São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002 |
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Numa gelada, por acaso
TATIANA CUNHA DA REPORTAGEM LOCAL Dos 11 atletas brasileiros que participarão dos Jogos Olímpicos de Inverno, que começam na próxima sexta-feira, a maioria estará em Salt Lake City por mero acaso. Muitos deles não são atletas profissionais. E os que são praticam esportes totalmente diferentes dos que disputarão nos EUA. A carioca Franziska Becskehazy é o melhor exemplo de como o acaso deu um empurrãozinho em sua carreira de atleta "gelada". Radicada na Noruega desde que se casou, Franziska engravidou e acabou engordando muito durante a gestação. A saída encontrada para perder peso foi começar a praticar o cross-country, uma espécie de caminhada na neve sobre esquis. "Aqui na Noruega o cross-country é como o futebol no Brasil", explica Franziska. Empolgada com os resultados -ela começou a treinar apenas em fevereiro do ano passado-, a carioca começou a se dedicar mais ao esporte e aumentou sua carga de treinamentos, até que um dia, durante uma conversa com amigos, surgiu a idéia de participar dos Jogos Olímpicos. "Comecei a investigar para saber o que seria necessário para ir a Salt Lake. Liguei para o COI [Comitê Olímpico Internacional" e me filiei à ABSS [Associação Brasileira de Ski e Snowboard". Aí só tive que completar cinco provas oficiais para garantir a vaga", completa Franziska, que trabalha como intérprete de conferências. Nascido na Filadélfia (EUA) e fluente em alemão, norueguês, inglês, espanhol, francês, italiano, grego, japonês, sueco, dinamarquês e holandês, Alexander Penna, filho de um brasileiro e de uma grega, também começou no cross-country por mero acaso. "Eu me mudei para a Noruega por vários motivos. Além de querer estudar, eu também adoro o frio e queria ter contato com a natureza e com os esportes de inverno. A primeira vez que pratiquei o cross-country foi com um amigo. Caí e fiquei com o olho roxo", diz Penna, em seu português pouco fluente -ele morou no Brasil apenas dos dois aos cinco anos. Depois do tombo, em fevereiro do ano passado, Penna, que chegou a ser aprovado em um teste para trabalhar no Departamento de Estado dos EUA, começou a se dedicar cada vez mais ao esporte. "Para mim é como uma meditação. Tudo é branco", explica. Foi assim que ele percebeu que tinha habilidade para o esporte e, seguindo os conselhos de um amigo, resolveu ligar para o escritório do COI em Lausanne, na Suíça, para saber o que seria necessário para participar dos Jogos. Mas, se para boa parte da delegação brasileira, a presença em Salt Lake só foi garantida depois de correr atrás do COI, do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e de resultados, para outra as coisas foram um pouco diferentes. Foi o caso dos atletas do bobsled. Acostumados às competições de decatlo e atletismo, os integrantes da equipe brasileira ficaram assustados com o primeiro convite para praticar o esporte. "Em 2000 o Eric [Maleson, fundador da Associação Brasileira de Bobsled, Squeleton e Luge" me telefonou, perguntou se eu já tinha assistido ao filme "Jamaica Abaixo de Zero" e me convidou para treinar. Na hora eu não acreditei, achei estranho, não sabia se era mesmo verdade", afirma Rodrigo Palladino, cuja especialidade são os 110 m com barreiras. Para Edson Bindilatti, outro integrante do time, o maior problema foi convencer sua mãe de que o esporte era seguro -o trenó para quatro pessoas pode chegar a 140 km/h na descida. "Como o Eric me ligou e falou do filme, eu aluguei para assistir com a minha mãe, porque eu nunca tinha visto o bobsled. Nós ficamos um pouco assustados com o que vimos, mas minha mãe acabou cedendo aos poucos", diz Bindilatti, campeão sul-americano de decatlo em 2001. Até mesmo Maleson teve um começo inesperado no esporte. "Eu estudava nos EUA e praticava esqui e snowboard. Como um amigo meu sabia que eu era apaixonado por automobilismo, sugeriu que eu tentasse o bobsled. Foi paixão à primeira vista", diz. "No começo eu encarei como uma brincadeira, mas acabei me saindo bem nos treinos e comecei a levar o esporte a sério", conta. Mais ou menos a mesma coisa aconteceu com Ricardo Raschini. Ele se mudou para os EUA para estudar e se apaixonou por esportes de inverno. Treinou esqui, snowboard e bobsled. Até que, em 1997, experimentou o luge, uma espécie de trenó em que o competidor desce deitado, com as costas para o chão, e nunca mais deixou de praticar o esporte. Talvez por culpa de todos esses acasos, esta será a maior delegação brasileira que já participou dos Jogos Olímpicos de Inverno. Texto Anterior: Futebol: Marcelinho Paraíba é pego dirigindo alcoolizado Próximo Texto: Frases Índice |
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