São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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FUTEBOL

Ataque x Defesa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mérito do ataque é muito mais explorado e decantado do que o mérito da defesa.
A Copa da África e a Copa Ouro, duas competições continentais de seleções que reservaram jogos decisivos para este final de semana, são bons exemplos para a afirmação do primeiro parágrafo.
Os dois torneios registraram, até os jogos de sábado, média inferior a dois gols por jogo. O primeiro raciocínio para muitos é de que as disputas estão sendo fracas, de que os times que estão jogando são inofensivos, de que os ataques das equipes de África e Concacaf são pífios e por aí vai. Esse é um pensamento rasteiro, que faz uma ligação imediata da média de gols por jogo ao bom nível e ao sucesso de um torneio.
Quando as equipes africanas, por exemplo, levam uma enxurrada de gols, fala-se que os jogadores do continente são ingênuos, que eles não sabem se defender, que são ""bobos" ainda no futebol.
Quando a Copa da África mostra uma média de 1,45 gol por jogo (foi a média registrada na primeira fase do torneio), a notícia explorada é a de que os africanos desaprenderam a atacar, não a de que aprenderam a se defender.
A Copa Ouro, que seria concluída ontem com uma final interessante entre a Costa Rica e os EUA, teve uma média, até os jogos de ontem, de 1,88 gol por partida. Os brasileiros que olharem essa média de gols e acreditarem que os costa-riquenhos, adversários na Copa, não possuem ataque deverão ser surpreendidos em breve pela dupla Fonseca e Wanchope.
As eliminatórias da Oceania registraram média absurda de gols (cerca de oito por partida). Esse número estrondoso não colocou um representante da região no Mundial. Mas foi mais um exemplo de que chuva de gols ocorrem especialmente quando há fracas equipes envolvidas na disputa.
No Brasil, a novata Liga Rio-São Paulo já ganhou elogios pela boa média de quatro gols por jogo após três rodadas. Acontece que essa boa média teve a boa ajuda de equipes içadas à competição interestadual neste ano, como o América, que apanhou de 8 a 0, o Americano, que levou 11 gols, ou o Etti Jundiaí, que já tomou nove.
Infelizmente, a Copa da África e a Copa Ouro não estão sendo mostradas para boa parte do mundo, inclusive para o Brasil. A análise que vem sendo feita dos times que estão nessas competições é tirada basicamente dos placares dos jogos. Agora imagine se o resto do mundo tirar uma análise da seleção brasileira só pelo placar de 6 a 0 contra a Bolívia.
No amistoso do time de Luiz Felipe Scolari, a defesa teve muito mais mérito do que o ataque, especialmente no setor ofensivo -apenas um atacante marcou.
A ESPN Brasil marcou um golaço quando exibiu a Copa da África de 1996, torneio que marcou a volta da África do Sul. Pena que o gol não foi repetido neste ano.
Seja no ataque, com Diouf (o ""Serial Killer" de Senegal), El Said (o ""Rivaldo" do Egito), Amoah (o ""Klinsmann" de Gana) ou Wreh (ídolo liberiano do badalado técnico Arsene Wenger), ou na defesa, com Taribo West (o ""Pastor" da Nigéria), Badra (tunisiano que brilhou em Mundial e Olimpíada), Diarra (jogador de Mali que está entre os melhores do Campeonato Alemão) ou Sichone (herói de Zâmbia e do Colonia), a África hoje esbanja talentos, como a Concacaf também.
A briga entre ataque e defesa continua, mas mais equilibrada.

Ataque
Nesta quinta, pelas quartas-de-final da Copa da Holanda, o Ajax pega o Groningen, e o Ajax B, o Telstar Velsen. Não é só na Copa São Paulo júnior que o mesmo clube disputa com dois times.

Defesa
A Libertadores larga nesta terça com o pé no freio, financeiramente falando, e com a cabeça no freio, tecnicamente falando. A bola oficial do torneio, que fica prateada quando rola, é menos contundente no cabeceio, por exemplo, para a proteção dos atletas.

Ataque
O camaronês Issa Hayatou acena para a presidência da Fifa.

Defesa
Já o sul-coreano Chung Mong-joon, outro potencial candidato contra o suíço Joseph Blatter, continua quieto. Por enquanto.

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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