São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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Salários altos sufocam contas de times paulistas

Gastos com futebol têm crescido até mais do que as receitas nos quatro grandes

Com atrasos de pagamento em 2006, Estado deixou de ser visto como porto seguro por empresários, mas o São Paulo ainda é exceção


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma desenfreada escalada de aumentos salariais nos quatro grandes paulistas provoca atrasos de pagamentos, aumento do endividamento e um abalo na credibilidade entre jogadores e empresários.
Neste milênio, as receitas de Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo cresceram rapidamente. Só os corintianos viram sua renda ser multiplicada por cinco, em quatro anos. Mas os salários incharam ainda mais.
De 2004 para 2005, os três times da capital verificam aumento no percentual gasto com futebol em relação à receita, segundo estudo da Casual Auditores. No Santos, o valor absoluto subiu, mas foi compensado pela receita extra com a venda da Robinho -R$ 72 milhões.
Neste ano, já foram observados novos saltos nas folhas.
"Está muito inflacionado. Esse mercado de futebol não é compatível com a realidade do país", analisa o presidente são-paulino Juvenal Juvêncio.
O São Paulo já reviu seu orçamento de 2006 para cima após fazer 14 contratações.
No Palmeiras, o presidente Affonso della Monica estima ter dobrado o gasto com salários em sua gestão, que era de R$ 1,1 milhão anteriormente.
O Corinthians estourou o orçamento: gasta R$ 6 milhões por mês, e recebe metade. E quer que a MSI cubra o rombo.
No Santos, metade do dinheiro de Robinho já tinha sido gasto no início do ano. Com os altos salários de Vanderlei Luxemburgo e Zé Roberto, conselheiros pressionam a diretoria para saber se restou algo.
Como conseqüência, surgiram os atrasos salariais.
"Quando você tinha propostas de cariocas e paulistas não pensava duas vezes, mandava seu jogador para São Paulo. Atualmente, a situação financeira dos clubes está bem nivelada, tirando o São Paulo", diz o empresário Wagner Ribeiro.
Outros empresários, que preferem não se identificar, fazem a mesma reclamação.
Palmeirenses e corintianos protestam publicamente por não receberem em dia. No Santos, ao menos um jogador cobra, reservadamente, luvas que deveria ter recebido.
O São Paulo tinha contas apertadas até junho, mas ficou aliviado depois das vendas de Lugano e Denílson.
Na época da Copa, três agentes de jogadores disseram que os salários atrasaram alguns dias, o que a diretoria atribui a entraves burocráticos.
Nada perto dos dois meses de direitos de imagem que o Corinthians atrasou diversas vezes neste ano. Também há luvas atrasadas, segundo atletas.
O empréstimo de Magrão a um clube japonês não foi pago, assim como a compra de Nilmar, que é credor do time.
No Palmeiras, o atacante Edmundo revelou atraso no último mês. Isso depois de o clube antecipar R$ 11 milhões com a Federação Paulista de Futebol.
"Investimos para ter um time forte. As pessoas não torcem para o Palmeiras para ir no clube dançar ou fazer natação", diz Affonso della Monica, sintetizando a filosofia que cria sufoco financeiro em São Paulo.


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