São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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JUCA KFOURI

A Copa do Mundo no Brasil

O sonho para 2014 é possível. Impossível é acreditar que possa ser realizado com o pessoal que aí está

O BRASIL tem todas as condições de organizar uma Copa do Mundo.
Desde que o faça com o tamanho das suas pernas, sem querer mostrar que é o que não é. O Brasil não é, por exemplo, a Alemanha nem a França.
E a França só construiu um estádio novo para sediar a Copa de oito poucos anos atrás, justamente o que abrigou a final, em Saint-Denis. Os Estados Unidos nem isso. O país não ergueu nenhum novo estádio em 1994 e usou a infra-estrutura já existente.
Falar em 12 novos estádios por aqui é uma quase ofensa. E dizer que seriam construídos pela iniciativa privada, sem dinheiro público, é uma mentira típica dos cartolas que acenam com uma coisa e depois que não dá certo, fato consumado, candidatura respaldada pelo governo, cobram da viúva para que cumpra o compromisso assumido, em nome da imagem do país no exterior.
Não tem sido outra, por sinal, a operação que cerca o Pan-2007. Em bom, e tosco, português, não podemos comer mortadela e arrotar caviar.
Que o Brasil pode, pode, e nem mesmo o fato de não ser prioridade deve derrubar a possibilidade, porque se o mundo esperasse pelas prioridades, o homem ainda não teria chegado à lua. O que não se pode é produzir mais uma farra do boi com o seu, o meu, o nosso pouco dinheirinho.
E para tanto será essencial que o Comitê Organizador tenha credibilidade, gente séria, o que exclui, por exemplo, 99,9% dos cartolas do futebol - e não me pergunte quem é o 0,1% porque eu, sinceramente, não saberia responder.
Que Pelé seja o número 1 é mais que natural, é quase obrigatório, seria o nome indicado por qualquer um em qualquer esquina neste mundo. Só que não por seus atributos gerenciais ou no trato com dinheiro. Apenas pela sua imagem, muito mais forte do que a de Michel Platini (o homem de 1998, na França) ou de Franz Beckenbauer (o da Alemanha, em 2006).
Em torno dele, no entanto, seria preciso ter, apenas como referência, nomes como o de um Antônio Ermírio de Moraes, de um Olavo Setúbal.
Do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos (isso mesmo, até esta benção será necessária), da Associação Brasileira de Imprensa. De políticos com as marcas de Fernando Gabeira, Eduardo Suplicy.
Enfim, divaga-se aqui apenas para se dar uma idéia da blindagem necessária para envolver o Brasil em tal empreitada.
Porque não pode ser uma ação entre amigos, como os primeiros passos já apontam. Tanto que o próprio convite a Pelé foi feito de maneira nebulosa, quase clandestina, ao se ocultar o verdadeiro motivo de sua ida à CBF, como se ele lá fosse para "conhecer as instalações" da entidade.
E encobriu um espúrio acordo judicial em marcha entre ele e, pasme, seu ex-sócio Hélio Viana, a quem acusa de ter sido responsável por formidável desfalque na empresa que tinham. Viana participou da reunião na CBF com Ricardo Teixeira, com quem hoje troca, literalmente, beijos na face quando se cumprimentam, sinal evidente de que seria um dos "parceiros" nesta aventura da Copa do Mundo.
Se Pelé quer mais sarna para se coçar é um problema dele. Mas que não o resolva à nossa custa. Há, de fato, uma série de aspectos positivos em torno da idéia de se organizar um evento de tal magnitude e não podemos matar o sonho na raiz. Ao mesmo tempo em que não podemos fechar os olhos para o que há de negativo em volta do nosso futebol, objeto de CPIs recentes e impune.
Separemos o joio do trigo.


blogdojuca@uol.com.br

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