São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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TOSTÃO

É hora de ousar



Quem quiser ser campeão precisa arriscar nesta reta final. Perder sem ousar fica ainda mais triste no futebol


EXISTE quase um consenso de que o árbitro errou ao anular o gol do Botafogo contra o São Paulo. Na partida entre Figueirense e Fluminense, que foi suspensa por falta de energia elétrica, o árbitro assinalou um pênalti claramente inexistente a favor do Fluminense, perdido por Washington.
No pênalti marcado a favor do Palmeiras, contra o Goiás, que a maioria achou correta, Kléber começou e provocou o abraço entre os dois jogadores. O árbitro foi na conversa do esperto atacante, que adora uma disputa corpo a corpo. Pelé cavou muitos pênaltis dessa maneira.
Há mil anos, vejo toda semana erros na marcação de faltas e de pênaltis. É preciso separar as falhas reais das virtuais, que só podemos enxergar pela televisão. Essas falhas não são erros; são uma limitação humana. O árbitro só pode marcar o que vê. Ele não pode adivinhar.
Bastou o jovem árbitro Leandro Vuaden não marcar um pênalti claro a favor do Fluminense, contra o Vitória, para ser suspenso. Por marcar menos faltas, com mais acertos que erros, e tentar corrigir antigos vícios e falhas dos árbitros brasileiros, Vuaden já vinha sendo duramente criticado.
O gol mal anulado do Botafogo não tira os méritos do São Paulo, uma equipe guerreira, séria, disciplinada, com muita força física e que não relaxa. Tudo isso tem a ver com Muricy. Mas fica mais fácil com a presença de alguns excelentes jogadores, como Hernanes. A limitação individual do São Paulo, de que Muricy fala tanto, é a mesma dos outros quatro times que disputam o título.
Como a seleção não tem um único excelente volante, se eu fosse Dunga, chamaria Hernanes e diria a ele o que João Saldanha me falou em 1969, logo que assumiu o comando da seleção: ""Você é o titular absoluto e não sai do time mesmo se jogar mal várias partidas seguidas". Isso me deu uma grande confiança. Foi o meu melhor momento na seleção.
Para Hernanes avançar com segurança, o São Paulo possui três bons zagueiros. Isso não significa que a seleção teria que jogar da mesma forma. Pode haver, no apoio, um revezamento entre os laterais e entre os laterais e os volantes, como faz o Cruzeiro. Isso também não é fácil. O treinador precisa ser competente.
Contra o Grêmio, muitos queriam que Adilson Batista colocasse um terceiro zagueiro para substituir Henrique, um volante mais marcador. O técnico pôs o habilidoso Fernandinho. O time trocou mais passes e foi mais criativo. Ficou apenas um típico volante, Marquinhos Paraná, que está cada vez melhor na armação das jogadas. Ele é um dos destaques da equipe e um dos melhores volantes do campeonato.
Contra o Goiás, o Palmeiras arriscou mais ao trocar um terceiro zagueiro por um armador. Só o Flamengo tem atuado com três zagueiros, além de um volante quase zagueiro (Toró).
Nesta reta final, em que a vitória se tornou muito mais importante, na parte de cima e na de baixo da tabela, os times arriscam mais. O futebol fica mais bonito, emocionante e eficiente. A ousadia pode ser também uma postura pragmática. Já imaginou se os times jogassem assim desde o início do campeonato?
Além disso, a derrota, quando não se ousa, é muito mais triste. Deixa um sentimento, uma culpa, de que não se tentou fazer algo mais.


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