São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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entrevista

"Decisão de sediar Jogos exige debate"

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou ontem um estudo no qual detalha o impacto da Olimpíada sobre a economia nacional. O texto se debruça sobre os casos de Barcelona-92, Sydney-00 e Pequim-08. A pesquisa conclui, entrou outros aspectos, que "a decisão de direcionar um volume enorme de recursos para uma cidade pode significar a privação de outras e alimentar desigualdades regionais". Em entrevista à Folha, um dos autores do estudo, Marcelo Proni, economista e professor da Unicamp, sugere que haja um debate nacional mais amplo para legitimar a realização dos Jogos no Rio em 2016.

 

FOLHA - O Rio está preparado para sediar os Jogos sem que haja o mesmo estouro no orçamento que ocorreu no Pan?
MARCELO PRONI
- Para ganhar os Jogos, todas as cidades candidatas subestimam os gastos, mas sabem que vão gastar mais. Londres já está estourando o orçamento para os Jogos de 2012. O primeiro projeto apresentado não pode ser muito alto porque isso é desfavorável à candidatura. O COI [Comitê Olímpico Internacional] não pode explicitamente dizer que o Jogos são caros.

FOLHA - Atenas-2004 ampliou gastos com segurança e reduziu receitas com turismo. Como o Rio convive com problemas de segurança, não é provável que isso se repita?
PRONI
- O déficit de Atenas-2004 é quase igual aos gastos com segurança. A Olimpíada pode fortalecer a imagem de cidade segura para o turismo, mas acho que o Rio deve combater a violência independentemente dos Jogos.

FOLHA - Um estudo do banco Morgan Stanley afirma que o impacto dos Jogos no PIB nacional é menor se a cidade-sede se situa em um país grande. Sendo assim, é provável que a Rio-2016 não tenha grande influência na economia do país?
PRONI
- Sim, mas vai haver um grande impacto na economia local, assim como foi em Sydney-2000.

FOLHA - Seria uma irresponsabilidade do governo federal investir tanto para desenvolver uma economia local?
PRONI
- Não diria isso. O que legitima a decisão de sediar os Jogos não pode ser baseado só em cálculos econômicos. Talvez seja estratégico para o governo brasileiro, em termos de relações internacionais, sediar a Copa e a Olimpíada. Mas, como é um projeto muito grande, é necessário que a sociedade seja ouvida e que as decisões sejam transparentes.

FOLHA - Seria interessante para o Rio dividir com outras cidades próximas a realização de algumas competições?
PRONI
- Perante o COI, é um trunfo para o Rio concentrar espacialmente as competições. Mas, para ganhar apoio nacional, seria mais interessante que o Rio dividisse essa responsabilidade com outras cidades. Seria muito legal se a gente transformasse os Jogos em um evento do Brasil e não apenas do Rio.


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