São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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Show "Feira das Nações" põe mulatas para dançar ao som de mariachis

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Pequim teve sua noite de South American Way. As sambistas da escola carioca Vila Isabel dançaram ao som de "Cielito Lindo" acompanhadas por bailarinos de tango e mariachis. Mas não houve gingado que fizesse as mulatas rebolarem ao mesmo compasso dos trinados mexicanos.
Em seu sonho de ser superpotência, a China conseguiu superar os Estados Unidos dos anos 40. Nem a Hollywood dos tempos de Carmen Miranda promoveu tamanho pastiche da cultura da América Latina.
O diretor artístico, o chinês Ding Wei, decidiu colocar todo mundo junto. "A América Latina é muito homogênea, dá para misturar tudo", disse. O governo chinês convidou artistas de Brasil, México, Argentina, Colômbia, Peru, México, Cuba e Bahamas para a Noite Latino-Americana
Em uma hora e meia de espetáculo, o Brasil acabou ficando apenas com cinco minutos de show, com direito a dois sambas, "Kizomba" e "Aquarela Brasileira". As apresentações mexicanas e colombianas levaram quase meia hora cada uma.
"Eles deram prioridade para os balés e só queriam música em espanhol", disse à Folha o diretor da Velha Guarda de Vila Isabel, Adilson Pereira. "Queríamos cantar Noel Rosa, Clara Nunes e Ary Barroso, mas foram vetados."
Noel Rosa teve sorte. A impressão que o espetáculo deixou é que os talentos da China devem estar absorvidos pela cerimônia de abertura da Olimpíada. O que sobrou foi de um amadorismo no nível da rede estatal CCTV.
O show foi dividido em cinco partes, com as cores olímpicas como tema. Todos os trechos eram apresentados ao som da cantora new age Enya.
A platéia chinesa, que contava com deputados comunistas, esteve sonolenta na maior parte do espetáculo, mesmo com os requebros inéditos das mulatas cariocas -o carnaval do Rio não é exibido na TV chinesa por causa da censura.
Quando o grupo peruano entoou com suas flautas andinas uma canção folclórica da Mongólia Interior, uma das Províncias chinesas, os 2.000 espectadores urraram de alegria e aplaudiram durante toda a apresentação.
A euforia se repetiu com o grupo de mariachis, formado por mexicanos que moram há anos na China, ao cantarem a canção local "Molihua".
Os cantores dublaram na maioria das apresentações. Uma das exceções foi o grupo argentino, que mostrou um Piazzolla eletrônico que destoou do clima "feira das nações" do governo chinês.
O público elogiou o show. Para a farmacêutica Zhang Xiuhang, foi ótimo. "Achei muito engraçado."


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