS TEMPOS
A numeração é mais um sintoma de uma nova era na seleção holandesa.
Ontem, na entrevista coletiva oficial na véspera de cada partida, Van Marwijk foi bombardeado com perguntas sobre a mudança de estilo no futebol da Holanda -e no do Brasil também.
"É sempre o mesmo dilema", comentou, a respeito do debate. "Na Copa de 1974 e em alguns campeonatos europeus, fizemos bons jogos, mas desperdiçamos muitas oportunidades."
Após espetar a geração que encantou, mas não venceu, o treinador avisou que não está na Copa a passeio. Foram quatro jogos e quatro vitórias, contra Dinamarca (2 a 0), Japão (1 a 0), Camarões (2 a 1) e Eslováquia (2 a 1).
"Já houve muitas ocasiões em que a seleção ganhava dois ou três jogos, achava que tinha feito seu trabalho e, na partida seguinte, era mandada de volta para casa. Isso mudou."
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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