São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Corrida pode exigir atestado

Análise do Ministério da Saúde sugere obrigatoriedade de documento em inscrição em prova de rua

Confederação de atletismo, porém, prevê dificuldade com logística e aposta na eficácia de uma campanha nacional de conscientização


EDUARDO OHATA
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na esteira das mortes ocorridas durante ou após corridas de rua -a última delas anteontem, em Goiânia-, um dos consultores do Ministério da Saúde sugeriu incluir em uma portaria a obrigatoriedade da apresentação de atestado médico para quem for disputar esse tipo de competição.
O tema central do documento, que trata de morte súbita, é tornar obrigatória a presença de um ou mais desfibriladores durante a realização de eventos de grande concentração, como comícios, shows, corridas etc.
O queniano Barnabas Kipkoech, 28, que disputava a Corrida dos Carteiros anteontem, morreu após parada cardiorrespiratória na prova. Já a última edição da Maratona de Nova York, vencida pelo brasileiro Marilson Gomes dos Santos, amargou três óbitos.
""Alguns critérios mínimos têm que ser obedecidos para uma pessoa ser liberada para o esporte competitivo. Vou sugerir a exigência de atestado médico na inscrição ", diz Sérgio Timerman, consultor da área de urgência e emergência do Ministério da Saúde e diretor do Centro de Treinamento do Incor (Instituto do Coração).
A iniciativa tem seus céticos. ""Já houve essa exigência [do atestado]. Mas hoje, com o recurso da inscrição via internet, como você poderá pedir, por exemplo, o atestado na hora da inscrição da São Silvestre para alguém conectado de Manaus ou até de fora do país?", diz Martinho Nobre dos Santos, secretário-geral da Confederação Brasileira de Atletismo.
""E não se esqueça que atestados podem ser falsificados. Eu acho que uma campanha de esclarecimento seria mais eficaz, especialmente voltada ao pessoal de idade que ouve que caminhar, correr faz bem e sai por aí sem antes fazer teste ergométrico", completa.
O argumento do dirigente encontra eco entre treinadores de atletismo, preocupados com o boom de provas de rua.
""Há muita gente começando a correr por conta própria. Pega um treino numa revista e sai fazendo", critica Nelson Evêncio, técnico de atletismo. ""A corrida é vendida como algo simples, natural. Correr é natural, treinar corrida é uma outra coisa."
O ""componente comercial" é responsabilizado em grande parte pelos casos de problemas cardíacos relacionados às provas de rua por Nabil Ghorayeb, cardiologista e presidente do Grupo de Estudo de Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia. ""Aumentou muito o número de praticantes, e não podemos esquecer o componente comercial. É preciso haver uma mensagem de cuidado", diz ele.
Segundo o médico, o envolvimento com a corrida ocorre às vezes de forma tão rápida que o praticante abre mão dos exames. Ou até realiza os testes, mas não retorna ao médico.
"Eles lêem que está tudo "normal". Só que às vezes podem existir detalhes que mostrem perigo. Maratona ou corrida de rua não mata, fora o caso de desidratação extrema ou fato metabólico extremo. O que mata é uma doença não diagnosticada ou subestimada pelos corredores", diz Ghorayeb.
Outra sugestão ligada à prevenção de incidentes fatais, dada por Timerman, é a preparação dos profissionais que atendam quem sofre problemas cardíacos durante as provas. ""Não precisa ser médico, mas alguém que inicie os procedimentos até o médico chegar."


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