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Bola redesenha mapa do Amazonas
Clubes de Manaus formam parcerias com prefeituras de cidades do interior para sobreviverem nos campos do Estado
Municípios chegam a arcar com até 80% das folhas de pagamento; dirigente vê acordos como reflexo dos "dois Brasis" do futebol
JULYANA TRAVAGLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A sede é no número 20 da rua
do Areal, no bairro do Aleixo,
em Manaus. Mas essa nem parece ser mais a casa do Holanda, clube que venceu a segunda
divisão do Campeonato Amazonense do ano passado.
Sem recursos financeiros para poder se manter no futebol
profissional do Estado, o clube
acrescentou um outro nome ao
original. Virou, desde o início
de 2007, Holanda do Rio Preto
da Eva, adotando o nome do
município que fica a 80 km da
capital amazonense.
Mas o Holanda não é a única
agremiação pequena de Manaus nessa situação.
Cepe e Fast também usaram
as prefeituras do interior do
Estado como tábua de salvação
para o futebol. São agora Cepe/Iranduba e Fast/Itacoatiara
(nome que usa há dois anos).
Rio Negro e Libermorro ensaiaram acordo com a prefeitura de Careiro Castanho (102 km
de Manaus), sem evolução.
"Só arrumam patrocínio os
clubes grandes, como o Nacional e o São Raimundo", disse
Leão Braúna, vice-presidente
do Holanda, que comemora os
frutos da parceria com a cidade
de Rio Preto da Eva. Na estréia
como time profissional, venceu
a Série B e conseguiu, com esse
feito, subir no Estadual.
"Quando pensamos nisso, falei para o presidente [Paulo Radín] que poderíamos procurar
as prefeituras de Altazes ou Rio
Preto da Eva. Sem o apoio da
prefeitura não teríamos conseguido", completou Braúna.
No esquema de parcerias, os
municípios chegam a bancar
até 80% da folha de pagamento
das agremiações, além de terem os jogos em seus estádios.
Em troca, podem estampar
seus nomes nos uniformes, divulgando as cidades.
"Nosso objetivo é trazer jogadores do interior do Estado para o clube também e divulgar
mais o nosso nome. Fazer futebol custa muito caro, aí lembramos do prefeito de Iranduba
[Nonato Lopes]", comentou
Bionar das Graças, diretor de
futebol do Cepe/Iranduba, que
também conseguiu acesso à Série A do Amazonense em 2007.
Para jogar em Iranduba, o
Cepe precisa atravessar o rio
Negro em barcos, pois a cidade
fica na outra margem, a 22 km
da capital amazonense e verdadeira casa do clube.
Para Thales Verçosa, vice-presidente da Federação Amazonense de Futebol, a mudança
dos clubes da capital para o interior é reflexo da falta de interesse de indústrias da região
em patrocinar as agremiações.
"Apesar de termos um parque industrial muito grande, as
empresas não fazem parcerias
com os nossos clubes por uma
série de motivos. O principal
deles é o fato de os produtos
que fabricam não terem mercado aqui", explicou o cartola,
usando como exemplo a LG,
multinacional de eletroeletrônicos que tem fábrica na capital
amazonense e que no Brasil patrocina o São Paulo.
O contrato do time paulista
com a LG gira em torno de R$
17,5 milhões anuais. A prefeitura de Iranduba, por exemplo,
banca uma folha de pagamentos de R$ 35 mil do Cepe.
"Essas empresas preferem os
clubes do sul do Brasil. Os nossos clubes precisam de patrocinadores, as prefeituras precisam de visibilidade, e o campeonato veicula a marca das cidades", acrescentou Verçosa.
Apesar de não contar com o
apoio da industria local, Verçosa prefere não lamentar a situação pela qual os clubes manauenses passam. "São dois "Brasis" distintos, um do Norte
e outro do Sul. Não acho lamentável, mas sim uma opção."
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