São Paulo, sábado, 02 de julho de 2011

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"Parceiros da Fifa tiveram de concorrer em licitação"

2014
Alemanha negociou regras no Mundial de 2006, afirma consultora


FILIPE COUTINHO
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

A Fifa tenta impor suas regras, mas é possível reagir e negociar. Nem sempre a palavra final é da entidade. É o que conta Henriette Wärgele, coordenadora de Munique na Copa da Alemanha e consultora na África do Sul.
Ela descreveu como, no Mundial de 2006, os patrocinadores tiveram de participar de licitações para prestar serviços aos governos. Lembrou ainda que os alemães fizeram pressão e evitaram o monopólio da cerveja patrocinadora da Fifa nas cidades.
A consultora deu palestra a representantes das 12 cidades-sedes em fórum em Cuiabá, nesta semana. Henriette presta serviços à GIZ, agência alemã para o desenvolvimento internacional, que pretende fazer parcerias no Brasil sem fins lucrativos.

Folha - Quais as principais dificuldades de cidades-sedes?
Henriette Wärgele - Tudo tem que estar perfeito, porque o mundo todo estará vendo. Mas não é o "seu" evento. As cidades colocam muito dinheiro e esforço. E o mais complicado é saber o que a cidade-sede vai fazer e o que a Fifa vai fazer.


Por que isso é complicado?
Porque é um evento da Fifa, mas é você quem põe o dinheiro e trabalha mais. Isso o obriga a saber negociar com a Fifa. É preciso que as cidades-sedes se unam, porque, como é sobre dinheiro, haverá problemas.


Quais as dificuldades que Munique teve?
Uma delas foi cultural. A Fifa tem um patrocinador de cerveja e queria que apenas eles vendessem bebida na Copa. Temos orgulho da nossa cerveja, e queriam que não bebêssemos a nossa própria cerveja. Tivemos de negociar por um ano para que liberassem, sem propaganda.


A Fifa tratou a Alemanha diferente da África e do Brasil?
A Fifa é uma entidade muito confiante. Eles chegam e dizem o que querem. Isso aconteceu na Alemanha e na África do Sul. Tudo vai depender de como você reage.


É comum haver conflitos de interesse entre Fifa e sedes?
Há um objetivo comum: todos querem a melhor Copa. A Fifa olha somente para o evento, e as cidades têm de se preocupar com o legado.


A palavra final tem que ser sempre da Fifa?
Nem tudo é negociável. Assinamos um contrato, mas muitos detalhes são negociáveis. Quanto mais cidades- -sedes juntas, mais poderosas elas ficam. Um exemplo: o povo alemão ficou furioso de gastar uma fortuna numa Copa e nem poder ir a um jogo. Então sugerimos criar grandes festas. A Fifa não só gostou da ideia como tomou para si e criou a Fifa Fun Fest.


A Folha mostrou que a Fifa pressiona as cidades-sedes a contratarem patrocinadores. Como foi na Alemanha?
Dissemos para os patrocinadores da Fifa para que participassem das licitações. Caso contrário, se quisessem realmente oferecer o serviço para a cidade-sede, que fizessem de graça então.


Por que as cidades-sedes enfrentam problemas contratuais com a Fifa?
O coordenador de uma cidade-sede às vezes não tem certos conhecimentos técnicos. Tudo começa como uma coisa geral, e depois chegam os detalhes, os contratos. Em Pretoria, por exemplo, queriam fazer oito Fifa Fun Fests. Não conseguiram fazer como queriam e tiveram de reduzir.


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