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Previdência acusa rombo e vê má-fé nas parcerias
Dívida dos clubes até outubro chega a R$ 218,5 milhões, afirma ministro
Maiores devedores são Fla (R$ 21,5 mi), Flu (R$ 10,2 mi) e Palmeiras (R$ 7,9 mi)
Firmas de licenciamento estariam sendo usadas para evitar contribuições ao INSS
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Os clubes do futebol brasileiro
devem R$ 218,5 milhões à Previdência Social, de acordo com estudo apresentado ontem pelo ministro Waldeck Ornélas aos senadores da CPI do Futebol. Em alguns casos, porém, os clubes parcelaram a dívida.
No topo da lista está o Flamengo, com débito de R$ 21,5 milhões, seguido pelo Fluminense,
com R$ 10,2 milhões, e pelo Palmeiras, que deve R$ 7,9 milhões.
Os clubes que ocupam as 24 primeiras posições no ranking dos
devedores respondem por R$ 89,2
milhões da dívida das agremiações de futebol. Deles, 13 são considerados grandes e fazem parte
do Clube dos 13, entidade que
reúne os 20 maiores times do país.
Os Estados do Rio de Janeiro e
de São Paulo respondem, respectivamente, por 32% e 29% do total
da dívida dos clubes.
Nos dois Estados, a dívida dos
clubes com a Previdência cresceu
no último ano. Em São Paulo, o
montante saltou de R$ 13,6 milhões em 1999 para R$ 34,5 milhões. No Rio, subiu de R$ 34,6
milhões para R$ 37,5 milhões.
O ministro, que falou ontem à
CPI do Futebol, instalada no Senado, defendeu mudanças na
contribuição dos clubes, protegidos pela legislação.
"No momento em que a gente
busca fortalecer o salário mínimo,
a redução da renúncia previdenciária dos clubes deve ser olhada
como alternativa", chegou a dizer
o ministro durante o depoimento
ontem pela manhã.
De acordo com a lei, a contribuição patronal dos clubes com a
Previdência é feita por meio do
pagamento de 5% da receita bruta
decorrente da renda dos jogos, espetáculos e dos contratos de patrocínio, licenciamento de marcas
e televisionamento. Outras empresas recolhem em média 20%
da despesa mensal com pessoal.
Segundo o estudo apresentado
ontem pelo ministro, 20 clubes de
futebol devem deixar de recolher
no próximo ano R$ 61,2 milhões.
A estimativa considerou quanto
eles pagariam se contribuíssem
com base nos gastos com pessoal.
No ranking da renúncia previdenciária, o líder é o Palmeiras,
com R$ 12,5 milhões.
Em segundo lugar está o São
Paulo, que vai deixar de recolher
R$ 11,3 milhões em 2001 por conta
do benefício dado aos clubes,
conforme a legislação em vigor.
Na distribuição das 20 maiores
renúncias por Estado, os clubes
de São Paulo respondem por
63%, já que o Corinthians ocupa a
quarta posição no ranking, com
R$ 4,2 milhões, atrás do Flamengo -R$ 7 milhões.
O estudo listou os principais
problemas dos clubes, federações
e confederações em relação à Previdência, como a criação de "clubes de fachada", que incluem em
suas folhas de pagamento funcionários de outras empresas e atividades não relacionadas ao esporte, entre elas bingos.
Ornélas também criticou sociedades como as firmadas entre o
fundo norte-americano HMTF e
os clubes Cruzeiro e Corinthians,
que criaram empresas licenciadas
a partir da união com o fundo.
"Eles fazem uma tabelinha usada para marcar contra a sociedade brasileira", disse o ministro.
Segundo ele, os clubes contratam funcionários que atuam na
empresa terceirizada, na qual é
sócio, recolhem apenas a contribuição dos segurados e não pagam a parcela patronal. Já o patrocinador, no caso o HMTF,
transfere seu recurso de patrocínio à empresa licenciada, eximindo-se de recolher os 5% da lei.
Em contrapartida, a empresa licenciada utiliza a folha de pagamento dos clubes e transfere a
eles, por meio da participação
acionária, os recursos recebidos
dos patrocinadores.
Ornélas pediu aos senadores da
CPI, presidida por Álvaro Dias
(PSDB-PR), que formulem, ao final dos trabalhos da comissão,
um projeto alterando a forma de
contribuição dos clubes.
Os senadores se comprometeram a propor a mudança. "Do jeito que está, o trabalhador brasileiro, inclusive os jogadores e outros
funcionários dos clubes, está perdendo o jogo", disse Ornélas.
Dias, no entanto, disse que a
vinculação do assunto ao aumento do mínimo não faz sentido. "Só
vamos concluir esses trabalhos no
ano que vem."
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
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