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Corrida pode exigir atestado
Análise do Ministério da Saúde sugere obrigatoriedade de documento em inscrição em prova de rua
Confederação de atletismo, porém, prevê dificuldade com logística e aposta na eficácia de uma campanha nacional de conscientização
EDUARDO OHATA
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na esteira das mortes ocorridas durante ou após corridas de
rua -a última delas anteontem,
em Goiânia-, um dos consultores do Ministério da Saúde
sugeriu incluir em uma portaria a obrigatoriedade da apresentação de atestado médico
para quem for disputar esse tipo de competição.
O tema central do documento, que trata de morte súbita, é
tornar obrigatória a presença
de um ou mais desfibriladores
durante a realização de eventos
de grande concentração, como
comícios, shows, corridas etc.
O queniano Barnabas Kipkoech, 28, que disputava a Corrida dos Carteiros anteontem,
morreu após parada cardiorrespiratória na prova. Já a última edição da Maratona de Nova York, vencida pelo brasileiro
Marilson Gomes dos Santos,
amargou três óbitos.
""Alguns critérios mínimos
têm que ser obedecidos para
uma pessoa ser liberada para o
esporte competitivo. Vou sugerir a exigência de atestado médico na inscrição ", diz Sérgio
Timerman, consultor da área
de urgência e emergência do
Ministério da Saúde e diretor
do Centro de Treinamento do
Incor (Instituto do Coração).
A iniciativa tem seus céticos.
""Já houve essa exigência [do
atestado]. Mas hoje, com o recurso da inscrição via internet,
como você poderá pedir, por
exemplo, o atestado na hora da
inscrição da São Silvestre para
alguém conectado de Manaus
ou até de fora do país?", diz
Martinho Nobre dos Santos,
secretário-geral da Confederação Brasileira de Atletismo.
""E não se esqueça que atestados podem ser falsificados. Eu
acho que uma campanha de esclarecimento seria mais eficaz,
especialmente voltada ao pessoal de idade que ouve que caminhar, correr faz bem e sai por
aí sem antes fazer teste ergométrico", completa.
O argumento do dirigente
encontra eco entre treinadores
de atletismo, preocupados com
o boom de provas de rua.
""Há muita gente começando
a correr por conta própria. Pega
um treino numa revista e sai fazendo", critica Nelson Evêncio,
técnico de atletismo. ""A corrida
é vendida como algo simples,
natural. Correr é natural, treinar corrida é uma outra coisa."
O ""componente comercial" é
responsabilizado em grande
parte pelos casos de problemas
cardíacos relacionados às provas de rua por Nabil Ghorayeb,
cardiologista e presidente do
Grupo de Estudo de Cardiologia do Esporte da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. ""Aumentou muito o número de
praticantes, e não podemos esquecer o componente comercial. É preciso haver uma mensagem de cuidado", diz ele.
Segundo o médico, o envolvimento com a corrida ocorre às
vezes de forma tão rápida que o
praticante abre mão dos exames. Ou até realiza os testes,
mas não retorna ao médico.
"Eles lêem que está tudo
"normal". Só que às vezes podem existir detalhes que mostrem perigo. Maratona ou corrida de rua não mata, fora o caso de desidratação extrema ou
fato metabólico extremo. O que
mata é uma doença não diagnosticada ou subestimada pelos corredores", diz Ghorayeb.
Outra sugestão ligada à prevenção de incidentes fatais, dada por Timerman, é a preparação dos profissionais que atendam quem sofre problemas
cardíacos durante as provas.
""Não precisa ser médico, mas
alguém que inicie os procedimentos até o médico chegar."
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