São Paulo, segunda, 3 de março de 1997.

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JUCA KFOURI
Ah, os números!

Tão frios e tão sábios!
Primeiro, no sábado, nesta Folha, os números mostraram que o fim da parada técnica aumentou a média de gols no Campeonato Paulista.
Melhor mesmo só os dados do Datafolha publicados ontem, fecho de ouro da primeira semana da série
País do Futebol.
A pesquisa foi feita, vale frisar, em 31 de janeiro, sem nenhuma influência, portanto, da série. E o que revela é demonstração de como a torcida está adiante da cartolagem.
Nem a série nem a pesquisa surpreenderam, só ratificaram com fatos o que há décadas vem sendo mostrado aqui e ali sem que os responsáveis se mexam -até porque nada menos que 82% dos paulistanos sabem que existe desvio de dinheiro em nosso futebol.
Se daí decorre o imobilismo que impede que tenhamos aqui uma NBA do futebol, todos os demais números da pesquisa explicam por que nossos estádios vivem às moscas e nossos ídolos na Europa.
A Copa do Brasil, única contribuição da atual gestão da CBF -apesar da imoralidade dos convites que a caracterizam-, desperta mais interesse até que o Campeonato Brasileiro, certamente porque sua fórmula não tem mistério.
Já o Campeonato Brasileiro, que nem merece o nome porque está longe de ser um campeonato nacional de verdade, ganha com folga do Campeonato Paulista, algo que, enfim, não precisava ser pesquisado, tão baixas têm sido as médias de público do Estadual.
De quebra, a opinião pública aprova em peso o fim do passe, acha que os clubes devem pagar impostos, é favorável à transformação dos clubes em empresas e à profissionalização dos dirigentes.
A maioria composta por 60% responsabiliza os cartolas, dos clubes, federações e CBF pela má administração do futebol brasileiro e se 23% ainda acham os dirigentes ótimos ou bons, 24% os têm na conta de ruins ou péssimos, o que explica seus guarda-costas.
E agora?
Agora, nada. A cartolagem continuará resistindo para não perder a mamata, e o torcedor continuará protestando passivamente, ausente dos estádios.
Até que o capitalismo atropele essa gente e acabe com a pirataria.
E até que o Estado brasileiro cumpra o seu papel, ao dar ao país a legislação adequada e ao parar de subsidiar o futebol -além de investigar, julgar e punir os sonegadores.

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