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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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DOPING

Proprietário da empresa acusada de fornecer THG para atletas de ponta gravou 15 discos e tocou com Herbie Hancock

Pivô de escândalo começou tocando baixo

ADALBERTO LEISTER FILHO
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos anos 70, Victor Conte, 53, ainda não tinha construído uma das mais bem-sucedidas carreiras na indústria de suplementos alimentares para atletas. Nem tinha se envolvido no mais turbulento escândalo de doping dos EUA.
Conte começou a carreira como músico. Baixista de bandas de jazz e soul, gravou 15 discos entre 1965 e 1983. Nesse período, seu maior feito foi tocar com o pianista Herbie Hancock, uma das principais figuras do jazz contemporâneo.
O futuro empresário começou no conjunto Common Ground. Posteriormente, passaria pelo Jump Street, antes de tocar na Pure Food and Drug Act (PFDA).
"Ele estava formando uma família. Então, depois que o grupo foi desfeito, se tornou um homem de negócios", recorda Freddy Roulette, guitarrista que tocou com Conte na PFDA.
O nome do grupo aludia à norma que regulamentou os remédios nos EUA. Em 1906, foi aprovada a Lei da Droga e do Alimento Puro (Pure Food and Drug Act, em inglês). A indústria farmacêutica foi contra a lei, que resultou na criação da FDA, a agência que regula esses produtos no país.
Conte, ironicamente, começou a atuar no ramo. Sua empresa, a Balco, fazia exames de urina e sangue em atletas e prescrevia produtos para compensar deficiências de vitaminas e minerais.
Fornecedor de suplementos para estrelas como os velocistas Tim Montgomery e Marion Jones, os jogadores de beisebol Barry Bonds e Jason Giambi e o pugilista Shane Mosley, Conte enfrentou problemas com doping pouco antes dos Jogos de Sydney-2000.
C.J. Hunter, do arremesso de peso, teve um índice mil vezes acima do permitido para nandrolona, um esteróide anabólico (grupo de substâncias que aumenta a força e a potência muscular).
"Ele tomou o mesmo suplemento que foi usado por Linford Christie e Merlene Ottey", afirmou Conte, defendendo o atleta.
Christie e Ottey, cujos exames haviam acusado excesso de nandrolona, foram punidos. Hunter pegou dois anos de suspensão.
Para Conte e a Balco, a turbulência havia apenas começado.
Há duas semanas, a agência antidoping dos EUA anunciou a descoberta de um novo esteróide, o THG (tetraidrogestrinona).
A empresa do ex-baixista, sediada em Burlingame (Califórnia), é apontada como fornecedora da droga, encontrada nos exames de Kevin Toth, Regina Jacobs, Dwain Chambers e John McEwen.
Esses competidores do atletismo são os primeiros nomes conhecidos. Nos EUA, chegou-se a falar que até 40 atletas teriam exames positivos. Conte se defendeu inicialmente dizendo que só vendia suplementos alimentares.
Depois, atribuiu a divulgação do THG a uma "intriga". "Para mim, isso é ciúme de técnicos e atletas. Todos usam produtos para melhorar a performance e estão sendo hipócritas", disse ele.
A explicação não convenceu a Justiça Federal de San Francisco, que investiga a companhia. Na quinta, Toth e Jacobs foram depor sobre suas relações com a Balco.
Acusado de sonegação fiscal e de vender esteróide sem autorização legal, o empresário sofreu mais um revés na última semana: a FDA considerou o THG ilegal.
Segundo a agência, cuja origem foi homenageada por Conte em sua carreira musical, o produto pode causar prejuízos à saúde.


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