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JUCA KFOURI
A Copa do Mundo no Brasil
O sonho para 2014 é possível. Impossível é acreditar que possa ser realizado com
o pessoal que aí está
O BRASIL tem todas as condições de organizar uma Copa
do Mundo.
Desde que o faça com o tamanho
das suas pernas, sem querer mostrar
que é o que não é.
O Brasil não é, por exemplo, a Alemanha nem a França.
E a França só construiu um estádio novo para sediar a Copa de oito
poucos anos atrás, justamente o que
abrigou a final, em Saint-Denis.
Os Estados Unidos nem isso. O
país não ergueu nenhum novo estádio em 1994 e usou a infra-estrutura
já existente.
Falar em 12 novos estádios por
aqui é uma quase ofensa.
E dizer que seriam construídos
pela iniciativa privada, sem dinheiro
público, é uma mentira típica dos
cartolas que acenam com uma coisa
e depois que não dá certo, fato consumado, candidatura respaldada pelo governo, cobram da viúva para
que cumpra o compromisso assumido, em nome da imagem do país no
exterior.
Não tem sido outra, por sinal, a
operação que cerca o Pan-2007.
Em bom, e tosco, português, não
podemos comer mortadela e arrotar
caviar.
Que o Brasil pode, pode, e nem
mesmo o fato de não ser prioridade
deve derrubar a possibilidade, porque se o mundo esperasse pelas
prioridades, o homem ainda não teria chegado à lua.
O que não se pode é produzir mais
uma farra do boi com o seu, o meu, o
nosso pouco dinheirinho.
E para tanto será essencial que o
Comitê Organizador tenha credibilidade, gente séria, o que exclui, por
exemplo, 99,9% dos cartolas do futebol - e não me pergunte quem é o
0,1% porque eu, sinceramente, não
saberia responder.
Que Pelé seja o número 1 é mais
que natural, é quase obrigatório, seria o nome indicado por qualquer
um em qualquer esquina neste
mundo. Só que não por seus atributos gerenciais ou no trato com dinheiro. Apenas pela sua imagem,
muito mais forte do que a de Michel
Platini (o homem de 1998, na França) ou de Franz Beckenbauer (o da
Alemanha, em 2006).
Em torno dele, no entanto, seria
preciso ter, apenas como referência,
nomes como o de um Antônio Ermírio de Moraes, de um Olavo Setúbal.
Do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos (isso mesmo, até
esta benção será necessária), da Associação Brasileira de Imprensa. De
políticos com as marcas de Fernando Gabeira, Eduardo Suplicy.
Enfim, divaga-se aqui apenas para
se dar uma idéia da blindagem necessária para envolver o Brasil em
tal empreitada.
Porque não pode ser uma ação entre amigos, como os primeiros passos já apontam.
Tanto que o próprio convite a Pelé
foi feito de maneira nebulosa, quase
clandestina, ao se ocultar o verdadeiro motivo de sua ida à CBF, como
se ele lá fosse para "conhecer as instalações" da entidade.
E encobriu um espúrio acordo judicial em marcha entre ele e, pasme,
seu ex-sócio Hélio Viana, a quem
acusa de ter sido responsável por
formidável desfalque na empresa
que tinham. Viana participou da
reunião na CBF com Ricardo Teixeira, com quem hoje troca, literalmente, beijos na face quando se
cumprimentam, sinal evidente de
que seria um dos "parceiros" nesta
aventura da Copa do Mundo.
Se Pelé quer mais sarna para se coçar é um problema dele. Mas que
não o resolva à nossa custa.
Há, de fato, uma série de aspectos
positivos em torno da idéia de se organizar um evento de tal magnitude
e não podemos matar o sonho na
raiz. Ao mesmo tempo em que não
podemos fechar os olhos para o que
há de negativo em volta do nosso futebol, objeto de CPIs recentes e impune.
Separemos o joio do trigo.
blogdojuca@uol.com.br
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